Convergência no mercado
Barata: exportar é preciso
Recuperação de preços depende da capacidade de voltar a exportar arroz
O mercado do arroz no Brasil, neste primeiro semestre de 2025, passa por uma reviravolta: depois de anos marcados por safras menores e preços valorizados, o país colhe agora uma safra robusta — com elevados volumes e produtividade —, mas enfrenta uma queda acentuada nos preços. A avaliação é de Tiago Sarmento Barata, diretor do Sindicato das Indústrias do Arroz do Rio Grande do Sul (Sindarroz-RS), que vê o setor em um ponto de inflexão preocupante, com sérios desafios no horizonte para 2026.
Segundo Barata, a atual conjuntura é resultado de uma sequência de fatores estruturais e conjunturais. “Vínhamos de safras menores, reflexo direto da baixa viabilidade econômica da cultura do arroz no passado. Os preços desvalorizados desestimularam o plantio, reduzindo a área cultivada e a produção”, explicou.
Esse ciclo, no entanto, começou a se reverter. A redução da oferta em anos anteriores, aliada a eventos pontuais — como a pandemia da covid-19, enchentes em regiões produtoras e restrições impostas por players como a Índia —, impulsionou os preços no mercado interno e internacional. “Esse cenário atraiu de volta o produtor, que aumentou a área plantada e investiu em tecnologia. Hoje, temos um perfil de produtor mais eficiente, com maior nível tecnológico e produtividade elevada, favorecida, também, por boas condições climáticas”, detalhou Barata.
Os indicativos de campo apontam para uma safra histórica em 2025 no Rio Grande do Sul, em outras regiões do país, no Mercosul e no mundo. Porém, o sucesso nas lavouras traz seus próprios desafios. “A oferta pressiona o mercado interno. Se antes os preços subiam por escassez, agora ocorre efeito inverso: mais produção gera queda nas cotações”, observou.
E o cenário não é exclusivo do país. “O mesmo ocorre no Mercosul e com produtores do Sudeste Asiático. Vivemos um período de safras cheias em nível global, e o mercado internacional — principal via de escoamento do excedente — também opera em preços baixos”, alertou Barata.
Exportação
Diante da grande oferta, o Brasil precisa ampliar suas exportações para evitar um colapso nos preços internos. A meta para este ano é ousada: exportar dois milhões de toneladas. “Temos excedente maior que nos últimos anos e uma necessidade real de colocar esse arroz no mercado externo. Só que estamos disputando espaço em um mercado internacional restrito, com nossos vizinhos Uruguai, Argentina e Paraguai, que também têm excedentes para vender e têm sido mais competitivos”, afirmou.
Segundo Barata, há ainda um fator estrutural que coloca o Brasil em desvantagem: “Esses países têm como escoar parte da produção para a América Central e ainda contam com o próprio Brasil como destino. Já o Brasil, ao enfrentar um excedente interno, corre o risco de absorver também o arroz excedente do Mercosul, como já ocorreu no passado”.
FIQUE DE OLHO
Apesar da pressão nos valores, Barata destacou que a ausência de estoques elevados ajudou a minimizar o impacto no mercado brasileiro neste primeiro momento. “Temos uma grande safra, mas partimos de estoques baixos. Isso deu algum equilíbrio ao mercado neste ano”, disse. A grande preocupação, segundo ele, está no que pode acontecer a partir de 2026, caso o país não consiga cumprir a meta de exportação. “Se não exportarmos os dois milhões de toneladas em 2025, como planejado, vamos ter um cenário ainda mais desafiador no ano que vem. E aí o problema se agrava, porque o mercado pode enfrentar estoques altos, preços baixos e uma pressão insustentável para os produtores”.
Voltamos a 2022
Depois de dois anos de fortes altas, o preço do arroz em casca registrou queda expressiva em 2024. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), que produz o indicador de preços do arroz em casca no Rio Grande do Sul, em parceria com o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), em maio/25 o acumulado em 12 meses apontou recuo de 41%, devolvendo as cotações a níveis próximos aos de maio de 2022. No mesmo intervalo, entre 2022 e 2023, a valorização havia sido de 15%, seguida por uma alta ainda mais intensa, de 45%, entre 2023 e 2024.
O encarecimento do cereal nos últimos anos atraiu produtores, que aumentaram a área cultivada. No entanto, a demanda, tanto interna quanto externa, não acompanhou esse crescimento, gerando excedentes e pressionando os preços.
Entre os dias 30 de abril e 30 de maio, a desvalorização mensal do arroz em casca foi de 6,92%, o que reduziu a liquidez no mercado spot. Indústrias relutam em comprar diante da dificuldade de repassar os preços futuros e manter a competitividade. Já os produtores resistem a vender, alegando que os preços não cobrem os custos de produção.
No mercado externo, a expectativa de alívio não se concretizou. A desvalorização da moeda indiana frente ao dólar ampliou a competitividade da Índia, principal exportadora mundial de cereais, limitando os embarques brasileiros a operações pontuais, geralmente complementares de carga. A ampla oferta global e a forte concorrência seguem pressionando as cotações internacionais.
Ano bom de grãos com sombra no horizonte
Para Tiago Barata, 2025 pode ser classificado como um ano tecnicamente bom para a produção, mas com sérios alertas no radar.
“A produtividade está elevada, o produtor respondeu com eficiência, mas o mercado está travado. A questão agora é comercial. O Brasil precisa abrir novos mercados, fortalecer acordos internacionais e consolidar a posição de exportador relevante se quiser manter o equilíbrio do setor e dos preços”, concluiu Barata.
Enquanto os números oficiais da safra ainda são aguardados, o recado é claro: a cadeia produtiva vive um momento de abundância, mas cercada por incertezas.
A capacidade de adaptação e articulação do Brasil no mercado global será determinante para evitar um novo ciclo de crise mais aprofundada no mercado do arroz, no país e no Mercado Comum do Sul (Mercosul), em 2026, em que pese os fatores além cadeia.