Arroz volta a sofrer com a seca na Argentina
(Por Planeta Arroz) À difícil situação econômico-financeira que atravessa a Argentina, às cargas fiscais, às retenções, à complexidade do acesso às importações e exportações, começaram a se juntar outros ingredientes: a seca estabelecida, a previsão de falta de chuvas abundantes e a dificuldade de combater este problema.
Esses últimos componentes foram incorporados pela Confederação Intercooperativa da Agricultura (CONINAGRO) em seu relatório mensal, que também define como uma “situação complexa”. Segundo o relatório, onze dos dezenove segmentos pesquisados estão em situação de alerta ou grave.
De acordo com a área de economia da entidade, “neste mês as economias regionais que estão no vermelho referem-se ao aumento dos custos por meio de insumos e instabilidade do mercado, principalmente das exportações”.
Nesse sentido, o representante da Associação Correntina dos Plantadores de Arroz (ACPA), Cristian Jetter, conversou com a Rádio Dos e foi consultado sobre a situação do setor, após o conhecimento do relatório da CONINAGRO.
Jetter descreveu o presente como “complexo” e afirmou que “o arroz foi severamente punido nos últimos anos”.
“Concordo plenamente com o relatório apresentado pela Confederação, principalmente na qualificação do nosso setor. Muitas das economias regionais do país estão sendo muito afetadas pelos diversos fatores e variáveis do país”, afirmou.
“Nossa atividade orizícola na Província de Corrientes se baseia e se sustenta principalmente na atividade exportadora. Corrientes e o setor orizícola na província cresceram desde que se acentuou o vínculo comercial com o Brasil e as exportações para aquele país são o que hoje dita o ritmo de crescimento da indústria”, disse Jetter. No entanto, esclareceu que “não é o único mercado internacional” e que aumentou o número de países para os quais Corrientes envia arroz.
Mesmo assim, sustentou que 70% da produção total de arroz é enviada para o exterior. “Hoje temos três destinos muito fortes de exportação de arroz: o Chile, que é um mercado muito forte que a Argentina tem há vários anos; a Europa, que é outro mercado importante para o arroz; e em terceiro lugar está o Brasil”, afirmou.
Entre os problemas que atravessa o setor arrozeiro, o empresário destacou que “a política que temos com o dólar nos afeta muito. Hoje o arrozeiro que exporta recebe um dólar de 160 pesos e assim fica impossível ser competitivo, os custos de produção, logística, insumos e tudo que envolve a cadeia produtiva ficam cada vez mais caros, e em alguns casos esses custos são dolarizados, então isso nos atinge em dobro”, argumentou.
“Temos custos como energia, que aumenta cada vez mais, mão de obra tem aumentos permanentes devido à inflação, precisamos de insumos como chapas, tampas, peças de reposição para máquinas agrícolas que são precificadas em dólares e que, ao serem transferidas para pesos, custam cada vez mais”, exemplificou Jetter entre outras questões.
Ele também descreveu a situação atual dos produtores como “muito complicada”, com todos esses fatores listados. “Hoje eles nos pagam um dólar de 170 pesos, mas com uma retenção de cinco por cento, e com esse dinheiro temos que comprar produtos ou pagar custos e insumos com um valor de 320 pesos por dólar e tudo isso gera um coquetel muito complexo para nossa atividade”, disse.
Seca, outro fator que complica ainda mais a produção de arroz
Jetter reconheceu que a falta de chuva é um dos fatores mais importantes na complexa situação dos arrozeiros. De fato, indicou que os hectares de campos plantados foram reduzidos devido ao déficit hídrico que a província atravessa.
“Hoje temos uma área plantada de aproximadamente 82 mil hectares na província, bem abaixo do que havíamos plantado, que foi próximo dos cem mil hectares nos anos anteriores”, comentou.
“Nesta campanha encontramos níveis de água em rios e barragens entre 50 a 60%, e por isso tivemos que reduzir a área plantada”, acrescentou. No mesmo sentido, destacou que “Corrientes deve avançar num programa de melhoria da gestão e armazenamento dos recursos hídricos para quando surgirem esses casos de seca”, afirmou.
“Este problema de falta de água que temos em Corrientes também é em parte produto da má gestão dos recursos hídricos que fazemos, porque nos anos em que há chuvas abundantes e inundações, a província deve avançar na construção de barragens para acumular esses fluxos de água e usá-los em anos de seca”, explicou.
Ele também acrescentou que “hoje todas as barragens de Corrientes são privadas, não há barragens construídas pelo Estado, como ocorre em outras províncias”. (Com informações de Diário Época)