Chega! Os arrozeiros não aguentam mais!

Produtores de arroz dão o grito de basta e exigem políticas imediatas para salvar a lavoura.

Mais de dois mil produtores de arroz. de pelo menos 80 municípios gaúchos e catarinenses deram um grito de “basta” em Restinga Seca, na Depressão Central gaúcha, nesta quarta-feira. Com uma dívida avaliada em 2015 em R$ 3,5 bilhões, preços até R$ 12 reais abaixo do custo de produção para a safra, custos fora de controle, barreiras fiscais em vários estados brasileiros, os orizicultores do Sul realizaram uma mobilização que reativou o movimento Te Mexe Arrozeiro.

O livro de presenças foi assinado por quase 1.600 pessoas. "Muita gente acabou não assinando pela superlotação do espaço e porque muitas pessoas se revezavam entre o pavilhão e as dependências do parque", explica André Tonetto, presidente da Associação de Arrozeiros de Restinga Seca. 

Lívia Carvalho, dirigente arrozeira em Palmares do Sul, fez uma manifestação emocionada e enfatizou que a lavoura de arroz já passou por muitas crises, mas jamais teve um custo de produção tão alto e um preço tão dissociado da realidade e da necessidade do agricultor. “O Sul do Brasil representa 80% da produção nacional e seus produtores estão entre os mais eficientes do mundo, mas não há como superar as barreiras quando elas estão fora das porteiras, além do nosso alcance, quando elas dependem das políticas de governo e de um acordo como o do Mercosul em que só nós estamos pagando o preço. E ele é altíssimo”, resumiu Ademar Kochenborger, presidente da mais antiga associação arrozeira gaúcha, a União Central de Rizicultores (UCR).

Mais de 20 ônibus, vans e centenas de automóveis tomaram a área de estacionamento do Centro de Eventos de Restinga Seca. O pavilhão de feiras ficou superlotado com mais de 2 mil arrozeiros e havia fila para entrar. Os produtores começaram a chegar ainda na noite de terça-feira na cidade, boa parte deles levando cadeiras de praia, lanche, chimarrão e garrafas de água. Na terça-feira um grupo de lideranças se reuniu para formar uma pré-pauta e definiu que os representantes de cada cidade teriam espaço para falar e apresentar suas propostas e relatar a realidade das lavouras.

A assembleia pública iniciou pouco depois das 8h e alongou-se até a tarde. Depois um grupo de 30 lideranças aclamadas pela assembleia se reuniu para definir o documento que será levado às entidades representativas, legisladores e aos governos estaduais e federais. Entre as reivindicações está a realização de leilões de até 1,2 milhão de toneladas de arroz em programas como PEP, Pepro e AGFs, anunciadas ainda ontem pelo governo federal. A medida atende uma demanda da Federarroz e da Farsul.

“Alivia. Vai ser importante para balizar o piso de preços pelo preço mínimo agora na colheita, quando os preços poderiam ficar ainda mais baixos. Já há empresas cotando o arroz novo a R$ 31,00 por saca e chegou a se falar em preços abaixo de R$ 30,00. Neste caso os leilões são positivos, mas não podemos esquecer que R$ 36,00 ainda fica R$ 7,00 abaixo do nosso custo de produção e para honrar nossos compromissos e sobreviver e seguir investindo na cultura nós precisamos ter algum lucro. Também precisamos lembrar que parte da lavoura foi perdida há duas safras e as dívidas parceladas em cinco vezes. Então há um passivo a ser pago que vai além do custo desta safra”, relata o arrozeiro Cláudio Roberto Possebon, secretário da Agricultura de Restinga Seca.

O prefeito de Tapes, Silvio Rafaelli (PDT), que também é arrozeiro, destacou a importância do movimento no sentido de mobilizar as bases do setor. O apoio ao fortalecimento das entidades setoriais foi lembrado em vários discursos.

Raul Borges Neto, produtor em Itaqui, frisou a necessidade do setor mostrar força e mobilização para convencer o governo federal a agir para solucionar o endividamento. “O produtor não quer deixar de pagar. Quer pagar a conta com o suor de seu trabalho, mas para isso é preciso estabelecer prazo e condições viáveis. Como se paga uma conta recebendo por um produto um terço a menos do que custou para produzir”, questiona.

Diversos produtores falaram em redução de área e relataram casos de orizicultores que deixaram a atividade por inviabilidade econômica. “Nem todo mundo pode investir em rotação com soja, seja pelas áreas baixas que tem ou pela falta de capital mesmo e o grande risco, temos o arroz vermelho que voltou a tomar conta das lavouras, o manejo cada vez custa mais. A indústria financia, mas o juro é alto e vence no pico da colheita com o arroz quase de graça. É prejuízo. E ainda assim estamos sendo empurrados para reduzir área, fazer três cortes de lavoura onde havia duas, ou duas onde havia uma. Eu mesmo vou devolver uma área arrendada há mais de 15 anos, com 75 hectares, para reduzir o custo”, ilustrou o rizicultor José Carlos Dresch, de São Sepé.

As lideranças do movimento definiram como ação emergencial a entrega das demandas às entidades e governos. Mas, permanecerão em vigília para convocar novos movimentos. Os coordenadores têm feito grandes esforços para unir as diversas correntes de pensamento dos inúmeros produtores.Tanto que do evento participaram políticos das mais diversas linhas políticas, o que fortaleceu as propostas, mais do que justas.

“Nossa ideologia é o arroz e a defesa de nosso setor e da segurança alimentar de nosso país. Nós garantimos um dos produtos mais elementares da alimentação brasileira, botamos comida na mesa, e merecemos respeito e o reconhecimento de nosso trabalho”, resumiu Ademar Kochenborger. Os produtores, através de deputados ligados à orizicultura, estão buscando agendar uma audiência com o presidente da República e com o governador do Estado.

AS DEMANDAS URGENTES

1. Mecanismos de comercialização para enxugar a oferta de arroz.

2. Que o Brasil realize doações humanitárias para áreas de risco e vulnerabilidade alimentar.

3. Reestruturação do passivo da lavoura em até 25 anos com mecanismos que viabilizem o pagamento e a reinserção no crédito oficial.

4. Imediata suspensão das importações de arroz do Paraguai, Argentina e Uruguai até que acha um acordo de reciprocidade e tratamento igualitário nas legislações ambientais, trabalhistas, sanitárias, tributárias.

5. Adiamento automático dos pagamentos vencidos e a vencer de custeio, investimento, prorrogações e verbas de comercialização nos bancos públicos, privados e de fábrica até que haja um preço de venda condizente com o real custo da lavoura arrozeira.

Fonte: Comissão Organizadora do Te Mexe Arrozeiro

6 Comentários

  • Quem está na atividade arrozeira a pelo menos 20 anos, sabe que o problema de preços do arroz, não voltou, ele persiste. O nosso problema não é o preço atual do arroz, que hoje está em 10 a 12 dólares o saco de 50kg. Este preço está dentro da média mundial
    Nosso problema é o custo de produção, muito superior a media. Dessa forma como seremos competitivos no mercado interno e externo??????
    O que eu vi em 2017, produtores gaúchos com silos cheios de arroz da ótima Safra 16/17, esperando o preço melhorar para vender o arroz. Resultado… As indústrias importaram arroz mais barato do Paraguai para abastecer o mercado interno. Agora precisam vender o arroz para esvaziar silos para a colheita, aí o preço cai. Enquanto isso os paraguaios desovavam seus estoques.
    Não vejo solução os AGF, o governo compra arroz barato, a preço mínimo, e quando o preço melhorar, devido a redução da produtividade, o governo vende o arroz e derruba os preços.

  • Ontem foi a verdadeira abertura da colheita… mostrou-se a realidade nua e crua… não aquela que o governo e a indústria sonha!!! Infelizmente avisei que seria o ano da quebradeira geral… e será!!! Quem alongar as dividas novamente será excluido de futuros custeios, egfs, etc etc… Não é à toa que milhares de produtores seguem plantando apenas com CPRs… Tem muita gente que segue plantando para ver no que vai dar… E isso é muito prejudicial a classe como um todo!!! O governo de iniciativa própria não irá romper acordos do Mercosul pelo simples fato de que os demais países irão retaliar e reduzir compras das industrias do centro do país… Isso geraria ainda mais desemprego… Se entrarem com medida judicial a AGU recorre, recorre e recorre…Somente uma liminar muito forte teria força nessa hora!!! Um pedido de moratória por 2 ou 3 anos junto ao governo e bancos, com a liberaçao de agf, aumento do preço minimo para R$ 43, subsidios nas contas de luz, oleo diesel e insumos e equalizaçao nos tributos, nos moldes do que os produtores uruguaios estão pedindo seria muito importante!!! Somente esses leilões de PEP e Pepro não resolverão o problema… o preço permanecerá uns dias na casa dos 35 e, depois cairá para 28/33 no forte da colheita!!! Existe um tribunal de contas que fiscaliza doaçoes humanitarias… nao é bem assim prá ficar doando arroz… e tb não tem fundamento… o que não pode é ficar entrando arroz pesteado e envenenado… tem que cobrar e acompanhar as fiscalizaçoes… A hora que o consumidor tomar conhecimento de alguma irregularidade ng vai querer/trazer mais arroz de fora e quem trouxer inadvertidamente tem que pagar multas pesadas!!! E por fim… Se não exportamos o dobro das 700 mil toneladas do ano passado não tem jeito… Sempre comentava que o Brasil era corredor de importaçao/exportaçao de arroz… Hj tenho certeza!!! No Brasil de hj quem produz e trabalha não ganha nada… Só os especuladores… É por isso que afirmo… Precisamos trocar nossos politicos e mudar os rumos desse país!!! Precisamos de novas lideranças e de eliminar os pelegos… abraços!

  • Infelizmente são poucas as chances de sucesso por parte dos orizicultores, estou um pouco mais confiante porque a reunião ou assembléia de Restinga Sêca valeu mesmo, foram muitas manifestações e muita atenção do público presente. A grande imprensa comentou pouco por isso a maioria da população fica à mercê de saber a verdade, a tal de rbs pouco ligou para nós e temos que nos situar nos orgãos de imprensa local. Vamos ficar alertas, não podemos deixara peteca cair.

  • Exportação seria a melhor solução, mas pra isso precisamos de portos. Sabemos que nossos portos não tem estrutura para exportar grandes volumes de arroz. A soja que também precisa ser exportada ocupa os espaços. Infelizmente não podemos usar o porto de Mariel em Cuba, que nós pagamos pra construir.

  • Arroz em casca saca de 50kg Jaraguá do Sul $31.50

  • Exportação seria a melhor solução, mas pra isso precisamos de portos. Sabemos que nossos portos não tem estrutura para exportar grandes volumes de arroz. A soja que também precisa ser exportada ocupa os espaços. Infelizmente não podemos usar o porto de Mariel em Cuba, que nós pagamos pra construir.

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