Choveu no molhado

 Choveu no molhado

O milho, uma das culturas da rotação, não teve bom rendimento nesta safra

Clima prejudicou a rotação de culturas no RS na safra 2000/2001.

O clima foi o grande vilão da rotação de culturas em áreas de arroz no Rio Grande do Sul na safra 2000/2001. As chuvas atrapalharam desde a implantação da cultura até o seu desenvolvimento, gerando uma baixa produtividade média e não permitindo a implantação das culturas do seco em algumas áreas de várzea. A soja e o milho sofreram mais. O sorgo teve melhor desempenho frente ao quadro geral de estresse. Mesmo decepcionando numa primeira análise (em algumas áreas mais drenadas o milho e a soja tiveram produtividade razoável), a prática ainda tem motivos para ser mantida.

As chamadas lavouras de sequeiro, implantadas com mais intensidade nas várzeas gaúchas nesta safra para rotação com outras culturas, ficaram desuniformes e obtiveram baixa produtividade. Elas, no entanto, têm uma função muito mais importante do que produzir grãos: integram um programa que busca a melhoria da qualidade do solo e a redução do banco de sementes de arroz vermelho, a principal invasora das lavouras orizícolas. “Se tirar o custo na lavoura de soja em várzea, já compensa. O lucro vem numa maior produtividade do arroz. Esse é o foco da rotação”, afirma o produtor Paulo Dickow, do Passo do Seringa, em Cachoeira do Sul.

A rotação de culturas em áreas de várzea é uma prática agrícola, técnica, econômica e ambientalmente desejável, segundo o pesquisador da Universidade Federal de Santa Maria Ênio Marchezan. Segundo ele, o resultado pouco significativo obtido na colheita de milho, soja e sorgo em várzea este ano não compromete o objetivo principal da rotação com o arroz. “O foco é no arroz, as outras culturas são complementares e eventuais. A soja não produz na várzea o que produz na coxilha, mas em boas condições de clima, solo e manejo pode dar bons resultados em produção e produtividade, melhoramento do solo, redução do banco de sementes de arroz vermelho e, ainda, refletir no arroz”, garante. Para a próxima safra há uma tendência verificada de redução dos experimentos a campo com a rotação, embora as perspectivas climáticas para este trimestre final de 2001 sejam melhores do que no trimestre inicial.

 

Queremos pesquisa

O monocultivo do arroz gera o surgimento e aumento de determinadas pragas, moléstias e plantas daninhas específicas, que necessitam ser controladas por meios químicos. Isto causa elevação de custos de produção, podendo contaminar o ambiente e comprometer a competitividade da atividade agrícola.

Para manter a sustentabilidade do sistema é necessário um planejamento que vise maior rentabilidade das atividades agropecuárias, preservando os recursos naturais. A revista ouviu duas opiniões abalizadas sobre o tema.

 

De olho no mercado

“A proposta de utilização mais intensiva de áreas de várzea com o uso de culturas alternativas ao arroz, como o incentivo à formação de lavouras de milho, soja e sorgo, é justificada por aspectos técnicos, pelo potencial de aproveitamento destas áreas, baixa rentabilidade da lavoura arrozeira e pela necessidade de importação de milho para atender às necessidades do país”, atesta Ênio Marchezan, pesquisador da UFSM. A implantação de cultivos alternativos ao arroz em várzea, segundo Marchezan, necessita de muitos cuidados, porque os riscos ainda não estão bem quantificados. Também deve ser considerado que a introdução do sistema é proposta a um segmento de produção que enfrenta sérios problemas quanto à renda, que vem reduzindo sensivelmente nos últimos anos. Um insucesso pode inviabilizar a permanência na atividade.

 

Falta muita coisa

O gerente regional do Irga na Depressão Central do Rio Grande do Sul, Jaceguay Barros, lembra que as variedades de milho, soja e sorgo que são utilizadas na várzea foram desenvolvidas para o seco. “Até agora não há variedades específicas para estas condições”, lembra. Segundo Barros, é preciso um avanço na qualidade genética destas cultivares para chegar a variedades adaptadas às condições de várzea e com resistência estável ao estresse hídrico. “O produtor não pode ficar fazendo experiência, num ano de clima adverso ele acaba tendo prejuízo”, acrescenta. Por isso a orientação ainda é plantar só em áreas bem drenadas.

Questão básica 

Ainda vale a pena a rotação

Sim. A lista de benefícios é grande 

1. Reduz incidência do arroz vermelho e outras ervas daninhas

2. Enxuga o mercado

3. Gera uma alternativa de renda

4. Melhora, a longo prazo, a qualidade do solo 

5. Aumenta a produtividade do arroz e outras culturas 

6. Reduz os custos de produção

Há problemas também

1. O produtor não domina sistemas e a tecnologia destas culturas e não dispõe de mão-de-obra qualificada 

2. As variedades não estão adequadamente adaptadas à várzea 

3. Alto risco econômico pela suscetibilidade ao clima 

4. Alto custo da sistematização 

5. Características da várzea gaúcha, de difícil drenagem

A Fórmula 

Como fazer a rotação

1) O planejamento deve ser todo feito em torno do arroz, que é a cultura principal. Tudo o que for feito na área tem que ter por objetivo final melhorar a produção, a produtividade e a qualidade do arroz.

2) O objetivo principal da rotação deve ser a redução do banco de sementes de arroz vermelho na lavoura. A produtividade e a melhor qualidade do grão, em áreas não infestadas, podem ocorrer com a simples adoção de outras práticas de manejo e mudança de variedades de semente. Em áreas inçadas, no entanto, a rotação, apesar de todos os problemas, ainda é o mecanismo mais indicado pelas pesquisas.

3) Outro importante efeito da rotação é a melhoria das condições do solo.

4) O produtor e sua assistência técnica não podem errar. A lavoura arrozeira é um setor em dificuldades, pouco capitalizado, que precisa acertar e ganhar mais condições de resistir à espera de valorização do produto e um momento de capitalização. O grande trabalho da pesquisa é auxiliar o produtor a permanecer no sistema. Adotar a rotação correndo algum risco desnecessário pode ser o empurrãozinho final para que o produtor saia da cadeia produtiva do arroz.

5) O aplainamento da área é indispensável para corrigir o microrrelevo, eliminando as depressões e elevações do terreno, o que proporciona uma melhor drenagem da água, que é o principal problema desses ambientes.

Em função da pequena penetração da água no perfil do solo, estas áreas dispõem apenas de drenagem superficial. Com isso, almeja-se que o solo permaneça o menor tempo possível saturado, ou seja, sem aeração, quando cultivado com culturas sensíveis à falta de oxigênio.

6) Para o primeiro cultivo, em função do nivelamento, deve-se tomar cuidado com as áreas de cortes (locais onde se retira solo) e áreas de aterro (locais onde se deposita terra) e, com isso, as diferenças de fertilidade na área, que variam de acordo com o tipo de solo, profundidade do corte e outros aspectos. O arroz, como primeiro cultivo, gera maior rentabilidade e facilita a recuperação da área com menores gastos com fertilizantes. O controle de plantas daninhas nessas áreas merece atenção especial.

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