Com sotaque espanhol
Produção dos parceiros do Cone Sul crescerá de olho no mercado brasileiro
mais receptivo em 2017
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Câmbio, clima e o quadro de oferta e demanda do Brasil são os três grandes fatores determinantes para que os três países parceiros comerciais do Cone Sul da América – Argentina, Paraguai e Uruguai – mantenham a expansão de suas colheitas de arroz na próxima temporada baseada em produtividade. O mercado brasileiro, com expectativa de grande safra, também preocupa.
Em área mesmo, haverá retração na Argentina (cerca de 6,4 mil hectares) e no Paraguai (3 mil hectares), enquanto o Uruguai semeará a mesma superfície de 2015/16. Vale lembrar que houve perdas de áreas cultivadas e produtividade nestes países na temporada passada em função das enchentes e chuvaradas provocadas pelo fenômeno El Niño.
No conjunto dos três países, a redução em área corresponde a 1,6% da semeada na temporada passada – 8,6 mil hectares -, mas a produtividade deve aumentar 210 quilos por causa do clima mais favorável: da média de 7.046,6 quilos por hectare para 7.256,6 quilos por hectare. Com isso, a produção global dos três parceiros do Cone Sul deve somar 3,744 milhões de toneladas, aumentando 1,3% sobre a colheita passada. A Argentina se manterá como o maior produtor da região, afora o Brasil, com 38% da produção, seguida do Uruguai, com 33%, e do Paraguai, com 29%.
A área nestes países continua retraindo pelo alto custo de produção, baixa competitividade e, principalmente, falta de acesso ao crédito para boa parte dos agricultores. “O custo subiu muito nas últimas temporadas, a comercialização esteve travada em boa parte de 2015 para 2016 e as mesmas situações de dificuldade de crédito oficial, custeio direto das empresas que ocorrem no Sul do Brasil, acontecem em todo o Mercosul”, reconhece o diretor Daniel Filigoi, da Associação Correntina de Plantadores de Arroz (Acpa), da Província de Corrientes, na Argentina. Na região, a área cultivada, que representa metade da área argentina de arroz, será repetida nesta temporada, “mas não sem dificuldades”, acrescenta. “A relação entre os custos de produção e os preços de venda é muito apertada, às vezes negativa”, explica.
Por meio da cooperativa de produtores, reunindo ainda agricultores de Entre Ríos, os argentinos têm realizado exportações de arroz para o Oriente Médio e América Central por meio de complexa logística – a partir de portos fluviais nas províncias. “É uma forma de incentivar a comercialização e abrir este canal de escoamento, reduzindo a pressão interna de oferta”, reconhece Filigoi. Em função dos custos de produção e logística, atualmente a Argentina vem perdendo espaços no mercado brasileiro, especialmente na concorrência direta com o arroz do Paraguai. Cerca de 60% do arroz que cultiva é exportado (800 mil toneladas), ante as 600 mil que ficam em estoque e para atender ao mercado interno.
FIQUE DE OLHO
Em Corrientes, capital da província de Corrientes, na Argentina, chama a atenção a busca de produtos diferenciados à base de arroz que entram no mercado. Um dos mais tradicionais produtos argentinos, o alfajor – produzido com biscoito, recheio de doce de leite e cobertura de chocolate – ganhou sua versão com arroz. É possível encontrar várias marcas de alfajor de arroz, farinha de arroz e salgados (snacks) à base de farinha de arroz nos supermercados, cafés e padarias argentinas.
PARAGUAI
A área no Paraguai está passando por pequena queda apesar da expansão da presença no mercado brasileiro – por fatores cambiais e a baixa colheita desta temporada no Brasil. O alto grau de endividamento e a falta de crédito oficial, que gerou protestos e “tratoraços” em regiões produtoras, deixa clara esta situação. Isso quer dizer que a transferência do produto para a indústria se deu a preços baixos durante o “encalhe” de produto uma vez que o câmbio tornava os preços paraguaios impraticáveis no mercado do Brasil. Com a valorização do real, o grande mercado das Américas voltou a se abrir e compensar a exportação paraguaia, mas pouco cereal restava nas mãos dos agricultores. A produção será maior por causa da produtividade e do clima mais favorável. As indústrias brasileiras têm reclamado de uma variedade gaúcha, muito cultivada no Paraguai e Argentina, por causa de maciça presença de grãos gessados (com barriga branca).
URUGUAI
A safra uruguaia deve ser maior por conta da recuperação da produtividade e da repetição de área cultivada. Vale lembrar que cerca de 1,8 mil hectares foram perdidos por causa do El Niño na temporada passada e houve redução da produtividade por causa das enchentes em parte das lavouras do país. A situação não é diferente de outras regiões em relação ao endividamento, dificuldades de acesso ao crédito – embora o País tenha acenado com um fundo arrozeiro para salvar os agricultores endividados – e custos de produção em alta. Parte dos arrozeiros precisou devolver dinheiro às indústrias em função dos preços obtidos nas exportações ficarem abaixo do acordado nos contratos de compra e venda. O represamento das cargas na temporada passada ainda gera prejuízos. A redução dos preços ao produtor (em dólar) para esta temporada é um dos efeitos. A safra maior nos Estados Unidos (entre agosto e setembro) deixou os mercados das Américas, da África e do Oriente Médio mais ofertados, dificultando ainda mais os acessos do arroz do Cone Sul a estes mercados. Mas a luta não terminou. A qualidade e a busca de novas formas de consumo vêm mantendo a esperança dos agricultores da região.