Arroz sertanejo
Embrapa lança BRS 901,
cultivar de arroz vermelho
para plantar no Nordeste.
Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, além de parte de Pernambuco, Espírito Santo e Minas Gerais, têm em comum a produção de um tipo de arroz vermelho que chegou ao Brasil com os colonizadores portugueses há pelo menos quatro séculos. Diferente do grão de mesmo nome que é praga nas lavouras irrigadas do Sul do Brasil e tem presença indesejada, este vermelho é muito apreciado e sua produção traz fartura às roças e pequenas propriedades de cultivo no Nordeste. Nas feiras, armazéns e supermercados, é produto de valor agregado e chega a valer três vezes o preço do grão branco.
Por isso, foi recebida com entusiasmo a notícia do lançamento da primeira variedade de arroz vermelho do Brasil, a partir de cruzamento artificial, voltada à produção nordestina. A BRS 901 foi desenvolvida pela Embrapa. Antes disso, a Epagri, de Santa Catarina, já havia lançado uma cultivar, mas para o sistema de produção irrigado do Sul e Sudeste: a SCS 119 Rubi. O IAC, de São Paulo, chegou a dar os primeiros passos para lançar uma cultivar, no entanto, o material genético ficou restrito a uma empresa privada do interior daquele estado e também é dirigido à produção em sistema irrigado.
A variedade BRS 901 é indicada ao cultivo no Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. Trata-se de uma opção para atender nichos de mercado, podendo compor pratos típicos da região e receitas da alta gastronomia, segundo o pesquisador José Almeida Pereira, da Embrapa Meio-Norte, do Piauí. Pereira pesquisa o grão vermelho nordestino, também chamado “arroz da terra” ou “arroz de Veneza”, há três décadas e tomou para si a responsabilidade de coletar e selecionar material genético, resgatar a história, entender e estudar o manejo. Foi dele a iniciativa de propor junto às equipes multidisciplinares da Embrapa o desenvolvimento de cultivares e de técnicas de cultivo para fortalecer a produção nordestina.
SABOR REGIONAL
A produção de arroz vermelho no Brasil concentra-se nos estados do Nordeste, mas chega às roças de subsistência de Minas Gerais e Espírito Santo. O sistema de cultivo usa técnicas tradicionais e até rudimentares em áreas úmidas. A produção, nos raros anos sem escassez de chuvas, é de cerca de 10 mil toneladas, um terço do volume produzido há 50 anos. A produtividade é baixa pela falta de insumos, de manejo adequado e, em especial, pela limitação de água.
As cultivares utilizadas foram selecionadas e salvas safra após safra, século após século, pelos próprios agricultores e apresentam porte alto e folhas longas e são decumbentes (inclinadas). As plantas mostram baixo potencial produtivo, alta suscetibilidade ao acamamento e pequeno rendimento de grãos inteiros. “Foi nos fatores de produção, qualidade e estrutura de planta e maior resistência à seca que nós concentramos as atenções para buscar uma variedade comercial e um modelo de manejo que dê melhor resposta ao agricultor”, avisa José Almeida Pereira, da Embrapa.