Como o governo pretende ampliar o cultivo de arroz no Brasil
(Por Itamar Pelizzaro, Correio do Povo) Depois de recuar na intenção de importar arroz em meio à crise climática no Rio Grande do Sul, o governo federal anunciou, no Plano Safra da Agricultura Familiar 2024/25, medidas para incentivar o plantio de arroz pelo país.
O objetivo é estimular 10 mil famílias produtoras a aprimorarem o cultivo. O contingente inicial está localizado em 200 municípios de 14 estados pertencentes às regiões Nordeste, Centro-Oeste, Norte e Sudeste do Brasil.
“Queremos garantir o abastecimento de pequenos varejistas de periferia”, argumenta o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto.
Batizado de Arroz da Gente, o programa prevê ações de fomento como crédito com juros menores, assistência técnica e garantia de comercialização.
A ideia é também facilitar o acesso a tecnologias de máquinas, colheitadeiras e silos secadores de pequeno porte. A proposta inclui ainda a distribuição de sementes e o incentivo ao uso de cultivares tradicionais.
Para escoar a produção, a Conab aposta no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e nos contratos de opção de venda, em elaboração pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
“O arroz tem complexidade maior porque temos problemas no mundo”, afirma Pretto, citando a redução de estoques mundiais a partir da decisão a Índia de restringir suas exportações.
As medidas devem ser desenvolvidas nos estados do Maranhão, Alagoas, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Sergipe, Ceará, Bahia, Pará, Rondônia, Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais.
Dentro do plano, o governo prevê a elaboração de um diagnóstico da produção de arroz, feijão e mandioca, além de um sistema de informações da produção da agricultura familiar, povos indígenas, povos e comunidades tradicionais.
Como fica o Rio Grande do Sul?
Os arrozeiros gaúchos são responsáveis por praticamente 70% do arroz consumido no Brasil. O cultivo comercial do cereal é predominantemente irrigado, extensivo e realizado por médios e grandes produtores da Metade Sul do RS.
Segundo o presidente da Conab, a Embrapa já tem variedades de arroz adaptadas para produção nas regiões Nordeste e Centro-Oeste e vai produzir cultivares para as demais regiões.
“É muito arriscado termos o principal produto dependendo de um único Estado. Não é para tirar protagonismo do Rio Grande do Sul, mas uma necessidade”, ressalva Pretto.
O tema, segundo ele, foi discutido com a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) e Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz). E tem, nos altos custos logísticos e nos preços de venda ao consumidor do Norte e do Nordeste, uma das justificativas.
“Na nossa visão, o mercado só vai ser potencializar, não diminuir”, defende Pretto, que faz ressalva à concentração da produção em um território.
No Brasil, os estoques de passagem (sobre entre as safras) são de 400 mil toneladas. “É uma margem muito apertada ente o que se produz e consome”, conclui.