Competitividade é a chave do negócio
No ano em que completa 83 anos de história, o Sindicato da Indústria do Arroz do Rio Grande do Sul (Sindarroz-RS) elegeu um jovem empresário de 39 anos para a presidência em gestão que vai até 2019. Elio Jorge Coradini Filho, advogado, tem mais de 20 anos de atuação como gestor de lavoura e pecuária e desde 2006 como administrador na indústria da família, a Coradini Alimentos, em Bagé, no Rio Grande do Sul. Foi eleito por aclamação em chapa única no dia 15 de fevereiro substituindo ELTON DOELER, que cumpriu dois mandatos à frente da entidade. É uma espécie de “volta pra casa”, uma vez que seu pai, Elio Coradini, foi presidente da entidade durante nove anos.
Elio atua à frente da empresa com seu irmão, Antônio Coradini, é casado e tem duas filhas. Ele reconhece que a entidade precisa ser vigorosa na defesa dos interesses da indústria gaúcha e da competitividade, fator esse que julga a chave para a evolução do conjunto da cadeia produtiva em busca de mais equilíbrio e rentabilidade. Nesta entrevista, Elio diz o que pensa e o que almeja à frente do Sindarroz-RS com a equipe que assumiu a entidade.
PLANETA ARROZ – Ser aclamado presidente de uma entidade octogenária amplamente representativa, da qual seu pai foi presidente por muitos anos, é uma honra, mas também um desafio.
Elio Coradini Filho – Sem dúvida. Acompanhando os nove anos em que meu pai presidiu o Sindarroz eu percebia que era fundamental contribuir na melhoria do ambiente de negócios. Embora tenhamos alcançado algumas conquistas importantes, ainda não temos uma condição que consideramos justa sob vários aspectos. Apenas reclamar não resolve, precisamos atuar.
PLANETA ARROZ – Jovem, podemos dizer que o senhor gera um revigoramento no trabalho sindical do arroz?
Elio Coradini Filho – Embora os 39 anos de idade, tenho mais de 20 anos de trabalho no conjunto da indústria e enfrentei muitas situações delicadas. Elas ajudam a mostrar o que se precisa mudar e o que é necessário manter.
PLANETA ARROZ – Quais são suas principais metas e objetivos?
Elio Coradini Filho – No trabalho sindical não se pode fixar resultados, mas o objetivo principal que queremos trabalhar é um conjunto de ações que seja capaz de proporcionar melhor competitividade ao arroz gaúcho. Com isso toda a cadeia ganha, seja na equalização das alíquotas de ICMS ou na redução dos custos da exportação, para citar dois exemplos.
PLANETA ARROZ – Quais considera os principais desafios da indústria gaúcha do arroz atualmente?
Elio Coradini Filho – A questão do ICMS é a principal. Temos que incentivar ao máximo a busca de uma alíquota única para todo o Brasil. Hoje o arroz importado tem um tratamento tributário mais vantajoso que o nosso para vários destinos dentro do país. O Brasil trata melhor o produtor e a indústria estrangeira. Isso é um absurdo. Precisamos, junto com a Associação Brasileira das Indústrias do Arroz, buscar via reforma tributária a unificação de alíquotas. A tributação para o arroz nacional não pode ser maior que a do arroz importado.
ser maior que a do arroz importado.
PLANETA ARROZ – Os tributos são cada vez mais pesados e agora existe uma realidade de que a CDO não é repassada integralmente ao Irga. Como isso vem afetando a indústria?
Elio Coradini Filho – Hoje a CDO representa mais de 1,5% do valor do arroz. É muito alto quando o nosso grande desafio, e falo da cadeia produtiva, é ser competitivo. A cadeia produtiva gaúcha não tem a reciprocidade deste custo. A indústria necessita de um Irga eficiente na pesquisa de arroz de alta qualidade e produtividade, itens que destacam o cereal gaúcho.
PLANETA ARROZ – A cadeia produtiva do arroz vive uma nova realidade, na qual a indústria foi levada a assumir também o papel de financiador de quase dois terços da safra diante da baixa capacidade de endividamento e de acesso ao crédito oficial pelo arrozeiro. Quais impactos essa condição tem na indústria e nas relações entre o segmento industrial e o produtor?
Elio Coradini Filho – Um precisa do outro, logo, este modelo de negócios só funciona com confiança e se houver vantagem para ambos.
PLANETA ARROZ – Em todas as safras, basta a colheita começar a chegar aos silos e as cotações caem dentro de uma lógica de mercado. Ainda assim a indústria se torna a “vilã” dos preços baixos perante os produtores. Como a representação do setor pode agir no sentido de manter aberto o diálogo e fazer o contraponto a esta visão antagônica entre elos de uma mesma corrente?
Elio Coradini Filho – Em primeiro lugar, eu acredito que o mercado é soberano, para subir e para baixar. Diante disso, o diálogo precisa ser verdadeiro, com objetivo de buscar melhorias para todos.
PLANETA ARROZ – Os estudos mais recentes realizados pelo Irga indicam a concentração de indústrias no RS com o desaparecimento de empresas ano após ano. O que está acontecendo?
Elio Coradini Filho – Estamos vivendo uma espécie de Lei de Darwin, na qual sobrevive no mercado aqueles que são mais eficientes, e nem sempre é o maior. Por exemplo, se nota o crescimento das médias empresas. O que os sindicatos podem fazer para contribuir é atuar para que as regras sejam iguais para todos. Dentro das regras, quem for mais eficiente sobressai.
PLANETA ARROZ – A indústria gaúcha é considerada uma referência em tecnologia e qualidade, domina o mercado nacional, mas tem essas dificuldades com relação à pesada carga tributária e até mesmo um diferencial de alíquotas favorável ao produto importado. Por outro lado, o varejo e o consumidor são cada vez mais exigentes. Como continuar investindo para encontrar um equilíbrio?
Elio Coradini Filho – A qualidade é uma busca constante do setor. Precisamos manter nossa competitividade sem abrir mão da qualidade. Foi a qualidade que tornou o arroz gaúcho referência no passado e no presente, exemplo disso é o reconhecimento do mercado externo. Precisamos manter o que foi conquistado e seguir evoluindo dentro da realidade de cada empresa e no conjunto da cadeia produtiva. As indústrias, de um modo geral, estão automatizando seus processos, reduzindo perdas e melhorando logística. Não há um ponto isolado. São vários pequenos itens.
PLANETA ARROZ – A cada aumento do preço do arroz nos supermercados, ainda que seja o produto mais barato da cesta básica, surgem manchetes de que o produto é o vilão da inflação. Como explicar esse comportamento de consumidores e até da imprensa?
Elio Coradini Filho – O arroz não é vilão da inflação. A indústria do setor não interfere na alta ou na baixa inflacionária. Ela apenas liga o valor da matéria-prima com o que paga o supermercado.
PLANETA ARROZ – Na safra atual, a grande polêmica diz respeito à qualidade das variedades Irga 424 e Irga 424 RI. Ao mesmo tempo em que têm características agronômicas superiores, as cultivares vêm sendo contestadas pela indústria. Quais são os reais problemas?
Elio Coradini Filho – Tanto a Irga 424 quanto a Irga 424 RI são variedades altamente produtivas nas lavouras, e isso é bom. Elas possuem seu nicho e suas características agronômicas. Mas o grande defeito é a alta incidência de gessados e de barriga branca, que são fortemente rejeitados pelos consumidores. O que dificulta para a indústria é a segregação destes defeitos no beneficiamento. Além de maior investimento em seleção eletrônica, o processo é mais lento e o resíduo ainda não tem destinação de mercado. Não podemos ficar restritos a este material. Aqui é clara a necessidade do Irga no desenvolvimento de novas cultivares que tenham a produtividade e as características boas da 424, mas que mantenham a qualidade superior encontrada em outros materiais.
PLANETA ARROZ – O que o senhor espera para o comportamento do mercado interno de arroz beneficiado nesta temporada?
Elio Coradini Filho – Embora boa, a safra não será tão grande para ter excedentes abusivos. Creio em uma recuperação de preços para o segundo semestre.
PLANETA ARROZ – Como está o cenário de abastecimento das indústrias brasileiras na safra atual? Até que ponto as importações e os preços do Mercosul se mantêm interessantes e importantes para o setor?
Elio Coradini Filho – Teremos no Rio Grande do Sul arroz para trabalhar todo o ano. O papel da indústria gaúcha é beneficiar o nosso arroz. Não o importado. Repito: o que queremos é tratamento tributário no mínimo igual. Tenho certeza que somos eficientes e que em igualdade de condições iremos crescer.
PLANETA ARROZ – As exportações têm sido importantíssimas para enxugar o mercado interno. E a indústria tem participação decisiva neste processo. De que maneira as exportações beneficiam as indústrias e qual a expectativa, na atual temporada, para as vendas externas de arroz beneficiado?
Elio Coradini Filho – O Brasil conquistou espaço no mercado externo pela sua qualidade e dinamismo da indústria em atender os vários nichos de mercado. Possui, a meu ver, o melhor arroz parboilizado do mundo. Hoje a exportação pode apenas enxugar os excessos, mas por que não em um futuro próximo proporcionar a quantidade produzida sem quedas de preço no mercado interno, a exemplo da soja? Poucos lugares no mundo produzem 10 toneladas de arroz em casca por hectare, possuem uma indústria moderna e um porto próximo. Temos ainda, internamente, mais de 200 milhões de consumidores. Temos órgãos de pesquisa e difusão (Irga, Embrapa, etc…). Ou seja: nos cabe tão somente melhorar o ambiente de negócios. Certamente indústria, produtor e consumidor ganharão com isso.