Arrozeiros bloqueiam arroz do Mercosul na fronteira gaúcha

Arrozeiros deflagram movimento de protesto contra os excedentes do Mercosul e a falta de uma política governamental que evite os prejuízos do setor de produção. Caminhões de arroz do Mercosul estão sendo parados na fronteira.

Os arrozeiros do Rio Grande do Sul fecharam desde a madrugada de hoje quatro pontos de fronteira do Brasil com o Uruguai e a Argentina para impedir a passagem de caminhões carregados com arroz. O protesto, que deve ser mantido pelo menos até amanhã, mas corre o risco de se alongar, é uma forma de pressionar o Governo Federal a adotar medidas compensatórias ou que reduzam o fluxo de arroz excedente nas lavouras da Argentina e do Uruguai que, pela superoferta, estão achatando os preços do produto brasileiro.

Com a safra de 12,8 milhões de toneladas que o Brasil colheu, um saco de arroz de 50 quilos nacional deveria estar valendo mais de R$ 30,00. Todavia, com a entrada de 880 mil toneladas de arroz excedente do Mercosul entre janeiro e setembro de 2004, os preços praticados já baixaram dos R$ 27,00. O custo de formação da próxima lavoura é de R$ 29,99 por saco, segundo dados do Irga.

Os piquetes de arrozeiros foram instalados no porto seco de Jaguarão e na entrada de Aceguá, ambos em divisa com o Uruguai. Em São Borja e Itaqui, na divisa com a Argentina, também foi formada uma barreira de protesto. Ontem, os produtores avisaram as autoridades policiais e alfandegárias de que o protesto seria realizado de forma pacífica e na busca da preservação dos direitos dos produtores nacionais, bem como da sobrevivência do setor.

A ordem é evitar incidentes, mas fazer todo o esforço para impedir a entrada de arroz no Brasil. Uma segunda estratégia foi adotada. Sempre que possível os produtores buscam identificar as empresas que estão comprando o produto de fora do país, como forma de pressão para promover a compra interna.

Provocada pela iniciativa dos arrozeiros, a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul convocou, na manhã de hoje, uma assembléia geral para o próximo sábado, pela manhã, em Dom Pedrito. A pauta prevê a discussão da conjuntura e do mercado do arroz, uma análise do movimento que se desencadeou à margem das entidades, o andamento das ações jurídicas e políticas que estão sendo desencadeadas para proteger o produtor nacional de prejuízos acarretados pelos excedentes e a política do Mercosul, bem como para deflagrar novas estratégias de pressão.

A direção da Federarroz explicou que embora não tenha organizado o movimento, não foi tomada de surpresa. Segundo dirigentes da entidade, a situação para a próxima safra com o Mercosul ampliando a área de arroz apenas para exportar para o Brasil, já que o consumo do Uruguai e Argentina não chega a 11% da produção dos dois países, é de tal maneira preocupante que protestos deste tipo já eram esperados há pelo menos um mês.

Abaixo, cópia do documento divulgado pelos arrozeiros nos piquetes:

MOVIMENTO ARROZEIRO EM DEFESA DA ATIVIDADE SÓCIO-ECONÔMICA DO AGRONEGÓCIO ARROZ

PORQUE A MOBILIZAÇÃO??

PORQUE QUE EM 2004 O BRASIL ATINGIU A AUTO-SUFICIÊNCIA NA PRODUÇÃO E ABASTECIMENTO INTERNO DE ARROZ; E O URUGUAI E ARGENTINA TRIPLICARAM A PRODUÇÃO A PARTIR DO TRATADO DO MERCOSUL

PORQUE OS EXCEDENTES NO MERCOSUL E AS MUDANÇAS NA POLÍTICA COMERCIAL DE EXPORTAÇÃO DO URUGUAI E ARGENTINA ESTÃO DEPRIMINDO E DESREGULANDO OS PREÇOS NO BRASIL, CAUSANDO UM GRANDE DANO SÓCIO-ECONÔMICO PARA O SETOR;

PORQUE EM DECORRÊNCIA DESTA SUPER OFERTA, O ARROZ ESTÁ SENDO COMERCIALIZADO ABAIXO DO CUSTO DE PRODUÇÃO;

PORQUE O ARROZ IMPORTADO DO MERCOSUL É PRODUZIDO COM INSUMOS E MÁQUINAS MAIS BARATOS E COM MENOS IMPOSTOS;

PORQUE O ARROZ INDUSTRIALIZADO IMPORTADO DO MERCOSUL NÃO PAGA TRIBUTOS DE COMERCIALIZAÇÃO IGUAIS AO DO RS, NÃO PAGA ICMS PLENO, NÃO PAGA FUNRURAL, NÃO PAGA CDO E NÃO PAGA PIS-COFINS.

O QUE QUEREMOS??

SUSPENSÃO IMEDIATA DAS IMPORTAÇÕES DA ARGENTINA E URUGUAI, OU MEDIDAS COMPENSATÓRIAS, PARA CORRIGIR AS DESIGUALDADES TRIBUTÁRIAS E MERCADOLÓGICAS

PERMISSÃO PARA COMPRAR INSUMOS NO MERCADO INTERNACIONAL, COMO FERTILIZANTES, DEFENSIVOS E MÁQUINAS AGRÍCOLAS;

IMPLEMENTAÇÃO IMEDIATA PELO GOVERNO FEDERAL DE MECANISMOS DE COMERCIALIZAÇÃO DOS EXCEDENTES ATUAIS: PEP, CONTRATOS DE OPÇÃO …

ELEVAÇÃO DA TEC PARA 35% NAS IMPORTAÇÕES DE TERCEIROS PAISES.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter