Contrariando ministra, ANDA diz que Brasil tem fertilizantes para três meses
(Por Planeta Arroz*) A Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) divulgou nota contrariando a informação da ministra Tereza Cristina, da Agricultura e Pecuária, e confirmou que o Brasil tem estoques de fertilizantes para atender a demanda apenas até junho, próximo. “O que constatamos, através dos agentes de mercado, é que o Brasil possui atualmente estoque de fertilizantes para os próximos três meses”, disse o diretor executivo da Anda, Ricardo Tortorella, que divulgou uma nota nesta quinta-feira (5). “Destaca-se que o volume atual encontra-se acima da média dos anos anteriores”, informa o texto.
Nesta quarta-feira (4), a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou que o país tinha fertilizantes suficientes até o mês de outubro. A guerra entre a Rússia e a Ucrânia preocupa os produtores rurais brasileiros, que importam 85% dos fertilizantes. De acordo com nota enviada pela entidade, que representa empresas de fertilizantes no país, “é prematuro avaliar em profundidade os possíveis impactos ao agronegócio brasileiro” do conflito no Leste Europeu.
Confira a nota da entidade
“A Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) lamenta o conflito entre a Rússia e a Ucrânia e reforça que é prematuro avaliar em profundidade os possíveis impactos ao agronegócio brasileiro.
A entidade esclarece que o Brasil possui atualmente estoque de fertilizantes para os próximos três meses, de acordo com dados de agentes de mercado.
Destaca-se que o volume atual encontra-se acima da média dos anos anteriores. Registra-se que o País importa cerca de nove milhões de toneladas por ano de insumos para fertilizantes do Leste Europeu, ou seja, em torno de 25% de tudo o que compramos no exterior.
A Anda segue atenta ao fornecimento de cloreto de potássio, pois mais de dois milhões de toneladas já estavam comprometidas com as sanções anteriores à Bielorrússia. E a atenção justifica-se, dado que três milhões de toneladas de cloreto de potássio têm como origem a Rússia.
Outro ponto de atenção destacado pela Anda refere-se aos fertilizantes nitrogenados, em especial nitrato de amônio, porque importamos volume expressivo da Rússia. Com relação aos fosfatados, a dependência do Leste Europeu é menor, o que atenua os impactos de abastecimento para a safra atual.
Vale ressaltar que, embora já existam restrições bancárias que causam insegurança e dificuldades para o fluxo de pagamento, as transações estão sendo realizadas entre empresas privadas.
Outra questão acompanhada com cautela pela Anda é a logística marítima, por conta das restrições que inibem temporariamente o fluxo de navios à região do conflito, acarretando dificuldades para transportar os insumos, como registrado nas operações no Mar Negro. Nesse sentido, o mercado está buscando soluções para cenários como os que estamos enfrentando.
No caso específico da Bielorrússia, deve-se registrar que o setor já encontrava restrições, devido às sanções internacionais relativas ao posicionamento de seu governo, contestado pela maioria das ações. Dentre as sanções, a proibição do transporte de produtos bielorrussos, incluindo o potássio, pelo território da Lituânia impossibilita o acesso aos portos marítimos.
A Anda reafirma acreditar na diplomacia brasileira e segue seu compromisso em buscar atender à demanda nacional, como acontece até o momento, e continua promovendo diálogos sobre o cenário geopolítico com seus associados, setor agrícola, indústria, sociedade civil e o governo”.
Demanda por potássio
Tortorella ainda explicou que o Brasil produz apenas 15% dos adubos que utiliza e demanda 85% de fertilizantes importados.
“Mais da metade destes insumos é NPK. A gente produz um pouquinho de nitrogenados, um pouco de fósforo e quase nada de potássio. Para 2022/23, precisamos de 11, 12 milhões de t de cloreto de potássio por ano e a Rússia nos fornece cerca de 3 milhões de toneladas. Precisamos ver se as sanções impostas à Rússia vão afetar estes negócios e, de alguma maneira, restringir a oferta aqui no país. Por enquanto estas sanções não afetaram as relações comerciais com o Brasil, mas este risco isso não está descartado”, explicou o dirigente.
Ele ainda destacou que desde janeiro as compras têm ocorrido dentro de um ritmo normal, mas que a questões climáticas, como excesso de chuvas e secas em algumas regiões mudaram a previsão de safra e pode ter algum efeito no ritmo das encomendas.
“Parte dos insumos já vieram, parte dos produtores anteciparam as compras e já estão com insumos nas fazendas, e a parte que não veio ainda poderá ser adquirida nos próximos três meses até o começo do plantio. O produtor precisa comprar fertilizantes que é o que lhe garante produtividade e manter competitividade do player na exportação de alimentos”, agregou.
Para Ricardo Tortorella, da Anda, a crise de saúde e da economia mundial deixou ainda mais claro que é um erro estratégico o Brasil depender excessivamente de insumos importados. “Sabemos que não vamos ser autossuficientes jamais, mas está claro que precisamos equilibrar os números entre importações e produção local, a relação 85% x 15% apresenta riscos. Disso, também, dependerá a nossa manutenção como um grande player de alimentos”, encerrou. (*Com agências)