Chávez ocupa nova fábrica de arroz, e empresários atacam tabelamento

Produto, ausente de supermercados em Caracas, é vendido com ágio por camelôs.

Chávez ocupa nova fábrica de arroz, e empresários atacam tabelamento

A intervenção militar nas principais fábricas de beneficiamento de arroz da Venezuela provocou ontem um bate-boca entre o setor privado e o governo Hugo Chávez. Para os empresários, a culpa pelas falhas no abastecimento é do governo, ao controlar quase metade da produção e manter o preço congelado. Já o Ministério da Agricultura acusa as empresas de produzir apenas variedades de arroz não-tabeladas para ter mais lucro.

Segundo a Associação Venezuelana de Moinhos de Arroz (Asovema), a empresa Polar, ocupada pelo governo desde sábado, responde por apenas 6% da produção nacional, enquanto a marca Mary, tomada ontem, atende a 24% do mercado. Já a participação do Estado venezuelano alcança 46%.

Ontem, o representante da Polar, Luis Carmona, admitiu que apenas 10% do que é produzido pela empresa é arroz branco, sujeito ao tabelamento de preços, mas disse que o custo da produção de um quilo equivale a R$ 4,90, e o preço da mesma quantidade do produto está congelada em R$ 2,40.

Carmona também disse que a produção da Polar está baixa porque não há produção interna suficiente, e o governo não vem autorizando importações. Ele disse que a empresa, com participação pequena no mercado, não deveria ser responsabilizada pela falta de arroz.

Em resposta, o vice-ministro de Economia Agrícola, Richard Canán, negou a falta de matéria-prima e disse que não havia “nenhuma justificativa” para que a fábrica da Polar operasse com metade da capacidade.

– Estavam produzindo arroz com sabor, o que é uma violação à regra. Não é uma expropriação, apenas se quer assegurar que as plantas produzam o estabelecido.

Fila do arroz

As falhas no abastecimento de produtos básicos são constantes desde que o governo adotou o tabelamento, em 2003 -desde então, a alta do petróleo e as políticas distributivas de Chávez provocaram uma explosão no consumo.

Por outro lado, a produção interna não acompanhou a demanda, em meio ao difícil relacionamento entre Chávez e o setor privado, que reclama das mudanças de regra, das nacionalizações e do congelamento – apesar de a Venezuela ter a maior inflação da América Latina -30,9% em 2008.

Ontem, a Folha visitou dois estabelecimentos comerciais em busca de arroz branco: uma unidade do Mercal, pertencente ao governo nacional e instalado numa favela, e um supermercado de luxo numa zona nobre de Caracas. Não encontrou em nenhum dos dois.

O Mercal visitado fica no Petare, o maior conjunto de favelas de Caracas. Por volta das 12h locais, 51 pessoas esperavam o descarregamento de um caminhão.

– Vim comprar o que tem – disse a empregada doméstica Rosalia Cordero, 42, que esperava havia duas horas.

Segundo ela, é fácil encontrar arroz branco nos camelôs (inclusive desviados do próprio Mercal), mas o preço sai por até R$ 6,60, enquanto o governo vende por apenas R$ 1,10.

– Prefiro ficar e pegar esse sol na careca para não dar dinheiro a esses bandidos – disse o técnico de ar condicionado José Nibles, 54, em referência aos supermercados privados.

Já no supermercado Excelsior, em Santa Eduvigis (leste), não há arroz branco há seis dias. Segundo um funcionário, as empresas privadas de fato não produzem muito da variedade, alegando que dá prejuízo.

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