Da monocultura para a unicultura
Autoria: Henrique Dornelles – presidente da Federação das Associações dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz).
Arrozeiros gaúchos são conhecidos pelas lamúrias relacionadas às frequentes baixas da atividade. Cerca de 90% da produção de arroz do Brasil é comercializada no mercado doméstico, submetendo produtores às nuances da concentração do atacado e varejo, sem prejuízo à relação danosa do Mercosul. A soja vem desbancando várias atividades, da pecuária no Mato Grosso do Sul e São Paulo ao arroz de sequeiro no Mato Grosso.
A recente e longa crise que atravessa a orizicultura, especialmente gaúcha, tem ignorado os principais fundamentos relevantes de mercado, atual baixo estoque de passagem e perspectiva de menor produção, inclusive no Mercosul. Vários acreditam que surpreendentemente o brasileiro deixou de consumir arroz. Entretanto, dificilmente um encarte de supermercado não tem promoção de determinada marca. Maior preocupação são os níveis de preços, abaixo de qualquer razão econômica, conclusão que o produto perdeu valor.
Como agravante, o Rio Grande do Sul tem ICMS do arroz em casca de 12%, enquanto o importado é 4%. O setor industrial arrozeiro gaúcho ganhou competitividade com a redução das alíquotas de ICMS.
A recente e longa crise que atravessa a orizicultura, especialmente gaúcha, tem ignorado os principais fundamentos relevantes de mercado.
Entretanto, não houve incremento significativo de produção do beneficiado objetivando eliminar excedentes dentro do Estado. Assim, criou-se “reserva de mercado” para determinado setor, o que agrava a crise dos produtores e permite que os demais Estados, que industrializam arroz, prefiram o grão paraguaio.
Não é novidade a soja em solos arrozeiros como forma de rotação de cultura. Primeiramente, foi estabelecida nas áreas com limitação de produtividade por invasoras resistentes. Entretanto, devido à pesquisa de extensão de Irga, Embrapa e UFSM, aliado à vocação dos arrozeiros em trabalhar solos de difícil drenagem, a soja deverá ser a responsável por mudança considerável na metade sul do Estado. Já há vários arrozeiros com maior rentabilidade na soja do que no arroz. Assim, a tão refutada monocultura do arroz deverá ceder espaço, aumentando eventual sentimento da unicultura da soja no Brasil.
A atual crise é diferente! Com a segunda maior produtividade mundial, hoje o produtor de arroz poderá optar por soja. Entretanto, arrecadação de ICMS do Rio Grande do Sul tende a ser impactada, pois o arroz isolado representa 2% da arrecadação, “extremamente relevante”, e desemprego deverá aumentar nas regiões arrozeiras. O arroz emprega 20 pessoas por mil hectares e soja 1,7 pessoa pela mesma área. (Publicado originalmente em Campo & Lavoura – Zero Hora, dia 20/01/19)
1 Comentário
REALMENTE OS ENCARTES DOS SUPERMERCADOS/ATACAREJOS NO RJ/GRANDE RIO, TEM SEMPRE UMA OU MAIS MARCAS DE ARROZ EM DESTAQUE LOGO ACIMA À DIREITA, ACREDITO MESMO QUE O CONSUMO DE ARROZ VENHA AUMENTANDO, JUSTAMENTE NUM PERÍODO DE FORTE CRISE, COM OS RESTAURANTES PERDENDO MOVIMENTO E UM MOVIMENTO DE RETORNO AO ALMOÇO E JANTA EM CASA COM A FAMÍLIA E AMIGOS, MOTIVADOS POR INÚMEROS PROGRAMAS DE CHEF’S NA TV.
O QUE ACONTECE É QUE O VAREJO/ATACADO JÁ NÃO PROJETA MARGEM COM O ARROZ, SUBMETENDO-SE A VENDÊ-LO NO PDV COM ZERO DE MARGEM PARA ATRAIR CONSUMIDOR E NIVELAR COM A CONCORRÊNCIA.
INFELIZMENTE ASSIM, AS MARCAS DE ARROZ QUE AGREGAM VALOR E SERVIÇOS, ACABAM DANDO LUGAR ÀS MARCAS DE OPORTUNIDADE, ACHATANDO A REMUNERAÇÃO DE TODA A CADIEA.