Arrozeiros argentinos exigem investimentos em infraestrutura
(Por Planeta Arroz, com Momarandu) Para o presidente da Associação dos Correntina dos Plantadores de Corrientes, Cristian Jetter: “a política nacional dos últimos 20 anos foi desastrosa para a produção”. O líder do setor conversou com o informativo argentino Momarandu sobre as condições em que se encontra a economia regional. Ele enfatizou o dever de investir em estradas e acessos portuários e instou os legisladores a apoiarem a política executiva que direciona os produtos locais para o exterior.
Jetter concordou com o governador Gustavo Valdés que na campanha do arroz 2024-25, Corrientes se consolidará como a província com a maior área plantada de arroz na Argentina, ultrapassando os 100.000 hectares.
Ele ressaltou que esta projeção positiva se deve aos bons preços internacionais do arroz, impulsionados pelas condições climáticas adversas em outras regiões produtoras, como Índia e Brasil, que afetaram a oferta global.
Contudo, alertou que, apesar da recuperação da área plantada, o setor enfrenta desafios relacionados com a falta de infraestruturas, particularmente no sul da província, onde as estradas estão em estado crítico.
Sublinhou que a falta de um porto adequado para a exportação de arroz é também um obstáculo significativo, destacando que o porto de Lavalle é visto como uma solução essencial para melhorar a logística e a competitividade dos produtores de arroz.
– O governador Gustavo Valdés concordou que Corrientes se posiciona como uma das províncias com maior área plantada de arroz.
– Sim, é assim. Esta campanha, a campanha 24-25, em que vai começar a plantação, ou já estão a começar alguns produtores do norte, vai ser uma campanha com uma superfície significativa para a província, e nós continuamos a ser a província com a maior área de arroz semeada do país. Neste caso, creio que Corrientes ultrapassará os 100 mil hectares. Será uma semeadura muito importante, esperemos também que seja uma colheita importante. A menos que haja algum evento climático extremo, certamente acontecerá, e estaremos até acima da superfície que sabíamos plantar em algum momento, nos anos 90 ou início dos anos 2000, quando tínhamos 100 mil hectares de semeadura.
Entrevista, Cristian Jetter, presidente da ACPA.
– Como estão os preços?
– Olha, hoje no mercado internacional, que também é o que, de alguma forma, afeta o preço local, temos preços bons internacionalmente, um pouco acima do que estamos vendo com o resto das commodities, que estão caindo, como o trigo , soja, milho. O arroz está posicionado a um bom preço, um pouco consequência dos problemas climáticos que sofremos em campanhas anteriores. Havia pouco arroz porque, bom, nas campanhas anteriores tivemos uma Niña, depois um El Niño, o que não só ocorre na nossa região, mas também nas grandes produtoras de arroz do mundo, como a Índia e outros países asiáticos , onde sofreu graves problemas climáticos. Isto faz com que em geral haja menos arroz, o que permite que o preço internacional seja bom, e também o local.
– De certa forma é um repasse desse preço?
– Sim, de certa forma é um repasse desse preço, então estamos com bons preços, e também há expectativa para o próximo ano. Talvez não tenhamos os bons preços deste ano, mas também não vão baixar, foi o que nos disseram as pessoas que falaram e falam sobre o futuro mercado do arroz, a nível local e global, no dia em que referiu, que foi feito na propriedade da Sociedade Rural na semana passada.
– Fala-se de pequenos produtores em luta com grandes produtores. Existe algum tipo de transição além da superfície plantada?
– Tem uma questão que, na realidade, nas commodities, seja arroz ou soja, não há problema entre pequeno e grande. As ordens do mercado e, infelizmente, se os pequenos produtores ficaram no esquecimento nos últimos anos, foi devido à política do governo nacional, e não porque os grandes produtores tomaram o seu lugar. Porque quando você vê de onde vêm os pequenos produtores, em geral falamos da região do rio Uruguai, da zona costeira do rio Paraná, da região de Santa Lucía, Goya, Mirasol, ou em o caso do rio Uruguai. E quando você vê de onde cresceram os grandes produtores, você vê que eles cresceram na região de Ituzaingó, e na região de Curuzú, Mercedes. Ou seja, não há competição pela terra, nem pelo local onde produzem. Cada um faz a sua projeção, o seu crescimento, a sua empreitada. Infelizmente, a política dos últimos 20 anos, eu diria, do governo nacional, tem sido desastrosa para todas as economias que se dedicaram às exportações, especialmente para as economias regionais.
– Por quê?
– Tudo o que era uma economia regional que se dedicava à exportação, como é o caso do arroz, do amendoim, onde toda a nossa produção, ou 70% da nossa produção, é destinada a ser vendida no exterior, com um dólar completamente deprimido, com um preço que o governo colocou, que às vezes valia 30 ou 40% do valor real do dólar, com retenções que só foram retiradas do arroz no mês de dezembro, que chegavam a reter até 15%. Tudo isso afetou fortemente o cultivo do arroz, e isso gerou a perda de inúmeros produtores, pequenos, grandes e médios.
– Mas, hoje ocorre um crescimento?
– Hoje, o crescimento que ocorre, em geral, ocorre nos grandes produtores e empresas, com os quais voltamos, na realidade não crescemos tanto, mas sim voltamos a ter a superfície que sabíamos que tínhamos em algum momento. Então não, não vejo competição entre um e outro. Eu diria que hoje os pequenos poderiam facilmente estar lá se a política tivesse sido coerente, os pequenos poderiam estar a crescer ou a manter a sua superfície e os grandes a crescer. Eles não competem, ou seja, o arroz que a Argentina produz no mundo é muito baixo, é muito pouco em volume e não atende ao preço de mercado.
– Especulou-se que as condições climáticas no Brasil e a queda na área plantada no Brasil ajudaram, ou vão ajudar, os preços do arroz argentino. É assim mesmo?
– Não, foi assim. Isso permitiu manter o bom preço, aquela enchente que o Brasil sofreu, embora não tenha sido uma área muito grande de arroz, que foi colhida, mas afetou alguma coisa. Afetou também os silos de armazenamento onde o arroz tinha sido armazenado e, de certa forma, permitiu também a sustentação de preços internacionais e regionais firmes e, como consequência, permitiu-nos hoje ainda ter um preço muito acima do normal a nível internacional e também local. dessa perda de produção no Brasil, que é um consumidor muito importante de arroz, tanto argentino, quanto paraguaio e uruguaio.
– Este governo merece maior confiança do produtor no futuro?
– Com certeza, e isso foi revelado na reunião. Estava cheio de produtores, todos plantando plenamente, há uma mudança total no clima, no ânimo. Hoje estamos importando insumos com total liberdade, estamos aproximando os insumos dos preços internacionais. Devemos lembrar que no ano passado não pudemos importar insumos, apenas amigos do governo no poder foram autorizados a importar. Hoje a importação é gratuita, é bem mais simples. A partir de setembro os impostos de importação serão reduzidos, então o clima mudou completamente, a situação mudou com esse governo que é honesto com o câmbio, que tem conseguido baixar a inflação. A mudança nos setores produtivos, e ainda mais naqueles para onde exportamos, tem sido retumbante. Acredito que o fato de Corrientes estar atingindo hoje uma superfície elevada ou recorde de produção de arroz não é apenas uma questão climática, mas é sem dúvida o estado de espírito do produtor e o que ele vê da política nacional, que está muito mais estabilizada. , que há uma direção económica que não muda e que vai baixar as mesas, desregulamentar, facilitar a contratação de mão de obra. Há uma série de vantagens que estamos vendo, que muitos de nós já estamos sentindo e outras que estão ajudando para que as pessoas tenham muito mais confiança para investir.
– Nos investimentos, qual é a situação?
– Sim, precisamos de portos. Essa é uma questão fundamental, um porto que precisamos, e acabamos de discutir isso naquele dia com o Ministro da Agricultura, é o porto de Lavalle. O porto de Ituzaingó, destinado ao setor arrozeiro, fica um pouco ao norte. Alguns produtores daquela região podem utilizá-lo, mas o porto arrozeiro por excelência seria o porto de Lavalle, localizado próximo à região de Bella Vista de Goya, onde estão localizadas as grandes fazendas de arroz. É um porto que está baixo no Legislativo, no orçamento, o valor que vai sair. É um porto que também está, creio eu, orçado nas contas nacionais, e o Legislativo também deveria estar cuidando disso. É um porto chave, essencial para o desenvolvimento do arroz.
– E em relação às estradas?
– Em relação às estradas, sim, estamos em estado crítico na província, especialmente na zona sul, em Mercedes, em Curuzú, em Monte Caseros. Estão completamente destruídas, há muitas estradas com trânsito intenso, muita chuva na zona sul, e estamos à espera que o governo provincial faça algumas obras que são urgentemente necessárias, especialmente na zona sul, que tem estradas completamente intransitáveis , Com os caminhões não podemos mais sair do campo. O produtor está empenhado em trazer investimentos, e o ministro também disse isso. Hoje a questão do crédito está desbloqueada, tanto para capital de giro quanto para capital de investimento, há créditos com taxas bem razoáveis e em geral o produtor de arroz está investindo muito, mas ele precisa ter estradas para escoar sua produção, ele precisa ter um porto em Lavalle, perto da área de cultivo de arroz, que é fundamental. Então é essa a questão, estamos aguardando, o anúncio é muito bom, mas estamos aguardando a conclusão dessas obras e a entrada em operação dos portos.