BR-IRGA 409, um marco na orizicultura gaúcha
Autoria: Paulo Sérgio Carmona – Engenheiro Agrônomo e servidor aposentado do Irga.
Quarenta anos atrás os pesquisadores do Irga e da Embrapa/UFPel decidiram lançar mais uma variedade de porte baixo para cultivo no Rio Grande do Sul após duas tentativas frustradas.
A conjuntura que envolvia a cadeia produção-indústria-comércio do arroz na época era marcada pela euforia. Finalmente o arroz irrigado produzido no Rio Grande do Sul se consolidara no mercado nacional como sinônimo de “qualidade”, substituindo o arroz de sequeiro produzido nos estados centrais do Brasil, na preferência dos consumidores. A causa dessa mudança se radicava na substituição das variedades antigas, por outras de melhor qualidade introduzidas dos Estados Unidos.
Por isso os produtores tinham fortes argumentos para rejeitar mudanças de variedades que pudessem, ainda que remotamente, alterar o “status quo” já bem consolidado e que favorecia a todos os setores da cadeia.
Assim, é natural que o lançamento da BR-IRGA 409 tenha ocorrido em clima de desconfiança da indústria por se tratar de variedade com características muito diferentes das americanas. Contudo, os pesquisadores responsáveis estavam confiantes porque sabiam que a nova variedade, além de ser muito mais produtiva que qualquer variedade americana possuía a qualidade de grãos requerida pelos consumidores.
Por todas essas razões, o crescimento inicial da área de cultivo com a nova variedade foi lento, mas na medida em que os produtores passaram a conhecer melhor as qualidades da BR-IRGA 409 e as consequentes vantagens econômicas de sua utilização em substituição as americanas, a atitude dos mesmos em relação à nova variedade começou a mudar. A partir de então se constatou o impensável, mesmo para os pesquisadores mais otimistas. A semente da 409 passou a ser disputada por todos os produtores de arroz do Estado porque o diferencial de produtividade era tão grande (30%) em relação a qualquer variedade americana que a substituição das últimas passou a ser considerada questão prioritária.
Cinco anos após o lançamento da BR-IRGA 409, os produtores podiam observar mudanças profundas em suas lavouras: algumas muito evidentes. Não mais o porte um pouco mais alto, panículas expostas e o amarelo/ouro dos grãos da Bluebelle: então substituídas pelo porte baixo, alto perfilhamento e o amarelo/palha dos grãos escondidos entre as folhas. Mas, as mudanças que realmente interessavam aconteceram no bolso das pessoas envolvidas na produção e indústria possibilitando a oferta de um produto barato e de alta qualidade aos consumidores brasileiros.
Nos anos subsequentes até os dias atuais, outras variedades do mesmo tipo foram lançadas no Rio Grande do Sul: algumas mais produtivas, outras mais resistentes a enfermidades. Mas nenhuma superou a 409 em qualidade dos grãos. Por isso, essa variedade é considerada a maior conquista da pesquisa pública na história da orizicultura Gaúcha, constituindo-se na mais longeva entre todas as utilizadas nesses 115 anos de existência da lavoura irrigada.