Compromisso continental
Conferências do Flar debateram os avanços tecnológicos do arroz
De 10 a 14 de junho, diferentes atores do setor do arroz das Américas se reuniram no Sheraton Grand Hotel da Cidade do Panamá para participar da 14ª Conferência Internacional do Arroz para a América Latina e o Caribe e da 9ª Conferência Internacional sobre Brusone em Arroz e Trigo. Esses eventos foram organizados pelo Fundo Latino-Americano de Arroz Irrigado (Flar), a Aliança Bioversity & CIAT e a Fundação Panamenha do Arroz (Funparroz), que reúne no Panamá as empresas Conagro Semillas (Grupo Agrosilos), Secosa (Grupo Calesa) e a Federação de Arroz e Grãos do Panamá (Fedagpa).
Os encontros contaram com 534 participantes de 32 países, entre estudantes, estudantes agricultores, especialistas e representantes de outros setores da cadeia do arroz latino-americana e mundial. Durante cinco dias, os participantes da Conferência do Arroz integraram cinco sessões plenárias e 12 fóruns, com um total de 51 palestrantes. Além disso, foram apresentados 51 pôsteres digitais exibidos por seus autores durante os intervalos.
Os participantes também tiveram a oportunidade de visitar os 14 estandes que ofereciam produtos e serviços relacionados ao setor arrozeiro na área de exposição técnica e comercial e, igualmente, participar de visitas técnicas pelas plantas industriais e pelos campos de produção.
“A participação maciça de produtores, industriais, pesquisadores, agrônomos e outros ligados à cadeia do arroz de toda a América diz muito sobre o interesse e a confiança que esses setores têm na ciência e na tecnologia pela transformação e avanço ainda maior do setor de orizícola em nossos países”, disse Eduardo Graterol, diretor-executivo da Flar e presidente da conferência.
Graterol destacou o sucesso das conferências e salientou que “a mensagem final é muito positiva, sabemos que a produção de arroz está repleta de grandes desafios e há uma enorme confiança de que a ciência e a tecnologia continuarão a servir os produtores e toda a cadeia do arroz, de forma a ser sustentável e rentável. Temos uma grande responsabilidade, que é contribuir para que o arroz seja um alimento cada vez mais disponível, de boa qualidade e seguro, a preços acessíveis, e que os produtores e industriais sejam competitivos para acessar os mercados interno e de exportação”.
Fique de olho
Entre os temas abordados estavam a otimização dos programas de melhoramento do arroz, os desafios ambientais enfrentados pela cultura, a evolução da indústria, a qualidade do cereal e a sustentabilidade na produção na América Latina e no Caribe.
Conteúdo superior
De forma geral, o conteúdo programático da Conferência Internacional do Arroz foi valorizado positivamente pelos participantes devido à sua qualidade, como destacou Walter Cardozo, da Adecoagro (Argentina): “A conferência foi superior em termos de conteúdo, as plenárias foram fabulosas”. O consultor uruguaio Gonzalo Zorrilla juntou-se: “A paleta de temas técnicos e científicos foi excelente, e fico com a visão de longo prazo de que alguns de nós, que estamos nisso há muito tempo, temos de que este é o grande evento técnico latino-americano do arroz por excelência”.
Karla Cordero, do Inia (Chile), expressou satisfação com a temática: “Fico feliz em saber que na América Latina estamos muito mais próximos do arroz sustentável do que na Ásia, por exemplo. Estamos trabalhando na mesma direção para reduzir os gases de efeito estufa, em sermos mais ecológicos, como termos soluções biológicas”. Ela destacou projetos e alianças que surgem desses eventos: “O Chile, um país pouco desenvolvido nesta área, pode unir-se a países mais avançados e, por meio da colaboração, pode resolver pontos que não resolveria sozinho”.
Temas relacionados à gestão de dados, informações e impactos dos acordos comerciais no mercado de arroz também foram valorizados pelos conferencistas. Norman Oviedo, da Senumisa (Costa Rica), considerou “as palestras muito interessantes, pois fecham o círculo do que fazemos e encontramos as razões de muitas coisas que acontecem no setor”. César Moquete, da Fersan (República Dominicana), concordou em destacar a inclusão das questões conjunturais. “Há três anos, os produtores dominicanos se sentiam tristes, tinham muito medo do Nafta, mas hoje não veem isso como um problema, porque temos arroz de boa qualidade”.
Questão básica
O Fundo Latino Americano de Arroz Irrigado (Flar) é formado desde 1995 por entidades representantes e países da América Latina e do Caribe, com sede na Colômbia. Atualmente, é responsável por diversas pesquisas básicas e origem de material genético que dão suporte a programas de melhoramento de cultivares nos diversos países do continente, bem como programas de eficiência do manejo em busca de uma orizicultura sustentável.
Visitas técnicas
Durante a conferência, houve espaço para os participantes conhecerem a realidade da indústria e do campo arrozeiro panamenho, com visitas técnicas à Agrosilos, em Chepo, para acompanharem os processos industriais do arroz. Também foram realizados roteiros de campo na Hacienda La Estrella, do Grupo Calesa, em Coclé, em campo experimental, onde aprenderam sobre o uso de drones e controle biológico, entre outras atividades. O Idiap teve um espaço para mostrar variedades e ensaios de pyricularia (Brusone), a principal doença do arroz no continente. Outro roteiro técnico ocorreu na fazenda de Alfredo Bethancourth, onde os participantes conheceram técnicas avançadas de irrigação, coleta de água da chuva, tecnologias de plantio direto e cultivo mínimo e uso de drones e maquinário especializado.
Além de contar com uma grande oferta acadêmica e técnica, outro dos objetivos da conferência foi proporcionar a oportunidade de ser um espaço de encontro e intercâmbio entre profissionais da cadeia de valor do arroz na América Latina e no Caribe. “Uma experiência muito boa ter esses eventos na América Latina. Além da parte técnica, em que você aprende muito, você tem todas essas reuniões de corredor, encontra amigos há muito tempo e fala sobre arroz, que é o que mais nos apaixona”, disse Elcio Guimarães, da Embrapa (Brasil).
Concha Domingo, do Instituto Valenciano de Pesquisa Agropecuária (Espanha), ficou agradavelmente surpresa com o networking entre os pesquisadores. Para Adriana Banderas, do Equador, foi uma vivência enriquecedora fortalecer alianças, criar novas parcerias e conhecer novas experiências.
Especialistas em pyricularia pela primeira vez na América Latina
Paralelamente à Conferência do Arroz, foram realizadas as atividades da 9ª Conferência Internacional sobre Pyricularia em Arroz e Trigo, nas quais foram realizadas seis sessões plenárias que abordaram, entre outros tópicos, mecanismos moleculares de infecção e biologia efetora, mecanismos moleculares de resistência do hospedeiro, dinâmica do genoma do patógeno, aumento da resistência e gestão integrada da doença.
Gloria Mosquera, patologista de plantas para o cultivo de arroz e feijão da Alliance of Bioversity & CIAT (Colômbia), destacou a importância do evento realizado no Panamá, pois permitiu que especialistas em pyricularia, uma das principais doenças do arroz, convergissem pela primeira vez na América Latina.
As conclusões são de que há avanços significativos e tecnologias em desenvolvimento que permitirão o melhor controle da doença nos próximos anos. Ao mesmo tempo, os participantes lembraram que é preciso melhorar a cooperação e, principalmente, os investimentos na área de pesquisa.
O Fundo Latino Americano de Arroz Irrigado (Flar) é um dos principais provedores de genomas com resistência à brusone no continente, garantindo material para o melhoramento genético de diversas cultivares desenvolvidas no Brasil.
Brusone, a principal doença do arroz
A brusone é causada pelo fungo ascomyceto pyricularia oryzae, sendo a mais importante doença do arroz no mundo. A brusone do trigo é recente, tendo emergido no Brasil no estado do Paraná, em 1985, e ocorre também no Paraguai e na Bolívia, entre outros países.
O fungo é hemibiotrófico e causa sintomas em todas as partes das plantas, como manchas elípticas em folhas e branqueamento gradual de espigas ou a infecção do nó da base da panícula, conhecida como brusone do pescoço. A severidade da doença varia de acordo com as condições climáticas e com as cultivares utilizadas, com as perdas podendo chegar a quase 100% em casos de infecções graves.
A pesquisa trabalha mapeando resistências e buscando identificar o genoma e o comportamento do fungo causador da doença, para gerar cultivares resistentes ou tolerantes e tratamentos antifúngicos mais eficientes, capazes de evitar as infecções ou evitar perdas significativas provocadas pela doença na lavoura de arroz.
A alta variabilidade do fungo contribui para a frequente perda de resistência em cultivares de arroz e trigo e, em conjunto com mudanças nos agroecossistemas, também contribui com o fenômeno de “mudança de hospedeiro”. Espécies de pyricularia foram nomeadas, em sua fase sexual, como magnaporthe spp por muitos anos, mas, recentemente, tem sido resolvida a utilização apenas do nome pyricularia tanto para a fase assexuada como para a fase sexuada, seguindo o Novo Código Internacional de Nomenclatura para Algas, Fungos e Plantas.