Cachoeira quer ser pólo cargueiro fluvial

Dois carregamentos de arroz da Coriscal para a Cereais Araguaia dão o impulso de reativação da hidrovia do Rio Jacuí (RS).

Cachoeira do Sul navega para se tornar um pólo para transporte de cargas no Rio Grande do Sul com a reativação da hidrovia do Rio Jacuí, que passou a ser usada há menos de dois meses pela Coriscal para levar arroz ao porto de Rio Grande. O diretor da Superintendência de Portos e Hidrovias, José Carlos Martins, afirmou ontem que o Governo do Estado vai investir R$ 2,5 milhões para recuperar a hidrovia entre Cachoeira e Porto Alegre, fazendo a dragagem e sinalização do Jacuí.

Para isso, técnicos da SPH estão trabalhando para identificar os pontos críticos. De acordo com Martins, somente entre Triunfo e Cachoeira será preciso dragar cerca de 100 mil metros cúbicos para abrir canais.

Durante um passeio pelo Jacuí, a bordo do Barco Cristine, Martins salientou que o Governo do Estado decidiu investir na hidrovia devido existirem cargas para o transporte fluvial. Além da Coriscal, a Granol pretende usar o Jacuí para fazer o transporte de soja que viria de regiões produtoras para a indústria e também escoar o farelo produzido em Cachoeira.

– A Granol tem planos de usar a hidrovia para transportar 500 mil toneladas por ano. A Aracruz planeja levar 2,5 milhões de toneladas a partir de Rio Pardo em 2010. Para 2015, a Aracruz estuda fazer o transporte pela hidrovia a partir de Cachoeira – frisa Martins.

Ele observa que os barcos que vierem carregar em Cachoeira poderão trazer outros produtos, como fertilizantes, cimento e combustíveis.

BÓIAS – Para sinalizar a hidrovia, Martins informa que o Governo do Estado importará as bóias da França, um investimento na casa de R$ 1 milhão. Somente para o trecho de 230 quilômetros entre Cachoeira e Porto Alegre serão 163 bóias, todas feitas de polietileno e com iluminação noturna, o que possibilitará uma navegação com segurança durante 24 horas.

– A hidrovia existe. O que ela precisa é apenas ser recuperada, pois foram anos sem a navegação. Assim, não havia como investir em algo que não estava sendo usado. Se temos cargas, vamos investir e deixar tudo em condições – ressalta Martins.

Sua expectativa é de que dentro de um ano todo o trabalho de recuperação da hidrovia esteja concluído.

Mudar a matriz de transportes

O superintendente de Portos e Hidrovias, Gilberto da Cunha, anunciou ontem que a intenção do Governo do Estado é mudar a matriz de transportes no Rio Grande do Sul, valorizando as hidrovias.

– O transporte hidroviário é mais econômico e seguro. Por determinação da governadora Yeda e do secretário Daniel Andrade, nós vamos aumentar o transporte de cargas pelas hidrovias – frisa Cunha.

Ele afirma que sua intenção é voltar a Cachoeira do Sul dentro de um ano, podendo mostrar que os investimentos na hidrovia foram concluídos, o que contribuirá para que a região se desenvolva economicamente.

O engenheiro da SPH, Hermes Vargas, afirma que os investimentos são necessários, pois “o Jacuí é um problema sério. Todo o cuidado é necessário para navegar pelo Jacuí”.

Vargas salienta que hoje ainda é preciso dragar 43 mil metros cúbicos de Cachoeira a Rio Pardo.

– Estamos focando nos pontos críticos. É um trabalho árduo. Através da batimetria definimos onde é preciso dragar – explica Vargas.

Hidrovia, o passo para ativar porto

O presidente da Assembléia Legislativa, deputado estadual Alceu Moreira, veio a Cachoeira do Sul ontem prestigiar o “Jacuí abrindo seus portos”, promovido pela Cacisc para marcar a retomada na navegação comercial pelo Rio Jacuí. De acordo com Moreira, a reativação da hidrovia despertará o debate sobre o uso da água para o transporte. Segundo ele, futuramente cerca de 20% de todas as cargas do estado poderão passar por Cachoeira.

– A hidrovia é um passo para uma futura ativação do porto. Assim, os olhos dos empresários ficam aqui. Mudará o foco dos investimentos – frisa o deputado.

Conforme Alceu Moreira, a tendência é de se ter a necessidade também de um entroncamento ferroviário e de melhoria das estradas para atrair uma matriz industrial diversificada.

– Esse sistema envolvendo os três modais de transporte vai possibilitar a vinda de produtos importados do porto de Rio Grande para o centro do estado e o escoamento da produção da região – destaca.

Toda região vai crescer

A deputada estadual Zilá Breitenbach afirma que Cachoeira do Sul é privilegiada por ter o Rio Jacuí, podendo assim se tornar um pólo para transportes na região central.

– Cachoeira está revitalizando a navegação. Este trabalho coletivo que está sendo feito é importante para o desenvolvimento de toda a região – salienta a deputada.

Ela afirma que o Governo do Estado “está olhando para Cachoeira do Sul, que está crescendo bastante”, se referindo aos investimentos na recuperação da hidrovia e do terminal de carregamento da Cesa.

Para o deputado estadual Adolfo Brito, a reativação da hidrovia no Rio Jacuí é importante para toda a região, não apenas para Cachoeira do Sul, pois, assim como seus colegas Alceu Moreira e Zilá Breitenbach, considera que o município poderá se tornar uma referência em transportes. Brito elogiou a iniciativa da Cacisc em promover o debate “Jacuí abrindo seus portos”, pois serviu para mostrar para o Governo do Estado a importância da hidrovia.

– As decisões são todas políticas e vocês estão dando força para que Cachoeira possa ser um centro de referência em transportes. Isso é o início, pois a região merece muito mais investimentos para viabilizar este porto – frisa Brito.

Cesa de portas abertas

O presidente da Cesa, Juvir Luiz Mattuella, afirma que a parceria firmada com a Coriscal foi o primeiro passo para a retomada da navegação pelo Rio Jacuí, “o que é bom para a Cesa, para a Coriscal e para toda a região”. De acordo com Mattuella, qualquer empresa poderá utilizar o terminal de embarque da Cesa para escoar a produção pelo Jacuí.

– O importante foi darmos o primeiro passo. O Governo Yeda quer usar a hidrovia e está investindo. Isso vai movimentar a economia e todo mundo sairá ganhando – projeta Mattuella.

O terminal da Cesa tem a capacidade para embarcar 300 toneladas de grãos por hora.

Granol quer o Jacuí

O diretor da Granol em Cachoeira do Sul, Armando Hiroschi, afirma que a empresa tem interesse em usar a hidrovia para transporte de cargas, aguardando apenas a Superintendência de Portos e Hidrovias concluir a recuperação do trecho até o cais de Porto Alegre para elaborar seu cronograma. De acordo com Hiroschi, pela hidrovia a Granol poderá receber soja e escoar farelo. A indústria possui o seu próprio terminal de carregamento no Rio Jacuí, que precisa ser recuperado para entrar em operação.

Promessas renovadas devem sair do papel

O secretário municipal de Indústria e Comércio, Giuliano Fernandes, considerou importante a renovação da promessa de investimentos da hidrovia, pois assim há esperança de ver o Rio Jacuí sendo explorado para navegação, o que proporciona o desenvolvimento de Cachoeira do Sul.

– Tudo o que está sendo discutido hoje a gente já discutiu. Hoje há produto para escoar pelo rio, bastando apenas que a hidrovia esteja em plenas condições – salienta Fernandes. Ele fez questão de parabenizar a Coriscal, que conseguiu viabilizar na prática “o que estava sendo discutido há anos”.

Dia para entrar para a história

O presidente da Cacisc, Franco Pudler, não esconde a alegria em ver reativada a hidrovia do Rio Jacuí.

– Nós estamos escrevendo na história de Cachoeira do Sul um capítulo que vai mudar o futuro da região. Este é um momento histórico para o desenvolvimento, usando esta grande riqueza que é a hidrovia – frisa Pudler.

O presidente enfatiza que a hidrovia torna a região mais competitiva, além de ser fundamental para preservação de vidas devido aos acidentes.

– Não é apenas pela importância econômica que nos coloca sob os holofotes para novos investidores, mas pela valorização da vida humana e preservação do meio ambiente, pois a cada barco que parte são 30 caminhões a menos na estrada poluindo – ressalta Pudler.

Ele observa ainda que o transporte por hidrovias diminui os custos de frete, o que reflete na redução de despesas de produção.

– Nós estamos abrindo as portas de Cachoeira para começar a produzir para exportação, atraindo empresas que estejam interessadas em transportar pelo Rio Jacuí – afirmou.

Arroz para Maranhão

O gerente da Cereais Araguaia no Rio Grande do Sul, Robério Patta, salienta que o custo para transportar o arroz beneficiado na Coriscal para o Maranhão usando barco é mais barato do que no caminhão.

– A logística é importante para o nosso negócio e por água o custo é 25% menor – frisa Patta.

A Araguaia já levou para o norte do país 20 navios carregados de arroz, partindo do porto de Rio Grande. A intenção é levar de Cachoeira entre duas e quatro mil toneladas do cereal a cada mês. Hoje partirá para Rio Grande a barcaça Aliança II com cerca de 1,1 mil toneladas do produto, o segundo carregamento da Coriscal em menos de dois meses. O carregamento foi no terminal da Cesa.

Rio Jacuí é estratégico

O Rio Jacuí é fundamental para a ampliação do transporte de cargas por hidrovias no Rio Grande do Sul, tendo em vista que liga a região central do estado com o porto de Rio Grande, que ocupa a quarta posição na movimentação de cargas do Brasil e é responsável pela maior parte das exportações gaúchas. O percurso é de 550 quilômetros até Rio Grande. Com calado de 2,5 metros, o Jacuí comporta barcaças carregadas com até 3,5 mil toneladas, equivalente a 100 carretas.

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