Clima atrasa plantio e aumenta custos de produção na lavoura

Divergência. Enquanto alguns estados enfrentam excesso de umidade, outros são prejudicados pela estiagem; produtores já se preocupam com perda na janela de plantio para segunda safra.

  A Região Sul do País tem passado por intensas chuvas nas últimas semanas e o Centro-Oeste apresenta uma estiagem conhecida como veranico. Os dois motivos geraram atrasos no plantio de commodities como soja, arroz, feijão e milho, aumento nos custos de produção com replantio e já preocupam produtores pela possível perda de produtividade na segunda safra.

O Rio Grande do Sul, que detém a maior área para plantio da rizicultura brasileira, com cerca de 1,15 milhão de hectares, terá entre 20% e 30% do arroz plantado fora do período ideal em função dos dias chuvosos. Das 12,1 milhões de toneladas produzidas na safra 2013/2014, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), 8,1 milhões de toneladas foram provenientes daquele estado.

"A Conab espera que tenhamos uma produtividade média de 7,5 toneladas por hectare, mas acredito que o clima fará com que cheguemos, no máximo, a repetir o resultado da safra passada, de 7,1 toneladas por hectare. Os produtores já estão preocupados", afirma o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Dornelles.

Atrasos e despesas

Nesta safra, a alta no preço dos insumos – pressionados pelo dólar – e da energia elétrica, por exemplo, gerou um ganho de 10% nos custos de produção de arroz, contabilizados entre R$ 4 e R$ 4,1 por hectare. Com a atual situação, Dornelles conta que deve haver um incremento de 5% sobre estas despesas, para cobrir gastos com replantio e aumento na quantidade de aplicações de defensivos na lavoura.

No município paulista de Casa Branca, cerca de 80% dos 15 mil hectares de milho já deveriam estar plantados se as chuvas tivessem vindo regularmente. Lá, o problema é justamente oposto ao do Rio Grande do Sul: a seca.

"Só conseguimos plantar entre 20% e 30% do milho até agora. Na soja, que cultivamos cinco mil hectares na região, ainda não plantamos nada, enquanto o ideal seria estarmos com até 40% da sojicultura semeada. O déficit pluviométrico fez com que não ativássemos os sistemas de irrigação, feitos aqui através do pivô e, além disso, teremos problemas com o plantio de batata que fazemos depois desta safra de verão", explica o coordenador de Operações da Cooperativa dos Bataticultores da Região de Vargem Grande do Sul (Cooperbatata), Antonio João Moretti, organização que recebe a produção de mais de 250 agricultores paulistas.

Temor pela "safrinha"

Os sojicultores do maior estado produtor da commodity, o Mato Grosso, estão com 30 pontos percentuais de atraso no plantio por conta do veranico inesperado e isso vai refletir na janela de semeadura do milho para segunda safra – a grande aposta dos milhocultores. A avaliação é da gerente da Comissão de Defesa Agrícola da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Franciele Dal’Maso.

"Ainda é cedo para dizer quais serão as consequências concretas desta falta de chuvas, mas isso vai ter algum impacto na colheita", conta a executiva.

Entre os dias 1º e 26 de outubro o índice pluviométrico do estado caiu. Nas próximas semanas, o agricultor mato-grossense vai tentar plantar o máximo que puder, para que a colheita, que geralmente acontece a partir de 15 de fevereiro, tenha início até o dia 25 daquele mês e possa terminar em março, como o previsto.

Franciele lembra que o sojicultor que precisar fazer o replantio, vai aumentar seus custos de produção com a compra de novas sementes.

Uma situação parecida acontece no Paraná, também com as lavouras de soja. As chuvas aconteceram, mas foram irregulares e insuficientes para a manutenção do plantio. O diretor do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab) do Paraná, Francisco Simioni, diz que os agricultores que planejaram plantar a commodity com antecedência tiveram problemas.

"Vamos saber com exatidão na próxima quinta-feira, quando consolidamos o resultado mensal, mas já temos um certo atraso previsto que influenciará lá na frente", projeta Simioni.

Entretanto, diferentemente do Mato Grosso, a região Sul conta com um agravante caso perca o período ideal para plantio da "safrinha", o risco de geada. Apesar do cenário ainda ser plausível de mudança, o diretor do Deral ressalta que os produtores já traçam estratégias em parceria com o Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-PR) a fim de minimizarem perdas.

Prejuízo na colheita

A qualidade do trigo colhido nas lavouras gaúchas tem deixado a desejar. Segundo o Emater-RS, o excesso de chuvas durante o desenvolvimento da cultura, fez com que o PH dos grãos não atingissem o patamar necessário para o produto ser classificado como trigo, forçando o agricultor a entregar "triguilho".

"Esta situação tem feito com que cooperativas e cerealistas recusem o produto da atual safra, uma vez que ainda existem estoques de períodos anteriores, de melhor qualidade", diz a entidade por meio de seu último informe conjuntural.

Além da baixa qualidade, as lavouras têm apresentado produtividade reduzida. Doenças fúngicas causadas pelo excesso de umidade ainda dificultam as vendas do grão como ração.

4 Comentários

  • Acho q os 10% no aumento do custo de produção do arroz, vai induzir a um custo do saco( bolsa ) de arroz em R$ 4,00. E não R$ 4,00 por hectare.

  • Seria R$400/ há custo bate os r$5500,00 e produtividade vai ser fraca mais da metade do RS vai plantar fora do mês de outubro, se o preço não passar longe dos r$40,00 governo pode começar a preparar PESA, securitizacao, etc…
    Custo alto, preço baixo que está mais a quebra pelo clima vai dar produtor no psiquiatra !!!
    SOJA NA VÁRZEA NELES!!!

  • Já estamos em novembro e a primeira quinzena já foi para o espaço segundo a previsão do tempo, funcionários parados, luz subiu, combustíveis esperaram as eleicoes, taxas de juros e por aí vai …
    Ou o arroz vale ou estaremos mais endividados

  • A janela de plantio preferencial, termina dia 10 deste mês, mais 7 dias para o plantio; e as lavouras estão completamente encharcadas, e continua chovendo……
    Não se consegue nem colocar herbicida e nem uréia nas áreas plantadas.
    Nas áreas de pré-germinado as pragas de solo e aquáticas estão atacando forte a tal ponto de ser necessário o replantio em grandes áreas.
    Não quero ser o profeta do apocalipse, mas um plantio como o deste ano, o plantador que for cardiopata está sujeito a ter um infarto, pois as contas a pagar não estão nem aí para o clima.

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