Cuba deve importar mais de 500 mil toneladas de arroz este ano
(Por Planeta Arroz) Nas últimas doações que chegam a Cuba, um produto não falta: o arroz. O mais recente embarque deste tipo foi de 300 toneladas compradas na Colômbia pela empresa chinesa Yutong para Havana. Uma gota no meio do oceano, já que a Ilha precisa de 700.000 toneladas de arroz anualmente e este ano espera colher apenas 180.000, segundo um relatório publicado no Granma, jornal oficial que analisa os problemas na obtenção de um produto básico na dieta nacional, culturalmente e nutricionalmente.
Os cubanos já aprenderam o valor necessário para cobrir a demanda da cesta básica e do consumo social, mas nem em seus sonhos mais loucos a Ilha tem condições de chegar à metade. O melhor ano histórico recente foi 2018, quando foram produzidas 304.000 toneladas, mas já em 2019 houve uma queda acentuada, com 246.700 e com a pandemia a queda livre acelerou, com 162.965 toneladas em 2020 e cerca de 120.000 em 2021.
Se este ano as previsões do Ministério do Comércio fossem alcançadas, quase se poderia falar de um marco e a aspiração do programa nacional do arroz, que coloca as 600.000 toneladas contribuídas pela indústria cubana em 2030 -86% da demanda anual- ser um verdadeiro milagre.
Com esses dados de produção nacional, Cuba não tem escolha a não ser importar, mas isso também não é uma tarefa fácil.
Segundo o vice-primeiro-ministro e chefe de Economia e Planejamento, Alejandro Gil Fernández, o produto no mercado internacional passou de 468 dólares a tonelada em 2019 para 633 dólares hoje. Custaria a Cuba mais de 316 milhões de dólares para importar as 500.000 toneladas de arroz necessárias para atender a demanda interna este ano.
“Para a família cubana, este complexo contexto econômico implica ter que continuar lidando com as tensões geradas pela não disponibilidade de arroz”, alerta a imprensa oficial.
Antonio Rodríguez Mojena, presidente da cooperativa José Manuel Capote Sosa, no Granma, e entrevistado para a ocasião, acredita que as 63 medidas aprovadas pelo Governo em abril passado para melhorar a produção agrícola foram úteis, mas ainda muito insuficientes. já que o alto custo do preparo do solo, o uso de maquinários e os preços de insumos e serviços têm prejudicado o setor.
“Os lucros são baixos, o que não compensa o sacrifício de uma campanha, nem nos incentiva a continuar crescendo em áreas. Por outro lado, também pode se tornar um terreno fértil para a venda ilícita de parte da safra”, ele adiciona.
Maikel Suárez Torres, diretor de indústria estatal, explica que, embora tenham cumprido as previsões para carne, leite, frutas e carvão, o ano fechou com 20 milhões de perdas devido à produção de grãos de arroz.
O preço de compra para o produtor aumentou e ao mesmo tempo o subsídio estatal aos grãos foi reduzido, o que gerou resultados muito ruins. “Se levarmos em conta que o preço de venda do arroz é centralizado e que a indústria também assume 10% do pagamento das impurezas do grão, juntamente com o aumento do preço da energia elétrica e gastos com combustível, insumos e salários dos trabalhadores, o resultado é que quanto mais arroz vendemos, mais prejuízos temos como empresa”, explica.
O texto do jornal oficial do Partido Comunista suaviza os dados ao apresentar a história de um produtor de Río Cauto, que afirma ter saído com sucesso de uma campanha desastrosa. O agricultor, Antonio González Guerra, argumenta que é preciso saber aproveitar as novas políticas do governo, embora seu caso pareça mais uma exceção do que a regra, como evidenciam os dados do relatório.
“A política deve ser fundamentada. Existem as 63 medidas e a vontade da alta direção do país em cumpri-las, mas o desafio é fazer com que o que está estipulado nos papéis se torne realidade nas bases produtivas”, diz.
A seguir, sim, detalham-se os problemas do setor, entre os quais citam a má gestão de algumas empresas. “Não pode ser que para uma empresa cumprir o pagamento aos seus trabalhadores ou evitar prejuízos, a alternativa seja aumentar quatro, cinco ou mais vezes o preço do mau serviço que já prestou ao produtor e a cultura que sofre com essa ineficiência que aumenta os custos e afeta a produtividade por hectare”, diz González Guerra.
O Estado destinará 447 milhões de pesos ao cultivo de arroz para esta campanha, mas mesmo assim não chegará a um quarto do que o país precisa
Além disso, o arroz doado não satisfaz inteiramente os consumidores cubanos. Como regra geral, o produto que chega por esta via é de baixa qualidade, com muitos grãos quebrados, característica que não é apreciada nas mesas cubanas onde se prefere a composição sem casca, essencial para fazer dos “mouros e cristãos”, uma prato típico da Ilha, cujo outro componente, o feijão, também é escasso.
O aumento do preço de substitutos como o inhame, a mandioca e a batata-doce, juntamente com a diminuição da presença de batata nos mercados, contribuíram para o aumento da procura e do preço do arroz, que no final do ano passado se aproximava de 100 pesos a libra, uma quantia não vista desde a crise dos anos 1990. Agora, em territórios tradicionais de cultivo de arroz, como Villa Clara e Cienfuegos, o cereal permanece acima de 50 pesos a libra nos mercados. (Com agências internacionais)