Cartel dos insumos encarece safra 2008/09

Multinacionais elevaram o preço dos produtos usados na lavoura de arroz. Culpa de cartel?.

Produzir arroz no Brasil não é uma tarefa fácil. Pior que o trabalho braçal e a dedicação para fazer a planta ter alta produtividade, é entender o viés do mercado. O momento é de negociações, onde o produtor tem na mão o resultado da sua safra com baixa cotação e do outro lado dívidas com bancos e fornecedores. Para complicar ainda mais o mercado, a cadeia produtiva está se perguntando o que aconteceu com o preço dos insumos, que estão até 60% mais baratos em relação ao ano passado. Na safra 2008/09 o custo de produção para casa de 50 quilos ficou na casa de R$ 32,00, sendo que a cotação do arroz hoje está em R$ 24,00.

O deputado federal e produtor de arroz Luis Carlos Heinze (PP) não faz rodeios para dizer que existe um cartel das empresas multinacionais detentoras dos principais insumos agrícolas. Essa é a explicação lógica para muitos dos produtos usados na lavoura estarem sendo ofertados com valor até 60% menor.

– As empresas colocam o preço que querem e o produtor, tendo dívidas para pagar e precisa comprar para produzir, fica refém das multinacionais. E isso não acontece só na produção de arroz – lamenta Heinze.

Pagar caro pelos insumos significa elevar o custo de produções, reduzindo lucro ou até contando prejuízo na comercialização, como esta acontecendo agora. O presidente da União Central de Rizicultores (UCR), Pinto Kochenborger, colocou as contas no bico da caneta e chegou a conclusão que os insumos ainda devem baixa mais.

– Para vender arroz a R$ 24,00, como está, os produtores deveriam ter smais apoio do Governo Federal e uma política agrícola confiável – argumenta Kochenborger, reclamando da concorrência com Argentina e Uruguai.

MERCOSUL

O produtor rural José Derli Mourales aponta o Mercosul e o câmbio do dólar como um dos fatores para a queda de preços nos insumos.

– A crise mundial afetou todos nós. Os insumos são todos importados e têm cotação em dólar. Quando o produtor precisou plantar o preço estava muito caro e isso nos prejudica agora – argumenta Mourales.

Segundo ele, os países do Mercosul conseguem produzir arroz com menor custo e colocam esse produto no Brasil em uma concorrência desleal.

– As lavouras de arroz da Argentina e Uruguai são mais férteis e os insumos são bem mais baratos lá – analisa Mouralles.

Segundo ele, defensivos agrícolas chegam a custar na Argentina e Uruguai oito vezes menos do que o preço cobrado no Brasil.

Importante

Para o presidente da UCR, Pinto Kochenbporger, o Governo Federal deveria implementar ações para reduzir o preço do óleo diesel usado na produção de alimentos, além de criar agroquímicos genéricos, assim como existe na medicação humana.

– Em 2006, quando fomos de caminhão para Brasília protestar, o Governo Federal prometeu colocar no mercado os genéricos dos herbicidas. Assim como as farmácias têm remédios genérico, a lavoura teria produtos mais baratos para o cultivo do arroz – lembra Kochenborger.

ATENÇÃO

Cachoeira do Sul cultivou 39.360 hectares de lavoura de arroz na safra 2008/09, com uma produtividade média de 6.896 quilos de cereal por hectare.

Quanto custa a lavoura de arroz?

Para cultivar cada hectare de arroz os produtores gastam em média:

300 litros de óleo diesel. Produto que custa entre R$ 2,10 e R$ 2,20 o litro.

300 quilos de uréia. O produto usado para levar nitrogênio ao solo custou entre R$ 1,8 mil e R$ 1,9 mil no ano passado. Hoje o preço está na casa dos R$ 800,00.

5 litros de glifosato. Esse é o nome do princípio ativo de várias marcas disponibilizadas no mercado para combater plantas invasoras da lavoura de arroz. No ano passado o custo foi de R$ 18,00 o litro. Hoje, o mesmo produto está sendo oferecido no mercado por R$ 7,50.

300 quilos a 500 quilos de adubo. Existem várias composições do adubo, produto que leva ao solo nitrogênio, cálcio e potássio. No ano passado, uma tonelada de adubo custava cerca de R$ 1,8 mil. Hoje o preço está na casa dos R$ 1 mil.

Herbicida, inseticida e fungicida são produtos usados em menor escala, mas que também têm custo elevado. Para cada hectare de lavoura são gastos, em média, 1 litro de herbicida (R$ 70,00 o litro), de 250 ml a 1 litro de inseticida (R$ 60,00 o litro) e de 250 mil a 500 ml de fungicida (R$ 50,00 o litro).

É preciso considerar ainda gastos com funcionários, irrigação, consumo de energia elétrica, aquisição de sementes, fretes para transporte do arroz, custos para secagem e armazenamento. O situação é ainda pior para quem planta em área arrendada e tem maquinário antigo que gasta muito com reformas e manutenções

O quatrilho

Insumos x preço do arroz

“O cartel dos insumos é evidente. São duas ou três empresas multinacionais que detêm o produto. Eles colocam o preço que eles querem. No mundo, o Brasil é o quarto maior consumidor de insumos para a lavoura e não tem mecanismos para proteção dos produtores”
Luis Carlos Heinze, deputado federal e produtor de arroz

“O Brasil precisa é de política agrícola que atenda os interesses do homem do campo. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Governo indeniza os produtores com base nas previsões climáticas, evitando uma superoferta de grãos. As lavouras produzem somente o necessário e o preço ganha estabilidade”
José Derli Mouralles, produtor de arroz e conselheiro do Irga

“Assim como a comercialização da safra, o preço dos insumos acompanhou a lei de oferta e procura. Houve uma demanda grande pelos insumos, então os preços se elevaram”
Arlei Haetinger, produtor de arroz e suplente no conselho do Irga

“As montadoras de máquinas agrícola estão no Brasil, onde a carga tributária é muito pesada. O mesmo trator que custa R$ 200 mil para o produtor brasileiro é vendido a R$ 130 mil na Argentina ou Uruguai”
Pinto Kochenborger, presidente da UCR

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