Consumidores do Japão reconsideram lealdade ao arroz nacional

Motivados por preços mais baixos e medo de radiação, mais japoneses optam pelas limitadas quantidades de arroz importado.

Desde que o Wal-Mart começou a vender arroz chinês em Tóquio, há quatro meses, passou a ter problemas em atender a demanda pelo produto. A cadeia japonesa Beisia também vendeu arroz chinês pela primeira vez este ano, e seu estoque acabou rapidamente.

Os restaurantes Kappa Create começaram a servir arroz cultivado na Califórnia, enquanto Matsuya, uma das maiores redes de restaurantes especializadas em servir carne e arroz em tigela, introduziu uma mistura de arroz japonês e australiano.

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The New York Times
Fazendeiro trabalha com trator em plantação de arroz em Kunimi, Japão (07/06)

A Daikokuten Bussan, que possui diversas lojas de descontos em todo o país, diz que armazenaria arroz estrangeiro se conseguisse obter um fornecimento estável.

Motivados pelo declínio na renda, bem como pelo medo da radiação proveniente do desastre nuclear do ano passado em Fukushima, uma das principais regiões produtoras de arroz do Japão, um pequeno mas crescente número de consumidores e empresas japoneses está fazendo o impensável: abandonando sua lealdade ao arroz produzido nacionalmente e buscando alternativas mais baratas vindas da China, Austrália e Estados Unidos.

“Não acho que muitas pessoas teriam considerado a compra de arroz importado no passado, mas isso parece estar mudando", disse Kana Saito, 29, uma consumidora que se encontrava numa filial do Wal-Mart no centro de Tóquio recentemente.

O Ministério da Agricultura do Japão, por enquanto, afirma que não está considerando um aumento nas importações de arroz, que são tributadas em 778%. Desde 1995, o governo tem importado cerca de 700 mil toneladas de arroz livres de tarifas anualmente. A maioria do produto era utilizada para funções que não competiam com as do arroz japonês, como na alimentação do gado.

De acordo com autoridades do setor, alguns tipos de arroz importados sempre foram utilizados de maneira não muito representativa por restaurantes baratos, fabricantes de almoço pré-embalado e outros. Mas os consumidores quererem comprar arroz estrangeiro para cozinhar em casa – e grandes cadeias de restaurantes mudarem para o arroz estrangeiro são grandes mudanças.

Agora, o clamor por alternativas estrangeiras fez com que varejistas e restaurantes lutem pelas pequenas quantidades que o governo japonês torna disponível para uso no varejo, que atingiu um total de apenas 10 miltoneladas no ano passado, segundo registros, uma fração das 9 milhões de toneladas de arroz vendidas no Japão.

Se haverá uma demanda significativa por parte dos consumidores japoneses ou empresas para comprar mais arroz estrangeiro ainda é incerto, e o lobby agrícola japonês continua se opondo a uma abertura. Ainda assim, a diminuição da lealdade ao arroz caseiro poderia ter implicações imensas para um país cuja política, economia, sociedade e até mesmo identidade nacional se entrelaçam com o cultivo do arroz.

"Se o Japão abrir seu mercado para entrada de mais de arroz estrangeiro, essa será uma grande mudança no país", disse Toshiyuki Kako, um professor emérito de Pós-Graduação da Escola de Ciências Agrárias da Universidade de Kobe.

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