Com demanda fraca, efeito colheita começa a precificar o arroz

 Com demanda fraca, efeito colheita começa a precificar o arroz

Depois de abastecer-se durante a pandemia, clientela dos EUA e do Mercosul está comprando pouco

Cotações entram em escalada de queda e já andam em R$ 90,00 por saca em algumas regiões gaúchas.

Com o varejo indicando demanda fraca, indústrias abastecidas e garantia de que não faltará arroz no mercado até a próxima colheita, os preços no mercado interno enfraqueceram e aceleraram a sua trajetória de queda. O indicador de preços da saca de arroz de 50 quilos, em casca, no Rio Grande do Sul, da Esalq-Senar/RS, apontou R$ 95,43 de média nesta quarta-feira, dia 16, com retração acumulada em 6,72% no mês de dezembro. Em dólar, pela cotação do dia, a saca de 50 quilos equivaleria a R$ 18,62.

A trajetória do indicador demonstra que o mercado está precificando o arroz dentro da expectativa de colheita, na qual se espera, mesmo com dimensões até menores no volume colhido, preços médios de R$ 70,00 a R$ 75,00.

No mercado livre gaúcho existem negociações de arroz com 58% de inteiros entre R$ 90,00 e R$ 95,00 com produto “mais fraco”, para parboilização, sendo comercializado por até R$ 80,00 na fronteira oeste. O entendimento do mercado é de que o cenário não comporta mais preços acima de R$ 100,00 pela matéria-prima e deve manter-se recuando semanalmente até março/abril.

“O varejo só tem comprado o necessário para repor o estoque, pois entende que os preços devem cair R$ 1,00 ou R$ 2,00 por semana até março/abril, quando poderá se abastecer com produto mais barato pela pressão da oferta. Vale lembrar, porém, que embora essa tenha sido a regra por décadas, a aposta não deu certo em 2020 e ainda estamos sob pandemia, que aliás, tem se fortalecido nas últimas semanas”, avalia o analista e editor da revista Planeta Arroz, Cleiton Evandro dos Santos. Segundo ele, apesar do padrão histórico, a variável pandemia não pode ser completamente descartada.

Outro fator que pode pesar, segundo o analista, é a cotação do dólar. A moeda fechou em alta nesta quarta-feira (16), ganhando tração na parte da tarde conforme tomou fôlego também no exterior, após o banco central dos Estados Unidos, sem surpresas, manter os juros perto de zero. A moeda norte-americana subiu 0,30%, a R$ 5,1030. Na terça-feira, o dólar fechou em queda de 0,69%, a R$ 5,0877. Na parcial do mês, tem queda de 4,56%. No ano, ainda registra alta de 27,26%. “Mesmo com o dólar caindo para R$ 4,80 no início de 2021, como preveem alguns economistas, se os preços do arroz estiverem mesmo em R$ 70,00 teremos condições de exportar alguma coisa de arroz branco e em casca já na colheita”, assegura.

Para ele, uma vez confirmadas as condições competitivas, espera-se que a paridade de exportação seja o piso das cotações internas. A máxima dependerá de quanto o mercado aceitará pagar pelo produto, pois ao longo do ano devemos ter uma relação de oferta e demanda bem mais ajustada pela colheita em queda, estoques menores e o Mercosul também colhendo menos. “O desafio é que os Estados Unidos deem logo o start em suas vendas internacionais, uma vez que colheram 22% a mais do que no ano passado e são o maior competidor do Mercosul no mercado do arroz das Américas, do Oriente Médio e da Europa”, acrescenta.

MERCADO INTERNO

No mercado interno nota-se um varejo – e até consumidores – abastecidos e a queda da preocupação com os estoques nacionais. Tanto que a liberação das compras de arroz em terceiros mercados sem incidência da Tarifa Externa Comum (TEC) para 400 mil toneladas não será utilizada totalmente. “A projeção é de 255 mil toneladas compradas por este modelo, mas pode ser menos. E podemos levar em conta que algumas empresas, mesmo considerando os preços de oportunidade competitivos, se confessam arrependidas do volume adquirido e entendem que podiam ter comprado menos frente à realidade que se apresentou ao mercado nesta reta final do ano”, observa.

Com o varejo retraindo suas aquisições às dimensões impostas pelos consumidores, as indústrias com estoques para processar até o ingresso de produto da próxima safra, a expectativa é de um verão de mercado calmo e em regressão. Os varejistas seguem forçando descontos e negociando fardos abaixo de R$ 115,00 em marcas “de guerra”, também retomando as ofertas aos encartes de divulgação para o arroz do tipo 1. Já é normal encontrar o pacote de arroz de cinco quilos vendido abaixo de R$ 18,00 nos grandes centros.

Para o analista Cleiton Evandro dos Santos, a baixa até o pico de colheita é uma tendência. “Depois de 12 anos os preços recuperaram as perdas inflacionárias, por exemplo, que deveriam manter o arroz em casca em pelo menos R$ 75,00 a saca e avançaram até R$ 115,00, mas um estudo setorial indica que apenas 6% dos produtores tiveram acesso aos melhores preços, ou seja, 94% venderam arroz em valores com baixa rentabilidade. E este foi um ano incrível. Muita gente vendeu arroz abaixo de R$ 50,00, R$ 55,00”, lembra.

Para Santos, os produtores que colherem as primeiras lavouras bem cedo poderão ter acesso a um “prêmio”, que será comercializar ainda com valorização residual da temporada 2020/21. “As lavouras do tarde já pegarão em cheio a pressão de oferta”, entende.

1 Comentário

  • Efeito Cartel reduzindo os preços na época de recebimento das CPRs. Esse ano vão receber por R$ 50/60… Depois não vão ter arroz e os preços reagirão! Todos os anos a história é sempre a mesma! É tudo tão previsível que, sinceramente, eu não entendo como o pessoal cai. Lamentável, mas tem muita gente que não enxerga além dos dedão e garrão dos pés! Cadê a Federarroz, Farsul e Irga… Estão preocupados com a politica através da Festa do Arroz… É onde dá fama. Viraram órgãos politicos. Porém pouco fazem pelo produtor! Deveriam estar pedindo o fim da redução da TEC! Não existe mais insegurança alimentar. Vão esperar o preço cair mais 30% para se mexerem. Triste isso! Triste sina.

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