Custo da lavoura de arroz motiva migração para soja na metade Sul

 Custo da lavoura de arroz motiva migração para soja na metade Sul

(Por Samuel da Rosa, Jornal do Comércio, RS) O cultivo de soja tem atraído cada vez mais agricultores da região Sul do RS. Motivados pela maior rentabilidade financeira e pela redução de custos operacionais, produtores de municípios como Dom Pedrito e Santa Vitória do Palmar estão migrando de culturas tradicionais, como o arroz, para o grão que lidera a produção agrícola no Brasil.
Em 2023, o Brasil produziu mais de 150 milhões de toneladas de soja, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O número reforça o país como líder mundial na produção do grão, seguido por Estados Unidos e Argentina. Nesse cenário, essas duas cidades da metade Sul, que junto com Vacaria integram a lista dos 100 municípios com maior valor de produção agrícola no Brasil, foram responsáveis por uma parcela significativa do total de R$ 814,5 bilhões gerados pela agropecuária nacional.

Para muitos agricultores da região, a mudança para a soja representa uma alternativa mais sustentável e lucrativa. “A lavoura de arroz tem um custo muito alto, com preços baixos, e nos últimos anos, mesmo com alta produtividade, era difícil fechar as contas sem dívidas. A soja trouxe uma maior estabilidade financeira para o produtor”, explica Gesiel Porciúncula, diretor da Associação dos Agricultores da Região da Campanha (Agricampanha), baseada em Bagé.

Além do aspecto financeiro, o cultivo da soja também exige menos mão de obra em comparação ao arroz, o que tem sido um fator decisivo para muitos produtores. “Hoje, há uma grande dificuldade de encontrar colaboradores para trabalhar nas lavouras de arroz. É um trabalho pesado e muitos jovens não se interessam. Já a soja permite trabalhar com menos pessoal e em áreas maiores, o que é mais eficiente”, destaca Porciúncula.

De acordo com o diretor, a profissão de aguador — essencial para o manejo do arroz — está cada vez mais escassa, com a maioria dos trabalhadores acima dos 55 anos. Isso valoriza a mão de obra disponível, mas aumenta os custos para os agricultores que precisam contratar esses profissionais. Em contrapartida, o cultivo de soja utiliza maquinário moderno, reduzindo a dependência de trabalho manual.

Outro ponto de destaque é a demanda global pela soja, impulsionada pela produção de alimentos, rações animais e biocombustíveis. A alta no preço do grão tem favorecido o retorno financeiro para os produtores, consolidando o cultivo como uma das principais opções agrícolas do país.

A transição para a soja também reflete um movimento de modernização do setor agropecuário. Investimentos em tecnologia, como máquinas agrícolas mais eficientes e técnicas de manejo sustentável, têm potencializado a produtividade e reduzido os impactos ambientais.

Embora a migração para a soja represente um avanço para muitos agricultores, é importante considerar os desafios dessa mudança, como a necessidade de adaptação ao novo sistema de cultivo e o monitoramento de pragas e doenças específicas da cultura. Contudo, para os produtores do Sul do Estado, o futuro parece promissor.

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