Cultura de arroz no Ceará será ampliada

A idéia é facilitar a transposição da água do Açude Orós, no município de Iguatu, por meio de um canal de terra para as áreas de cultivo.

O plantio de arroz irrigado na bacia do açude Orós em terras localizadas no município de Iguatu corria risco de perda estimada pelos agricultores em até 70%. Havia dificuldades de irrigação. A água estava distante das áreas de cultivo e eram necessários pelo menos dois bombeamentos, elevando o custo de produção com o consumo de energia elétrica. A solução para o problema foi indicada pelos próprios irrigantes que solicitaram da Prefeitura uma retroescavadeira.

Em parceria com o Governo do Estado, por meio do Departamento de Edificações, Rodovias e Transportes (Dert), a máquina chegou às terras de produção de arroz e há 15 dias realiza o trabalho de escavação de um canal de seis quilômetros de extensão.

A idéia é facilitar a transposição da água do Açude Orós por meio de um canal de terra para as áreas de cultivo. A escavação permite que a água chegue aos locais distantes e mais elevados. Esse mesmo trabalho já havia sido feito em 1990. “Durante esse tempo, o canal sofreu aterro natural em face da queda de barreiras e das cheias do açude”, disse o produtor rural, Francisco José Braz. “Agora veio em boa hora para salvar a lavoura irrigada”.

Os produtores de arroz irrigado estão animados e o clima é de festa nas áreas de cultivo. A máquina já escavou cerca de dois mil metros de canal, mas faltam seis mil para a conclusão do serviço. Estima-se que mil agricultores entre proprietários de terra, rendeiros e trabalhadores sejam beneficiados. “Procuramos parceria com o governo do Estado para atender uma justa reivindicação dos irrigantes”, disse o prefeito de Iguatu, Agenor Neto. “Esse trabalho significa a geração de emprego e renda no campo, não apenas salvando a lavoura, mas ampliando a produção”.

As áreas de produção de arroz favorecidas com a reabertura do canal ficam localizadas no distrito de José de Alencar, na zona rural do Município de Iguatu. A região é um dos maiores produtores da cultura do Ceará. Diretamente são beneficiadas as localidades de Serrote, Carrapicho, Vertentes e Várzea Grande.

Outros nove sítios e vilas são favorecidos com o surgimento de emprego direto na lavoura. “A área de cultivo estimada para este ano é de dois mil hectares”, disse o secretário do Trabalho e Empreendedorismo do Município de Iguatu, Ednaldo Lavor. “Se não fosse esse projeto de escavação do canal, cerca de 70% da lavoura estariam perdidos por falta de água”.

De acordo com os próprios irrigantes, o plantio foi feito correndo o risco de perda parcial da lavoura. “A nossa vida é essa e por isso a gente arrisca todos os anos”, disse Ciro Ferreira Lima. “Aqui ninguém tinha perdido a esperança de que viria uma solução para o nosso problema”.

A necessidade de até três bombeamentos, que os agricultores chamam de tombos, para levar a água para o arrozal, inviabilizaria a produção, em face do aumento dos custos com a energia elétrica. Alguns agricultores já utilizam o sistema de dupla tarifa, irrigando durante a noite e madrugada, que tem menor valor.

Os dados mostram que 30% das despesas de produção referem-se ao custo com energia elétrica. Em média, a produtividade na região é de 7000 quilos por hectare e as variedades mais cultivadas são Formosa e Diamante. A saca de 60 quilos do produto em casca é comercializada atualmente a R$ 30,00.

Bacia do Açude Orós é uma das maiores produtoras
A bacia do Açude Orós é uma das maiores áreas de produção de arroz irrigado no Ceará. Todos os anos, a partir do mês de junho, centenas de agricultores iniciam o plantio da cultura. Aproveitam as terras de várzeas que no primeiro semestre, período das chuvas, ficam encobertas pela cheia do reservatório.

À medida que a água vai baixando e se distanciando, descobre as áreas de cultivo. Os irrigantes enchem as terras de arroz. Logo, a plantação cresce e enche de verde o sertão em contraste com o seco e acinzentado da caatinga, nas proximidades.

São imensas áreas de cultivo. Há décadas, José Pedro Alves Neto arrenda terras e também trabalha na produção de arroz. Possui 40 hectares. A maioria de herança, outra parte adquirida de vizinhos e parentes. “A atividade já rendeu mais”, lembra. “Hoje dá apenas para a gente ir vivendo”. Luís Ferreira de Araújo desde criança trabalha na lavoura. “Esse açude é a nossa riqueza”, disse. Trabalha como rendeiro numa área de três hectares. Participa com toda despesa de produção e ao fim da colheita repassa 10% para o dono da terra.

Ciro Lima e Francisco Braz são dois antigos produtores de arroz na bacia do Açude Orós. Os dois contam que na região os agricultores são esforçados e a cada ano lutam para produzir a cultura. “Aqui a gente trabalha com coragem, enfrentando as dificuldades”. Lima tem 25 hectares, dos quais 15 estão arrendados. “Na outra parte, eu trabalho produzindo”, explicou. “Aqui todo mundo está animado com a chegada dessa máquina”.

Os produtores não cansam de olhar a escavadeira trabalhando, que é moderna. O operário fica numa cabine fechada, com ar condicionado. O produtor José Almir Ferreira cultivou este ano 10 hectares e conta com o serviço de três trabalhadores que são pagos por diária, cada, ao preço de R$ 10,00. “Graças a Deus a nossa safra está assegurada”. A colheita começa em outubro e se estende até novembro. Depois, a palha do arroz é utilizada para alimentação do gado na roça ou transportada para outras áreas, ampliando a renda dos irrigantes.

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