Competitivos no mundo, preços do arroz finalmente pararam de cair no país

 Competitivos no mundo, preços do arroz finalmente pararam de cair no país

Foto: Robispierre Giuliani/Planeta Arroz

(Cleiton Evandro dos Santos, AgroDados / Planeta Arroz) A convergência de diversos fatores neste fim de ano está confirmando a expectativa de que o Brasil “parta lançado” no mercado internacional em 2022, graças à recuperação da condição competitiva frente aos preços dos seus principais concorrentes. Ou seja, tudo indica que o país arrancará o ano exportando um volume considerável do grão.

O câmbio, com o dólar quase em R$ 5,70 e preços internos em R$ 62,00 de referência no Rio Grande do Sul, são os fatores que mais interferem no novo cenário. Depois de embarques inferiores a 27 mil toneladas em novembro, o RS deverá alcançar mais de 170 mil toneladas, pelo menos, exportadas em dezembro. A notícia é ótima, diante da expectativa da safra cheia no Brasil e elevação produtiva no Mercosul em 2021/22.

Essa conjuntura, associada a preços mais altos nos Estados Unidos e no Uruguai, e gargalos logísticos no Paraguai, ajudaram a estabilizar as cotações do arroz no mercado doméstico, embora os lotes para exportação estejam sendo fechados rapidamente e não exista demanda efetiva no momento. A preocupação das tradings, agora, é carregar o que foi vendido.

Apesar da média de R$ 62,00, há negócios reportados por R$ 59,00. Grãos de melhor qualidade – mais inteiros – e variedades nobres vão até R$ 67,50 (frete incluso) mas, apenas em algumas regiões e volume pequeno. O desinteresse é evidente pela parte vendedora, seja para não acumular imposto a pagar no ano, seja porque espera uma definição mais clara do cenário após a virada. O inusitado deste período de 2021/22 é que tivemos o teto de preços na colheita e estamos tendo o piso no pico de entressafras.

SINALIZAÇÃO

Algumas processadoras dão férias coletivas ou farão recesso até 3 de janeiro. Na última semana a própria indústria não demonstrou muito interesse em adquirir arroz a preços abaixo de R$ 60,00. Leva em conta que trabalhou sempre atrás do varejo, ou seja, comprando caro a matéria-prima em função da resistência de oferta pelos agricultores e vendendo abaixo do valor ideal que projetava para o beneficiado, pois os varejistas pressionaram os preços ao longo do ano pela normalização da demanda.

Tanto que algumas beneficiadoras, mesmo sem precisar adquirir, entraram no mercado no início da semana comprando pequenos volumes na faixa de R$ 62,00 a saca em regiões como a Fronteira-Oeste. Estratégia para sinalizar o piso de preços, e não por real interesse no arroz.

Com isso, o mercado do casca – e ao longo da cadeia produtiva – viu além da estabilidade das referências, a retração nos negócios. O próprio consumo, nesta faixa final de dezembro, costuma ser muito baixo e o país parece já estar no ritmo dos feriadões que vêm por aí.

Costumeiramente o mercado em janeiro tem até mais demanda do que em dezembro e nesta temporada, excepcionalmente, abriu-se uma boa janela de negócios internacionais pelos fatores já elencados, o que corrobora a expectativa de estabilidade a pequena queda, pela demanda para embarques. É melhor partir de R$ 60,00/62,00 aos preços seguirem em queda.

Para destinar o arroz a outros países, as cotações costumam ficar entre R$ 1,00 e R$ 2,00 por saca acima do mercado interno, um fator de estabilidade segundo os agentes do mercado.

ESTOQUE

Se não estimula uma alta, ao menos a exportação vai ajudar a reduzir o estoque de passagem no ano comercial (1º de março a 28 de fevereiro), o que já não era esperado por boa parte da cadeia produtiva. Mas, a duração deste cenário só vai ter uma referência mais clara com a entrada da próxima colheita, que precisará ser quantificada.

Hoje, a única certeza é a de que o estoque de passagem será mais administrável do que se previa há um mês. Se câmbio e preços médios internos se mantiverem nos atuais patamares (entre US$ 10,50 e US$ 11,50 por saca), a expectativa é de que o primeiro semestre de 2022 será ótimo para negócios externos, mas a depender do volume de colheita, a estabilidade dos preços – ou seja, ausência de uma alta mais significativa – deve chegar até maio/junho. Espera-se que em 28 de fevereiro, o Brasil tenha pelo menos 1,5 milhão de toneladas em estoques, ou 13% da safra anual, o que é absolutamente administrável. A FAO considera que 18% é o ponto ideal para a manutenção de estoques de arroz em um país.

Uma recuperação de preços é até provável para 2022, mas vai depender de circunstâncias como o movimento de exportação, que pode ser potencializada pela tendência de nova retração da área semeada nos EUA, e uma demanda pelo menos dentro dos níveis históricos no Brasil.

Câmbio e a relação entre preços internos e externos, e o custo do frete – uma normalização das disponibilidades seria bem-vinda – são outros fatores importantes.

E a colheita, embora avance com ótimas perspectivas para o arroz, começa a ter problemas em áreas de soja em terras baixas por estresse climático de déficit de água – na maioria das regiões – ou excesso – na Planície Costeira Interna.

1 Comentário

  • Para o (mal) entendedor, a análise de Cleiton Evandro nos diz que a perspetiva de melhores preços para a próxima safra, são praticamente nulas.
    O autor procura não alimentar o pessimismo geral entre os produtores, referindo-se à um alívio nos estoques de passagem através das exportações crescentes estimuladas pelo câmbio no momento favorável.
    Mas…..no mercado interno…..o óbvio….com a entrada da nova safra em breve, onde a produtividade deverá ser boa, a indústria e o varejo irão com certeza, se valer da oferta na colheita para achatar mais ainda o preço do casca, como sempre fizeram não é mesmo?

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