As lições do El Niño

 As lições do El Niño

Soja na várzea: oportunidade que não pode ser desperdiçada

Clima adverso afetou o sistema da soja em várzeas, mas ensinou muito sobre
o cultivo no RS

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 “A temporada 2015/16 mostrou que há diferentes graus de riscos associados ao cultivo de soja em terras baixas. É necessário realizar análise criteriosa de cada situação visando minimizá-los”. A opinião é do doutor em fitotecnia e professor do curso de Agronomia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Enio Marchesan, uma das vozes mais respeitadas na pesquisa de cultivos em várzea no Rio Grande do Sul.

Segundo ele, frente às experiências do ano passado, cada propriedade deve identificar qual a principal razão do cultivo de soja nestas áreas e a partir daí realizar o planejamento do uso da área. É preciso ter foco no que é mais importante, envolvendo os recursos humanos, tanto na identificação dos problemas como no comprometimento de atingir os objetivos.

“O cultivo da soja na temporada passada, ano de El Niño, nos deixou algumas lições. Dentre elas a de que é preciso levar em conta os prognósticos climáticos no planejamento da lavoura. A gente sempre espera e necessita que as previsões sejam mais precisas, mas é preciso acreditar na tendência do comportamento”, explica Marchesan.

Para ele, outro aspecto que se confirma a cada ano que passa é o papel fundamental do manejo pós-colheita e o preparo antecipado das áreas. “Novamente o planejamento e a gestão dos recursos são fundamentais para atender os aspectos técnicos dos cultivos”. Como a semeadura na hora certa é uma prática de manejo fundamental para elevadas produtividades, é preciso que cada um encontre o seu jeito de semear no melhor momento. E nem sempre isto é obtido apenas com compra de mais uma semeadora ou de um trator. “Com as áreas prontas antecipadamente pode-se aproveitar melhor as janelas de semeadura do arroz no início de modo a semear também a soja em momento de maior potencial de produção”, ensina.

Outra lição aprendida foi a necessidade de melhorar cada vez mais a drenagem das áreas para aproveitar melhor as oportunidades de semeadura. Em anos de El Niño deve-se aproveitar os pequenos períodos possíveis para o trânsito de máquinas na área; em anos de La Niña, para aproveitar melhor a umidade do solo após as chuvas. Enfim, o objetivo é estar tudo preparado (pessoas, área e máquinas) para aproveitar ao máximo os períodos (janelas) de semeadura.

“Penso que o desafio é nos prepararmos sempre para o pior cenário, seja de excesso ou de falta de chuva”, diz o especialista, um dos analistas que contribuiu para as conclusões do 2º Encontro de Produção de Soja em Terras Baixas do Sul do Brasil em julho passado, em Santa Maria (RS), que pauta o avanço das pesquisas no projeto Soja 6000 em 2016/17.

FIQUE DE OLHO
O maior desafio neste sistema é não perder a boa ideia que é o cultivo da soja em terras de arroz. Por isso o professor Enio Marchesan deixa um alerta: a soja ainda é um cultivo de risco em boa parte das áreas de arroz. “Comece cultivando as partes mais favoráveis da propriedade, deixando para um segundo momento aquelas com problemas de drenagem (ou irrigação). Evite as áreas de maior risco ou que necessitem mais investimento para adequá-las ao cultivo. Na medida que for dominando a tecnologia, atendendo as exigências da cultura neste ambiente, e com acompanhamento técnico, o cultivo pode ir avançando”.


PRODUTIVIDADE

Para o professor Marchesan, a busca de maiores produtividades é desafio permanente, pois, normalmente, significam maior rentabilidade. Um dos primeiros passos para quem decide cultivar soja em terras baixas é definir o porquê e em função disso estabelecer o nível de tecnologia a adotar.

“Para facilitar a reflexão, digo que atualmente a soja em terras baixas pode se enquadrar em três ‘estágios’. No primeiro, o motivo é o controle de arroz vermelho e/ou outras plantas daninhas de difícil controle na lavoura de arroz. No segundo, a necessidade de maior renda da propriedade, e a soja é uma opção neste ambiente. Por fim, no estágio três há domínio no cultivo de soja em terras baixas e por isso a busca de maiores tetos de produtividade é uma consequência”, resume.

Enio Marchesan lembra que são lavouras muito diferentes em custos, nível tecnológico, planejamento e gestão, de acordo com o “estágio” definido. Este é o desafio inicial. Mas o que elas têm em comum é a fase de implantação da lavoura. É uma fase crucial, onde os erros comprometem o resultado pretendido seja qual for o estágio em que a lavoura se enquadre. “Por isso, este é um ponto central do manejo”, frisa.

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