Beneficiadoras de arroz buscam diversificação e novos mercados

 Beneficiadoras de arroz buscam diversificação e novos mercados

A partir da esquerda, Mario Eduardo Pegorer e Antonio Pegorer, da Guacira — Foto: Thais Balielo

(Por Fernanda Pressinott, Globo Rural) As indústrias beneficiadoras de arroz viram seu faturamento crescer no último ano, resultado dos preços recorde do cereal no começo de 2024. Um ano depois, com a queda de 22% no valor médio do arroz em casca, as empresas buscam estratégias para atingir metas e manter o desempenho. Em Santa Cruz do Rio Pardo, no interior paulista, maior polo de beneficiamento de arroz do Estado, empresários tentam driblar os preços mais baixos e a incerteza no cenário internacional apostando na diversificação do portfólio e na conquista de novos mercados no exterior.

A guerra comercial que o presidente americano Donald Trump está espalhando mundo afora, ainda que prejudicial, pode até abrir novas possibilidades de mercado para o arroz beneficiado pelas empresas paulistas. Importadores do Canadá, país sobre o qual os EUA impuseram tarifas, começaram a cotar preços do arroz brasileiro.

“Foi a primeira vez que empresas do Canadá nos telefonaram. Ainda nada concreto aconteceu, mas como eles compram arroz dos EUA e estão nessa briga de taxas, é possível que saia algum negócio”, afirmou ao Valor Adalberto Pegorer, sócio e filho de um dos fundadores da Santa Cruz Alimentos.

A companhia, criada em 1968 por dois irmãos, entre eles o pai de Adalberto, e um primo, faturou R$ 1,06 bilhão em 2024, uma alta de 25% em relação ao ano anterior. As exportações, sobretudo para Peru, Guatemala e Cuba, foram responsáveis por 12% da receita.

“Recentemente, o Brasil conseguiu a abertura de mercado do esbramado (arroz integral) para o México. Agora, lutamos para enviar o beneficiado para eles. Também recebemos uma delegação de chineses [em dezembro], e um acordo fitossanitário para venda deve sair logo”, disse Adalberto.

A São João Alimentos busca também expandir suas operações na Grande São Paulo. A empresa afirma ter entre 10% e 15% do market share de arroz no Estado, e agora pretende vender a mais varejistas de grande porte na capital.

Para isso, os filhos dos irmãos fundadores profissionalizaram a gestão e criaram áreas como trade marketing, planejamento e governança jurídica. Além de beneficiar arroz com as marcas Patéko e São João, a empresa comercializa feijão, açúcar, grão-de-bico e pipoca.

Em ano de preços em queda, Adalberto Pegorer disse que a expectativa é de aumento de 5% no volume de vendas. Para o faturamento, “se empatar, estará bom”.

Primos distantes dos Pegorer da São João, os fundadores da Guacira Alimentos também esperam aumento de 5% nos volumes comercializados de arroz. Mas são pessimistas em relação ao faturamento e preveem queda de 20% e 25% em razão dos preços mais baixos. Em 2024, a empresa teve receita de R$ 390 milhões, e as exportações representaram 7% do total.

A Guacira exporta arroz aos EUA e teme que as disputas comerciais atrapalhem. “Esperamos que o Brasil não seja taxado nas vendas de arroz para os americanos, porque perderemos um mercado que compra produto de qualidade, beneficiado e empacotado”, disse Mario Eduardo Figueira Pegorer, gerente comercial. Ele é neto de um dos fundadores da Guacira e hoje toca os negócios com o tio, Antonio Pegorer, e outros primos.

A estratégia da Guacira para se manter lucrativa é trabalhar com um portfólio mais amplo, dependendo menos de arroz e feijão. Entre os produtos oferecidos pela empresa estão azeite, palmito, café, goiabada, tapioca, farinha, massas, queijo ralado, sal e açúcar.

A empresa também investe em pecuária. Os sócios da Guacira destinaram R$ 20 milhões para ampliar um abatedouro da família, que existia desde 1998. “Assumimos uma fazenda de boi há alguns anos e, como na ocasião a família tinha um supermercado em Santa Cruz, começamos a vender carne. Agora, com esse investimento passaremos do abate de 80 cabeças de gado por dia, para 300. E vamos atender nossos clientes com a marca Bafaria”, contou Mario Eduardo.

Dona da marca Solito, uma das mais conhecidas de arroz no Estado, a Brasília Alimentos também tem sua história mesclada com a da cidade, o comércio do cereal e família Pegorer. Primos ainda mais distantes dos sócios da São João e da Guacira, os três fundadores da Brasília comercializavam arroz e café na região nos anos 1960. Com a geada histórica de 1975/76, que destruiu as plantações de café, os sócios se voltaram só para o cereal.

Diferentemente de seus pares, a estratégia da Brasília, que faturou R$ 1,2 bilhão em 2024, é explorar todo o potencial do arroz e criar subprodutos, como farinha de arroz e premix para a indústria de alimentação, farmacêutica e de ração. Tanto, que as exportações não representam nem 1% do faturamento.

“O consumo de arroz vem caindo, e precisávamos criar estratégias para crescer neste cenário. Nos tornamos o maior fornecedor global de arroz para os alimentos infantis da Nestlé, por exemplo, e responsáveis por 80% dos premix para as empresas de pet food”, disse Fábio Zaia, um dos três diretores da empresa, junto com seus primos, filhos dos fundadores.

O investimento em ração animal deu tão certo que a Brasília criou há três anos a própria empresa de pet food. Recentemente, investiu R$ 50 milhões para ampliar a capacidade de produção de 2,5 mil toneladas/hora, para 7,5 mil.

Além desse segmento, a companhia também aumentou no ano passado a capacidade de beneficiamento de arroz, hoje em 18 mil toneladas ao mês, para fazer produtos industriais. “Estamos participando de uma licitação para aumentar o fornecimento para a Ambev. Se der certo, talvez tenhamos que aumentar ainda mais a capacidade produtiva”, disse.

As empresas de arroz de Santa Cruz do Rio Pardo têm ainda unidades no Sul do país, região que concentra a produção do cereal. Mas trazem também arroz do Paraguai, pois a logística e os preços compensam.

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