Com os dias contados
Variedade Cirad 141: o fim de um ciclo importante para a lavoura do MT
Cultivar Cirad 141 está condenada a desaparecer do MT.
É unanimidade: a cultivar de arroz Cirad 141, que chegou a ser considerada a salvação da lavoura de terras altas no Mato Grosso por mais de uma década, vai perder o seu espaço e será uma das razões para redução da área orizícola na safra 2005/2006. A Associação dos Produtores de Arroz do Mato Grosso (APA-MT) reconhece isso. Excelente para plantar em abertura de áreas, com boa estabilidade produtiva e rusticidade, o Cirad 141 foi bem aceito pelo mercado em seu lançamento (1994), valorizou a cultura do arroz de sequeiro e atraiu indústrias que marcaram o início das vendas do Mato Grosso para o país.
A multiplicação de “sementes crioulas” e o baixo uso de sementes fiscalizadas e certificadas fizeram com que ao longo do tempo a variedade perdesse suas características de grão longo fino, enquadrando-se agora como longo. Bom para o produtor, o Cirad deixa a desejar na panela. Leva 90 dias para “envelhecer” e permitir o beneficiamento e comercialização, tem cheiro característico e “gruda” na panela, desagradando ao consumidor.
Ovídio Costa Miranda, superin-tendente da Conab no MT, explicou que para ser longo fino, pelo menos 80% dos grãos precisam ter a espessura máxima de 1,90 milímetro. Os técnicos, entretanto, identificaram dimensões de 1,91 a 1,94 milímetro em mais de 80% dos grãos.
Com isso, só a região de Sinop, no norte do MT, tem um prejuízo superior a R$ 500 milhões, segundo levantamento da APA-MT. O preço mínimo do saco de 60 quilos de arroz longo fino no MT é R$ 20,70, enquanto para o longo é de R$ 10,73. Atualmente, o Cirad com 50% de inteiros – que era vendido acima de R$ 30,00 há um ano – é negociado FOB/Sinop por R$ 9,00 a R$ 11,00.
NOVA – O Primavera é vendido por R$ 17,50 a R$ 19,00 FOB e R$ 20,50 posto em Cuiabá. Para desovar parcialmente seu grande estoque, o Cirad tem sido misturado ao longo fino em percentual autorizado por lei. Diante deste cenário, os produtores vão optar pela cultivar Primavera, menos produtiva, mais exigente e de maior custo de produção, mas preferida pela indústria. A cadeia produtiva do MT e a Embrapa Arroz e Feijão, de Goiás, estão empenhadas na busca de novas e alternativas variedades para o Mato Grosso.
Questão básica
A capacidade ociosa das indústrias do Mato Grosso poderá ser suprida parcialmente pelo estoque de passagem, mas terá problemas porque é grande o volume de arroz comprometido por baixa qualidade, com alto índice de quebrados, grãos amarelos, picados de insetos, manchados e gessados. Sendo assim, é muito provável que o estado precise se abastecer de arroz nos estados vizinhos, no Sul e, se compensar, até importar do Mercosul.
Dito & Feito
“Não vamos apoiar o uso da semente Cirad 141 porque não é o arroz que a dona de casa quer”.
Presidente do Sindicato das Indústrias de Beneficiamento de Arroz de Mato Grosso, Marco Antônio Lorga, informando que a cultivar está descartada pelo mercado mato-grossense.