Cotações mantêm disparidades entre safras com o Brasil fora do mercado internacional

A tendência para a próxima semana é de que a trajetória de queda se mantenha, mas ainda lentamente.

Por uma diferença de pelo menos 30 dólares por tonelada, em base casca, o Brasil está sem competitividade no mercado internacional do arroz, operando entre R$ 80,00 e R$ 85,00 para o produto da nova safra (para entrega em março/abril) e R$ 85,00 a R$ 90,00 para o grão colhido na temporada 2019/20 (safra velha).

No Sul Catarinense, no entanto, mesmo o “arroz novo” está mantendo essas referências mais altas, uma vez que o Estado vizinho precisa buscar 500 mil toneladas, por ano, no Rio Grande do Sul e nos países vizinhos para garantir o abastecimento de sua capacidade industrial. A disputa, portanto, é maior. E chega a refletir no litoral norte gaúcho. Uma nova figura começou a ganhar destaque nesta temporada no Sul Catarinense, junto com a colheita: o corretor.

Na Fronteira Oeste e Campanha gaúchas, embora uma presença mais efetiva das indústrias junto aos produtores, a oferta pelo grão a ser colhido e entregue em março/abril, varia entre R$ 78,00 e R$ 80,00. Nota-se que diante da incapacidade momentânea do Brasil competir no mercado externo de arroz em casca e a grande dificuldade na colocação do branco, e a natural expectativa de forte oferta na colheita, há uma expectativa de retração dos preços por alguns elos da cadeia produtiva, caso da indústria, varejo e boa parte dos corretores.

Considerando 2020 um ponto fora da curva, o varejo retomou seu comportamento de operar com estoques menores e esperar um achatamento nos valores de negociação durante a colheita. A expectativa é compartilhada pelos clientes internacionais, como a Costa Rica, a Venezuela e o Iraque. A Costa Rica, mais uma vez se retirou do mercado depois de ter aberto o segundo tender trade, pois considerou as cotações brasileiras muito altas. Já Venezuela e Iraque estão pressionados pela falta de estoques, mas também aguardam a colheita do Mercosul a espera de preços menores. O arroz brasileiro está pelo menos 30 dólares acima do valor da tonelada dos EUA, e isso lhe retira oportunidades de negócios.

SAFRA

A colheita gaúcha está atrasada em relação ao ano passado, com área de corte inferior a 1,5%, ou 13 mil hectares, segundo o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Foram semeados 944 mil hectares, mas a estimativa é de que em razão da falta de água em algumas áreas durante a emergência, acamamento e enxurradas, entre outros fatores climáticos, pelo menos mil hectares poderão ser contabilizados como perdidos ao final do ciclo. A produtividade esperada também é mais baixa, pois o clima não está tão favorável nesta temporada.

As chuvas das últimas semanas, o frio noturno e o tempo abafado e nublado dos dias também trouxe problemas. As chuvas não permitiram que as máquinas entrassem em várias lavouras que estavam prontas para iniciar a colheita, atrasando ainda mais as operações. O frio noturno afetou o enchimento de grãos, e muitos produtores estão reclamando de grãos “chochos”. E, por fim, os dias nublados e abafados obrigaram os produtores a investirem em aplicações de fungicidas. O percevejo marrom também voltou com força nesta temporada. Em geral, os assistentes técnicos observam lavouras “mais sujas” nesta temporada pela emergência desparelha, que deixou buracos para o avanço de plantas daninhas.

PREÇOS

Os preços médios do arroz seguem buscando referências, mas mostrando uma trajetória de enfraquecimento gradativo. O indicador de preços do arroz em casca Esalq/Senar-RS, apontou nesta quinta-feira R$ 87,66 por saca de 50 quilos, o que equivale, pela cotação cambial do dia, a US$ 16,11. Nos 18 primeiros dias de fevereiro o indicador acumula 1,7% de queda, o que demonstra a forte queda de braços entre os elos da cadeia produtiva.

PREÇO AO CONSUMIDOR

Os preços ao consumidor praticados no Brasil mantêm estabilidade desde outubro, com médias entre R$ 25,00 e R$ 27,00 para o pacote de 5 quilos, branco, Tipo 1. As promoções nas sete capitais pesquisadas por Planeta Arroz oscilam entre R$ 17,50 e R$ 17,99 para este produto, enquanto o quilo do grão beneficiado fica entre R$ 4,50 e R$ 6,00. Já o parboilizado encontra valores até 50 centavos a menos.

TENDÊNCIAS

A tendência para a próxima semana é de que a trajetória de queda se mantenha, mas ainda lentamente, com o desinteresse de venda por parte dos produtores. O fluxo de corte e depósito, bem como a comercialização para cobrir as despesas de colheita, deverão determinar a formação dos preços nestes dias finais de fevereiro. Por enquanto, só os produtores de maior área semeada e que fizeram o “plantio de inverno”, estão conseguindo colher de forma mais efetiva. Pelo desenvolvimento das lavouras, com a ajuda do clima, o “start” será dado a partir do dia 1º de março.

Menos mal pra quem plantou cedo e vai colher bem, que conseguiu aproveitar melhor os preços remanescentes do ano comercial que se encerra. De qualquer maneira, arrancando de um patamar entre R$ 80,00 e R$ 90,00, o primeiro semestre tende a ser de bons negócios. A estratégia foi atrapalhada pelo alongamento do ciclo da planta.

O risco está numa estagnação do consumo, a impossibilidade de exportar e as importações ganharem volume, afinal a propalada “frustração de safra” no Paraguai não se confirmou da forma que chegou a ser noticiada. Em janeiro havia produtores paraguaios colhendo em uma região (em Misiones e Itapúa) e plantando mais ao nordeste do país vizinho, cujo clima é mais tropical. Isso indica uma tendência de alongamento, embora mais fracionada, da oferta do arroz guarani.

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