Arroz vermelho, o inferno do produtor

 Arroz vermelho, o inferno do produtor

Valmir Menezes, do Irga, uma das maiores autoridades em arroz vermelho do Brasil

A cada sete safras, uma é perdida pela ocorrência do vermelho

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O arroz vermelho é considerado a invasora que mais causa danos à lavoura orizícola gaúcha pela redução da produtividade, depreciação do produto final, dificuldade de controle, extensão e alto grau de infestação das áreas cultivadas. Além disso, ele provoca elevação do custo de produção e deprecia o valor comercial das áreas plantadas com arroz, segundo dados levantados pelo pesquisador do Irga Valmir Menezes, uma das principais autoridades brasileiras no assunto.

A infestação, segundo o mais recente trabalho de levantamento realizado pelo Irga, chega a 15% da lavoura gaúcha. Ou seja: de cada sete safras, uma é perdida por causa da invasora. Esta situação é tão grave que, em determinadas regiões, muitas lavouras não são mais cultivadas no sistema convencional devido ao grau elevado de infestação. As perdas diretas são significativas.

Todos os anos o Governo do Rio Grande do Sul deixa de arrecadar quase 32 milhões de dólares em ICMS e os produtores perdem aproximadamente 266 milhões de dólares. Caso sejam consideradas as perdas indiretas, como a depreciação comercial do produto e a geração de empregos no beneficiamento e comercialização, as cifras se elevam e podem ultrapassar os 20%. Assim, a perda resultante pode chegar a uma safra a cada cinco anos.

 

A reação tecnológica

Uma interferência das espécies cultivadas sobre as plantas daninhas é um dos métodos de controle utilizado pelos produtores. Isto pode ser conseguido através da elevação da densidade e/ou pela melhor distribuição espacial das plantas, que ocorre ao se diminuir o espaçamento entre linhas. Outro fator cultural que afeta esta relação de competição é a habilidade diferenciada e cada cultivar de arroz em competir com o arroz vermelho. Geralmente, cultivares com maior desenvolvimento inicial e com maior estatura de plantas são mas competitivas que as cultivares de menor rendimento, desenvolvimento inicial lento e de estatura menor.

Questão básica 

Por que tem tanto vermelho no RS?

As principais causas que contribuíram para a infestação de arroz vermelho em larga escala nas lavouras gaúchas, segundo Valmir Menezes, do Irga, foram:

1. Diminuição do período de pousio, com a intensificação do uso do solo 

2. O sistema de posse da terra, onde cerca de 70% da área é cultivada por arrendatários 

3. A falta de consciência de produtores, técnicos e autoridades sobre as repercussões negativas do problema, principalmente porque ainda se utiliza sementes de arroz contaminadas com arroz vermelho 

4. O uso de cultivares do tipo filipino, com ciclo médio 

5. O atraso na colheita, pois quando esta se processa as sementes de arroz vermelho já caíram no solo na sua quase totalidade 

6. O Banco Central desobrigou o uso de sementes fiscalizadas para quem utilizasse crédito bancário

Perfil 

O diabo da orizicultura

O arroz vermelho é classificado como pertencente à mesma espécie do arroz cultivado, Oryza sativa L., cuja coloração do pericarpo do grão é avermelhada.

Trabalhos de pesquisa desenvolvidos no Japão registram que, desde o ano 700 d.C., arroz com pericarpo vermelho, tanto do grupo japônico como do grupo índico, foi cultivado em quase todas as áreas desse país.

Entretanto, por problemas de baixo rendimento de grãos e de sabor, estes tipos de arroz deixaram de ser cultivados na segunda metade do século 19 e quase desapareceram após a Segunda Guerra Mundial.

Apesar disso, ainda hoje, biotipos de arroz com pericarpo vermelho são cultivados em algumas partes do mundo, como no sul da China e no sudeste da Ásia, sendo consumidos como arroz na forma tradicional ou em sopas especiais, bolos ou utilizados em confeitarias para produção de bolachas.

Segundo o pesquisador japonês Ogawa, referência mundial no assunto, há dúvidas se os atuais biotipos de arroz vermelho com características de planta daninha são descendentes dos biotipos de arroz vermelho que foram cultivados no passado ou se foram mudados através de cruzamentos naturais com o arroz cultivado por um longo período de tempo.

A população de arroz vermelho de uma determinada região normalmente é constituída por vários biotipos de plantas com grande variação em termos de características de planta e de grão.

Pode ser observada uma ampla variação na tonalidade de cor de casca dos grãos entre as cores amarelo-palha e preta. A mesma observação é válida para outras características, como dimensões de grãos e presença ou não de aristas.

A existência de diversos biotipos de arroz vermelho pode ser explicada pela ocorrência de cruzamentos naturais entre os diferentes biotipos de arroz vermelho e o arroz cultivado.

A freqüência de cruzamentos naturais de arroz vermelho com as cultivares de arroz varia de um a 52%. Ela é maior se houver semelhança de ciclo entre as cultivares e os biotipos de arroz vermelho.

 

Liquidando os vermelhos

Como a biotecnologia pretende acabar com a principal praga do arroz (e o risco de ser derrotada por ela):

Como é hoje

1. O arroz vermelho, variedade da mesma espécie de arroz comum (Oryza sativa), infesta 95% dessa cultura no Rio Grande do Sul.
A planta invasora provoca perda de 1,3 milhão em toneladas (266 milhões de dólares ao ano).

2. A semente sobrevive enterrada no solo e germina junto com o arroz. Nenhum herbicida pode ser usado contra a praga, porque mataria também a planta boa.

O que pode dar errado

1. Plantas da mesma espécie, arroz vermelho e branco podem se cruzar. A troca de pólen é rara, só ocorreria em 0,5% dos casos. 

2. Se o arroz branco geneticamente modificado fertilizar o arroz vermelho, a resistência ao glufosianato de amônia pode se transferir à planta daninha. 

3. Surge um arroz vermelho que não pode ser morto com o novo herbicida. 

4. Sementes de arroz vermelho resistente podem ser vendidas pelo agricultor junto com sementes de arroz branco, espalhando a superpraga por outros arrozais. 

5. Não está descartada a hipótese de que o gene da bactéria acabe chegando a outras espécies silvestres, como a Oryza glumaepatula da Amazônia.

Como ficaria

A biotecnologia retirou de uma bactéria de solo (Streptomyces higroscopicus) um gene que impede a ação do herbicida glufosianato de amônia (Liberty).

O gene foi introduzido no arroz branco, que ganha assim resistência ao Liberty. A planta geneticamente modificada ganhou o nome de Liberty Link.

O agricultor pode pulverizar a lavoura mesmo depois de brotar o arroz, branco ou vermelho. Morrem só as plantas invasoras.

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