Brasil à espera de nova tempestade perfeita para elevar os preços do arroz
(Por Cleiton Evandro dos Santos, AgroDados/Planeta Arroz) Uma série de fatores que estão se associando no complexo mundo do arroz está trazendo esperanças ao setor produtivo de que se forme na reta final deste ano comercial uma nova “tempestade perfeita” capaz de elevar as cotações da matéria-prima nos cenários nacional e internacional. Por essa potencial conjuntura, haveria indicações de que setembro poderá ser marcado por uma retomada gradual das cotações de arroz ao produtor, embora os últimos 15 dias tenham sido marcados apenas por leve reação dos preços do grão em casca no Sul do Brasil, que concentra 80% da produção nacional. Convenhamos que subir, ainda que pouco e devagar, é bem melhor do que cair, como ocorreu em agosto.
Se houve há 40 dias negócios por arroz para exportar a R$ 87,50 – final, colocado no porto, ou seja, incluindo frete, CDO e tarifas – e agora essa mesma cotação não passa de R$ 83,00 a R$ 84,00, pode-se observar uma leve recuperação. Os preços já haviam batido em R$ 82,00 para esse produto, e já haviam baixado de R$ 80,00 para R$ 77,50 no depositado nas indústrias de Pelotas e Camaquã, que mantêm, em geral, o teto de preços do Estado para matéria-prima padrão para beneficiado Tipo 1.
O fortalecimento de alguns fundamentos sinaliza a possibilidade de que continue uma recuperação gradual nas cotações e firmeza nos próximos meses, tanto no cenário doméstico quanto no cenário internacional. Vamos analisar estes fatores?
MERCOSUL
Depois de uma estimativa inicial de que as lavouras dos três países parceiros do Brasil no Mercosul registrariam um pequeno crescimento na temporada 2022/23, o cenário começou a mudar e o cenário da semeadura deverá ficar entre estabilidade e leve redução. O Paraguai aumentará 160 mil para 178 mil hectares a sua superfície semeada, segundo estimativa local. Mas, restrições à irrigação na bacia do rio Tebicuary, principal polo de produção de arroz da nação guarani, poderá afetar para baixo essa projeção.
O certo é que a Argentina, que poderia repetir a área de 200 mil hectares reduziu a intenção de plantio para 186 mil hectares. Mas, o corte pode ser ainda maior, uma vez que houve perdas graves por causa da seca, principalmente na Província de Corrientes, na safra passada, que foi 7% menor que o projetado e o país enfrenta dificuldades cambiais, de lastro e com altos custos de produção.
Nesta semana, veio nova surpresa do Uruguai. No final da colheita, em fevereiro, os uruguaios projetavam até aumentar a área em 1,2 mil hectares, para 165 mil hectares de lavouras semeadas para a temporada 2022/23. Como não houve acordo para a definição de preços de mercado para a atual temporada, e os valores provisórios anunciados pela indústria ficaram abaixo do esperado – e do ano passado – mesmo com o aumento dos custos, o interesse dos arrozeiros diminuiu e a área vai cair 2,5%, para 159,7 mil hectares. Portanto, ainda que se confirme o dimensionamento das lavouras paraguaias, é projetada a redução de 100 hectares. Desta maneira, os três “hermanos” somariam 523,7 mil hectares plantados nesta safra, contra 523,8 na passada. Os três países devem somar estoques de passagem relativamente baixos.
No contexto do Mercosul, o Brasil também deve ter uma redução substancial de área, o que abordaremos mais ao final da análise.
EUA x “CHÍNDIA”
Desde a última semana, a Ásia gerou imensa expectativa nos mercados. Em primeiro lugar porque a China anunciou uma seca que pode interferir nos resultados de sua produção. Embora os números indicados pelo governo chinês não sejam expressivos diante da dimensão de sua safra e dos seus gigantescos estoques, que correspondem a 50% das reservas mundiais do grão. Como as estatísticas chinesas são de complexa avaliação, os indicativos do governo do gigante asiático estão sendo considerados de baixo impacto. A região identificada como “Chíndia” por alguns analistas mundiais, ganha especial interesse com as novidades na Índia.
A primeira, foi a suspensão das vendas de quebrados de arroz pela Índia e a adoção de uma taxa de 20% sobre os tipos de arroz, exceto basmati e parboilizado para exportação. Essa medida elevou em 5% as cotações médias dos quatro grandes exportadores da Ásia: Índia, Tailândia, Vietnã e Paquistão, em uma semana. E gerou uma estagnação nos embarques, uma vez que os exportadores hindus estão tentando convencer o governo indiano a aplicar a tarifa sobre novas vendas e não sobre os contratos já negociados, que apenas esperam para embarcar.
Nesta quinta-feira, porém, o governo do Vietnã passou a negar insistentemente que vá suspender as suas exportações, o que costuma ser sinal de que há “fumaça”. E se há fumaça, poderá haver fogo. O país espera exportar 7 milhões de toneladas de arroz, 500 mil t acima do que projetava há alguns meses. Ainda assim, deverá ser ultrapassado pela Tailândia, que vai recuperar a segunda posição de maior fornecedor global com 7,5 milhões de toneladas. Agentes de mercado do Vietnã, no entanto, estão desconfiados dos interesses do governo, uma vez que os estoques poderiam cair e encarecer o produto no mercado doméstico. A elevação dos preços globais, acabarão refletindo nas margens também do Mercosul e do Brasil, mesmo que levemente.
EUA
Os Estados Unidos têm novidades. O USDA divulgou esta semana uma projeção de queda de 6,2% na sua safra, de 7.983.300 toneladas para 7.488.936 t. O que mais interessa o Brasil e o Mercosul é a retração da safra de arroz longo fino, mercado disputado entre o Sul e o Norte da América. Neste caso, a projeção do USDA é de uma retração de 5,9% na safra norte-americana, para 5.987.500 toneladas, em base casca. Serão 376,5 mil toneladas a menos. Entre os grãos curtos e longos, a queda será de 132 mil toneladas, mas o Brasil não concorre com os estadunidenses por este mercado.
QUEBRADOS
O mercado de quebrados de arroz do Brasil está aquecido. Cotações médias de US$ 370 a US$ 390 por tonelada, FOB Rio Grande, para exportação, equivalem ao preço de exportação do arroz branco, 5% quebrados, da Ásia. A demanda é alta, mas a oferta é baixa. Três fatores estão pesando – e poderão registrar uma elevação ainda maior nos preços: a redução na oferta de matéria-prima, o que significa que há menos quebrados; maior aproveitamento de quebrados nas embalagens para o mercado interno e maior mix de percentual quebrados nos produtos de exportação. Todos esses fatores, juntos, reduzem a oferta de quebrados.
EXPORTAÇÕES
No mês de agosto, o Brasil exportou 268 mil toneladas de arroz em base casca, volume 29,5% maior do que no mês anterior, que já havia registrado bom volume. As importações alcançaram 100,65 mil toneladas, 15,2% inferior à do mês anterior e 27,7% acima do mesmo período de 2021. Já tínhamos informado, em análises anteriores, que o Brasil havia vendido mais de 600 mil toneladas de arroz para embarcar entre julho e a primeira quinzena de outubro, o que está se confirmando com relativa folga e aumentando as chances de o Brasil superar 1,5 milhões de toneladas exportadas nesta temporada. A expectativa, agora, é de que o país consiga manter-se competitivo da segunda quinzena de outubro em diante, o que será mais um fator altista.
SAFRA
Mas, o que deve trazer mudanças mais significativas ao mercado é a redução de área em 10%, no Rio Grande do Sul, prevista pelo Irga e a Emater/RS. A lavoura deve alcançar 862 mil hectares. Associado a um superávit na balança comercial, estes serão fatores que tendem a enxugar os estoques de passagem e as disponibilidades na próxima temporada, trazendo maior equilíbrio entre oferta e demanda. Se nenhuma catástrofe ocorrer até lá, e mesmo que algumas consultorias entendam que a redução na área será menor, para algo perto de 900 mil hectares no RS, a esperança do setor é de que as cotações se mantenham crescendo gradualmente e alcancem patamares superiores aos R$ 87,50, teto alcançado por quem vendeu arroz às tradings esse ano.
Claro que os números do Rio Grande do Sul vão influenciar a área de plantio no conjunto do país muito mais do que está inicialmente sendo previsto pela Conab. Em relatório divulgado em agosto, a Conab projeta a safra de arroz 2022/23 em 11,24 milhões de toneladas, 4,25% superior à de 2021/22. A área seria 1% menor.
CONJUNTURA
O mercado de arroz em casca manteve-se firme esta semana, no Rio Grande do Sul e com avanços pontuais. O Indicador Cepea/Irga-RS registra 0,75% de recuperação na primeira quinzena de setembro, com cotações que alcançaram R$ 76,54, valor equivalente a US$ 14,60 pelo câmbio desta quinta-feira. A semana também apresentou maior movimentação por causa dos feriados de 7 de Setembro, que reduziu o volume de negócios, e o de 20 de setembro, Dia do Gaúcho, feriado estadual.
VAREJO
Embora a indústria tenha voltado às compras – e precisado retomar preços do início de agosto em alguns casos – com os vendedores mais resistentes às vendas, o varejo não mostrou grandes alterações nos preços praticados ao consumidor. Os preços médios do pacote de cinco quilos, branco, Tipo 1, nas seis capitais pesquisadas por Planeta Arroz, ficaram entre R$ 21,00 e R$ 22,00, com promoções na faixa de R$ 14,89 a R$ 15,38.