Cadê o governo que estava aqui?
O arroz é um grão social, e como tal precisa ser tratado.
A crise de comercialização do arroz brasileiro é uma tragédia anunciada, ratificada e justificada ao longo do ano. Cerca de 20 audiências foram realizadas neste ano-safra em Brasília, com representantes da cadeia produtiva apresentando razões de sobra para o governo federal entrar com mecanismos de comercialização para o arroz no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A desculpa, por boa parte do período, foi a de que os preços do arroz ainda não haviam caído “abaixo dos preços mínimos de garantia, de R$ 25,80 a saca (50 quilos/58×10), em todas as regiões do Rio Grande do Sul”. Nenhum produtor ou indústria pediu esmola, mas o cumprimento da lei que determina a garantia de preço mínimo para a comercialização do principal produto da cesta básica.
Depois de três anos nos quais o governo federal, por meio do Mapa e da Conab, foi eficiente em intervenções neste sentido, em 2010 ele pecou pela omissão. É preciso entender que quando uma cadeia produtiva busca no apoio governamental as regras que vão balizar o mercado do arroz, não está atrás de lucro fácil. No caso do arroz, para produtores e até algumas indústrias é uma questão de sobrevivência. E isso atinge toda a cadeia produtiva e, de alguma forma, chegará ao consumidor, pois não se trata de um produto de alto valor agregado negociado a dólares e euros. É o velho prato que está na mesa de cada brasileiro, vendido por um punhado de reais nos supermercados, mas por até cinco vezes o valor que é pago ao produtor. É o cereal que move o complexo industrial da região mais pobre do Rio Grande do Sul e de uma parcela significativa de Santa Catarina.
O arroz é um grão social, e como tal precisa ser tratado. A omissão do governo, ainda que aplique o PEP em novembro, já custou um preço significativamente alto aos municípios produtores, aos arrozeiros e à cadeia produtiva. Qualquer recurso já vem tarde. Espera-se que na entrada da próxima safra alguém se sensibilize na esfera federal e assegure mecanismos capazes de estabilizar a oferta e equilibrar as cotações. Financiar a comercialização em 2011 é ainda mais vital ao setor.