Cesta básica subiu menos que a inflação nos últimos 15 anos

Arroz e feijão dos bons e das melhores marcas deixaram de ser um luxo para a aposentada Geralda Teresa da Silva, depois de muitos anos em que ela se viu obrigada a escolher alimentos tão essenciais na mesa do brasileiro sempre pelos preços mais baixos encontrados nas gôndolas dos supermercados.

Arroz e feijão dos bons e das melhores marcas deixaram de ser um luxo para a aposentada Geralda Teresa da Silva, depois de muitos anos em que ela se viu obrigada a escolher alimentos tão essenciais na mesa do brasileiro sempre pelos preços mais baixos encontrados nas gôndolas dos supermercados. Na compra da carne, a dificuldade foi a mesma até que ela pudesse incluir o frango no cardápio de todo fim de semana e passar a consumir com mais frequência a carne de boi, embora ainda limitada às ofertas. A mudança radical do orçamento sufocado para um alívio mais que benvindo reflete a variação comportada dos preços da cesta básica em Belo Horizonte comparada à inflação e ao salto dado pelo salário mínimo nos 15 anos que o Plano Real completou em junho.

“Agora só uso do melhor, mas dá para melhorar mais. Fora das ofertas, os preços são muito altos ainda”, afirma dona Geralda, atenta às promoções anunciadas, semana passada, num sacolão do centro de BH, a alguns passos da tumultuada Avenida Amazonas. O economista Carlindo Rodrigues de Oliveira, do escritório regional do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconomicos (Dieese) conferiu as contas que animaram a dona de casa. Os gastos com os 13 produtos básicos de alimentação que compõem a cesta criada no governo de Getúlio Vargas – além do arroz, feijão e carne, leite, batata, tomate, pão de sal, café, farinha de trigo, banana, açúcar, óleo de soja e manteiga – encareceram 234,6% entre junho de 1994 e junho passado na capital mineira.

Medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial do governo, a inflação foi de 246,1% no mesmo período e a correção do menor salário pago no país bateu em 617,7%. O feijão, com variação de 192,9%, foi o quarto produto da lista de alimentos que apresentaram evolução de preços bem abaixo do custo de vida. (veja tabela) O arroz, por sua vez, teve um comportamento próximo do IPCA, ao encarecer 242,4%, mas a maior surpresa para quem vive do salário mínimo pode ter sido a da carne. Os preços do produto variaram 230,9% no aniversário de uma década e meia do Real.

“A queda da inflação ajudou, mas há outros dois fatores determinantes para a evolução dos preços da cesta, o aumento da produção agrícola e a volta do crescimento econômico do país”, afirma Carlindo Rodrigues. A performance mais favorável dos alimentos para a população de menor renda foi interrompida pela alta verificada no ano passado, quando a comida ficou mais cara não só no Brasil, mas no mundo, e este ano houve uma acomodação. Se os alimentos não funcionam como vetor de inflação, também mostram, em alguns casos, altas que preocupam gente como dona Geralda Silva e os irmãos Marcos Antônio e Henrique Padilha de Araújo.

Guiando o carrinho de compras de hortigranjeiros, Henrique veta a compra do tomate, encontrado a R$ 1,69 o quilo, R$ 0,59 a mais na pesquisa que eles fizeram em outro estabelecimento perto de casa. O preço do tomate ficou 404,5% mais caro entre junho de 1994 e o mesmo mês deste ano, campeão dos produtos da cesta básica com percentuais de aumento bem superiores à inflação. Ainda assim, Antônio Padilha recomenda a pesquisa de preços associada ao cuidado especial do consumidor em observar a qualidade dos alimentos. “Se for de má qualidade, não compensa o consumidor levar porque o preço é mais baixo”, afirma.

2010 ainda é um ponto de interrogação

Os preços dos alimentos ficaram fora do radar de indicadores que preocuparam os economistas este ano, mas desenham uma enorme dúvida para 2010. A principal dúvida de Salomão Quadros, coordenador dos índices de preços da Fundação Getúlio Vargas, está na capacidade da safra agrícola brasileira de atender ao aumento do consumo e das exportações. “Este será um fator chave para a inflação e a cesta básica no ano que vem”, diz Quadros. Ele acredita que o grupo dos alimentos encerrará este ano com uma evolução de preços talvez equivalente à metade da variação do custo de vida.

Carlindo Rodrigues, do Dieese, lembra que produtos como o açúcar, café e óleo de soja são influenciados diretamente pelas cotações no mercado internacional, outro motivo que torna incerto o cenário de 2010 para a dona de casa. Nos últimos 12 meses até outubro, o tomate e a batata foram os itens da cesta básica que mais encareceram em Belo Horizonte, alcançando variações de 71,35% e 63,16%, respectivamente.

O cobrador Adão Gilson percebeu a redução dos preços do produto que compra para família a cada 15 dias. São R$ 80 gastos por mês com frango e carne para bife, de uma defesa total de R$ 400 com alimentação, mas a proteína ainda costumar faltar à mesa, apesar da condições de vida melhores. “Às vezes, ainda deixo de comprar ou substituo por uma opção mais barata”, afirma. Na semana passada, Adão encontrou o frango inteiro por R$ 2, frente aos R$ 3,20 que chegou a pagar no início do ano.

Em outubro, a cesta básica apurada em BH pelo Dieese somou R$ 220,52, representando queda de 0,98% em relação aos gastos medidos no mesmo mês do ano passado. Carlindo Rodrigues, do Dieese, observa que os preços do café e do açúcar poderão seguir movimento crescente nos próximos meses.

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