Atenções voltadas ao leilão de compra de arroz importado pela Conab

 Atenções voltadas ao leilão de compra de arroz importado pela Conab

(Por Cleiton Evandro dos Santos, AgroDados/Planeta Arroz) O mercado do arroz no Brasil vive uma semana de “Tensão Pré-Leilão” de compra de 300 mil toneladas promovido pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que acontecerá na próxima quinta-feira. O mercado mantém-se em compasso de espera e muitas empresas suspenderam as compras, que já costumam ser fracas nas segundas-feiras.

A tensão aumentou com o ingresso da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) no STF tentando suspender o leilão e argumentando a inconstitucionalidade da ação do governo, que pretende distribuir este grão por R$ 4,00 o quilo (subsidiado ao consumidor e ao varejista) com selo do governo federal. Portanto, apesar do tempo exíguo para que haja uma decisão judicial, este é mais um componente de tensão ao comércio de arroz no país e à formação de preços neste momento.

A cadeia produtiva do arroz do Brasil vem reagindo fortemente à iniciativa, sob o argumento de que há produto disponível para abastecer ao mercado, que a soma da produção, estoques de passagem e a importação do Mercosul – estimada em mais de 1,5 milhão de toneladas neste ano – e da Tailândia, que já concretizou 120 mil toneladas em vendas ao país entre abril e maio.

Segmentos da indústria, inclusive, buscaram a liberação, pelo governo, de uso deste arroz no próprio leilão, uma vez que neutralizaria o ingresso desta compra e ainda mais 300 mil toneladas que poderão ter uma participação importante de cereal asiático, segundo leitura dos agentes nacionais e internacionais.

No primeiro aviso de compra, a Conab e o MAPA excluíam este volume por causa da data de aquisição, que ocorreu também antes da retirada da TEC de 10,9% para importações extra-Mercosul, e por isso chegariam ao Brasil em valores pouco competitivos.

PREÇOS E COMUNICADOS

Os comunicados 058 e 059 da Conab foram lançados hoje, terça-feira, no final da tarde no Diário Oficial. O subsídio (preço inicial) que era de R$ 5,70 para o primeiro leilão, recuou para R$ 5,00 “a varrer” na operação de quinta-feira. A compra será de 300 mil toneladas, para entrega em três etapas entre 10 de junho/08 de setembro; 09 de setembro/09 de outubro; e 10 de outubro a 08 de novembro.

EXPECTATIVA

Há duas expectativas para o leilão: o governo espera uma grande presença de ofertantes de todo o mundo, mas a cadeia produtiva do Mercosul não percebe este impacto. O mercado mundial do arroz índica, longo fino, não é grande e uma movimentação de 300 mil toneladas, que representa de 10 a 12 navios, seria rapidamente percebida.

As principais origens deste tipo de grão estão no Mercosul, que já vai com perto de 70% da safra vendida, boa parte para a iniciativa privada brasileira e para entregas até setembro.

Os Estados Unidos, segunda maior fonte de produção deste tipo de arroz, está no pico de sua entressafra e quase sem grão disponível para os mercados externos, e com preços pouco competitivos. Sobrariam Tailândia e Vietnã, já que a Índia está fora do mercado de exportações. O problema é que destes, o único país que teria grão similar ao Tipo 1 nacional, é a Tailândia, com seu grão “premium”, do qual as indústrias brasileiras já importaram em abril/maio, 120 mil toneladas que só devem chegar em junho/julho.

Em geral, os corretores e agentes de mercado entendem que lotes pequenos podem movimentar o leilão, mas a oferta não chegará nem perto do objetivo governamental. A questão é que não há no mundo disponibilidade de arroz que seja ao menos similar ao nosso, nos volumes que o governo brasileiro quer importar e pelos preços que ele quer importar. E isso, com essa demanda intempestiva, está gerando uma repercussão que eleva as cotações em níveis mundiais do tipo específico de grão que consumimos.

Se o leilão desta quinta-feira não alcançar seus objetivos, o mercado tende a se tornar ainda mais difícil. Hoje, apesar dos preços altos, a indústria está rodando, várias delas trabalhando em turnos integrais, 24 horas, para atender a demanda reprimida pelos problemas de logística que trouxeram as inundações. As entregas estão atrasadas pelo período que não havia estradas, não por falta de produto.

Se o leilão de compras de importações “micar”, há uma forte tendência do produtor perceber exatamente que não há oferta de grão a preços mais competitivos no mundo todo, e isso faria subirem os preços ainda mais internamente. Quem não está querendo vender a R$ 130,00 a saca, vai esperar valores mais altos. E isso, sim, pode travar o mercado. E a culpa, com o perdão do bordão, será do governo.

Segundo o Cepea/Esalq, o mercado de arroz em casca se mostrou relativamente lento na semana passada. Apesar do maior interesse de venda por parte de produtores, diante da proximidade de compromissos financeiros e de preocupações quanto ao impacto do leilão de compra de arroz importado anunciado pela Conab, a demanda esteve enfraquecida.

Ainda segundo relato da instituição que produz o Indicador de Preços do Arroz em Casca (50kg, 58×10) no Rio Grande do Sul (Cepea/Irga-RS) os compradores optaram por aguardar as divulgações e implementação deste leilão para, então, efetuar novas aquisições e/ou renovar seus estoques. Além disso, com a retomada dos sistemas de emissões de notas fiscais, indústrias priorizaram os carregamentos de compras já realizadas.

PREÇOS

De 24 a 31 de maio, o Indicador Cepea/Irga-RS recuou 1,09%, fechando a R$ 119,63/saca de 50 kg na sexta-feira, 31. Apesar da queda, os preços seguem nos níveis de fevereiro de 2024. A média de maio superou em 12,2% a de abril e em 34,31% a de maio/23, em termos reais (deflacionamento pelo IGP-DI de abril/24).

Para as demais faixas de rendimentos, as cotações também caíram na semana. A média do produto com 50% a 57% de grãos inteiros no Rio Grande do Sul cedeu 1,23% entre 24 e 31 de maio, encerrando a R$ 115,84/50 kg na sexta.

Para os grãos com 59% a 62% de inteiros, a queda foi de 2,02%, a R$ 119,34/50kg; e para o de 63% a 65% de grãos inteiros, de 0,51%, a R$ 122,98/50kg no dia 31.

SAFRA

Segundo o Irga divulgou em 24 de maio, na safra 2023/24, foram semeados 900.203 hectares de arroz irrigado, sendo colhidos até 23 de maio 810.272 hectares, o que representa 90,01%, com uma produção total de 6.824.878 toneladas. Esses dados são levantados semanalmente pelos escritórios do instituto nos município e regiões produtoras.

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