Arrozeiros protestam em Porto Alegre na terça-feira
Movimentação é grande entre os arrozeiros gaúchos.
Os agropecuaristas gaúchos farão nesta terça-feira, em Porto Alegre, um dos maiores protestos da história. Produtores de arroz, soja, trigo, milho, uva e vinho e criadores de gado estão se mobilizando neste final de semana e partirão para a capital na segunda-feira. Implementos agrícolas serão usados para chamar a atenção das autoridades. Alimentos serão distribuídos para a população e um caldeirão com quase três mil quilos de carreteiro será preparado e distribuído em frente ao prédio da Receita Federal.
Somente de Cachoeira do Sul, pelo menos dois ônibus, 10 caminhões, 20 tratores e vários veículos particulares participarão do protesto. A concentração dos produtores acontecerá na segunda-feira, a partir das 9h, no Parque Assis Brasil, em Esteio. O prefeito de Cachoeira do Sul, Marlon Santos confirmou nesta sexta-feira que partirá na tarde de segunda para Esteio, onde pretende se reunir com produtores rurais de sua cidade e da região central do estado para apresentar dados sobre os prejuízos sofridos.
– Como prefeito da Capital Nacional do Arroz, não ficarei de braços cruzados. Precisamos da união e participação de todos para mostrar ao Governo Federal que a crise na agricultura está abrindo um abismo na economia do Brasil, lamenta Marlon.
O vice-presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Francisco Schardong, disse nesta sexta-feira que o protesto será um dos maiores da história, pois produtores de todo o estado estão mobilizados para participar. Farsul, Federarroz, Fearroz e cooperativas de produtores de norte a sul do estado estão envolvidas. Estamos entreverados para mostrar que a cadeia produtiva precisa de mecanismos para sustentação de preços. A revisão nos acordos do Mercosul é o ponto de partida, salientou Schardong.
CAVALARIANOS
Grupos de cavalarianos de várias regiões do estado já estão se movimentando para participar da manifestação na terça-feira. Os organizadores da manifestação estão pedindo para que os tratores que não forem levados para Porto Alegre sejam colocados nas margens das estradas em sinal de apoio ao protesto.
O presidente da Federarroz, José Valter Pötter, está preocupado em buscar junto ao Governo Federal não apenas medidas para solucionar a crise que vive o mercado, mas também incluir nas reivindicações uma solução para o endividamento do setor. Segundo ele, o protesto desta terça-feira será uma virada de página para o setor e a previsão é de que reúna cerca de dois mil agricultores e 500 tratores.
MERCADO
Depois de amargar meses de péssimas cotações e negociações muito abaixo dos preços de custo, o preço do arroz em casca no Rio Grande do Sul reagiu timidamente. Segundo o presidente da Cooperativa Tritícola Cachoeirense (Cotricasul), Nelson Schramm Júnior, as melhoras foram percebidas somente nas pequenas negociações. Não posso afirmar que há mercado firme para comercialização a R$ 20,00. Esta cotação foi registrada em casos isolados e em transações de pequenos volumes, observa Schramm.
O produtor rural e analista de mercado Marco Aurélio Tavares explica que a pequena reação dos preços é uma conseqüência da possibilidade com contratos de Aquisição do Governo Federal (AGF) com preço de R$ 20,00. O setor arrozeiro está contra este valor médio que foi adotado, pois a reivindicação é de balizar a cotação com preços na casa dos R$ 27,00 a saca de arroz. A AGF proposta pelo Governo Federal limita os contratos em 1,2 mil sacas de arroz para cada produtor.
ESTRATÉGIA
Na próxima terça-feira, produtores de várias regiões produtoras de arroz do Brasil vão também parar as cidades das 12h às 18h, em protesto à crise na agricultura. A manifestação em Porto Alegre servirá para mobilizar os produtores para um protesto nacional, possivelmente no dia 15 de junho, quando a cadeia produtiva levará suas reivindicações a Brasília.
O Irga estima que este ano a receita gerada com o arroz gaúcho será de R$ 2,5 bilhões, um prejuízo de 42% em relação à safra 2003/2004, quando a receita foi de R$ 4,2 bilhões. Em Cachoeira do Sul, a crise no mercado resultará em perdas de aproximadamente R$ 42 milhões.