Demanda interna, seca e importações lentas abrem fevereiro com preços em alta

 Demanda interna, seca e importações lentas abrem fevereiro com preços em alta

Robispierre Giuliani/Revista Planeta Arroz

(Por Cleiton Evandro dos Santos, AgroDados/Planeta Arroz) Após um recuo mais evidente em dezembro, o varejo e a indústria brasileira de arroz parecem ter voltado mais ávidos ao mercado neste primeiro mês do ano civil. Com produtores ainda recuados na realização das vendas do “arroz velho” e concentrados no complexo manejo de uma safra com limitações de água para a irrigação e altas temperaturas, o varejo assimilou novas tabelas da indústria e as beneficiadoras precisaram buscar o grão ao preço de venda dos arrozeiros. Resultado, uma recuperação bem interessante nas cotações em algumas regiões, embora a média do indicador não tenha modificado tanto.

Diversas indústrias, em especial as cooperativas, informaram nos últimos dias vendas em janeiro mais expressivas do que as metas projetadas. É claro que as metas de janeiro não são as mais altas das centrais de processamento, mas alcançá-las com facilidade depois do segundo semestre morno de 2021, é uma notícia alvissareira, não é? Óbvio que sim.

Mas, também há o fator estratégico, segundo corretores. As grandes indústrias fazem posição e se retiram do mercado ao longo de fevereiro esperando uma queda dos preços com a chegada da colheita e o vencimento das CPRs que financiam muitas lavouras. É uma tática antiga e que nos próximos 45 dias teremos a confirmação se deu certo. E para quem deu certo.

Notadamente, as regiões mais afetadas pela estiagem são também as que apresentaram melhor recuperação nos preços ao produtor, embora em patamares muito distintos por causa de suas características. Também são consideradas regiões de baixa disponibilidade de “arroz velho”, no momento.

Na Fronteira Oeste, nos últimos dias, para fechar negócios o arrozeiro chegou a pedir R$ 70,00 “livres”. Alguns levaram. São reportados negócios por até R$ 72,00 na região. E com demanda firme. Em 10 dias, os preços se elevaram de R$ 5,00 a R$ 7,00 por saca. O Indicador do Arroz Esalq/Senar-RS, trouxe forte valorização ontem, a R$ 66,02 de média, equivalente a US$ 12,53, no RS. Isso porque algumas regiões – como Campanha e Região Central – seguem ancorando as cotações do Estado. O indicador fechou o mês de janeiro cotado a R$ 64,02 ou US$ 12,07 pelo câmbio do dia.

Na Depressão Central, as cotações que chegaram a R$ 55,00 “livres” pouco antes do Natal, reagiram a R$ 63,00/65,00, praticamente com a mesma variação da fronteira (frete excluso). Parece que, ao repassar parte dos custos e sentir resistência da parte vendedora, algumas indústrias precisaram ceder ao novo patamar ou estiveram dispostas a pagar um pouco mais e recuperar na média, apostando na retração dos preços na colheita. Ao final de janeiro o varejo mostrou mais interesse nas compras no Sul do Brasil. Uma das razões é a operação padrão da Receita Federal, que atrasa a entrada do arroz importado do Paraguai para Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, tradings e corretoras foram a campo para completar cargas para exportação e isso aqueceu a comercialização. A postura retraída do rizicultor acirrou a disputa pelo grão e elevou as cotações.

EFEITO SECA

Além do movimento do mercado interno, há o fator “físico” – pela estimativa de redução da oferta e na qualidade de parte dos grãos – e psicológico provocado pelo agravamento da estiagem no Sul do Brasil e os anúncios de quebra nas safras de todo o Mercosul. Além de neutralizar o aumento de área de 1% que era previsto no Rio Grande do Sul (intenção de plantio 21/22 – área colhida em 20/21) ou cerca de 9,5 mil hectares com abandono por falta de água para irrigar, a seca associada a altas temperaturas vem gerando danos como abortamento da flor e falhas no enchimento dos grãos, o que é sinalizado pela esterilidade das plantas e panículas (espiguetas) esbranquiçadas. A expectativa da volta dos “calorões” neste início de fevereiro não ajuda em nada.

Aliás, a FARSUL confirmou números muito similares aos divulgados por Planeta Arroz na última semana, prevendo uma queda de safra entre 7% e 10% no RS. Planeta Arroz previa até 7,7% em pesquisa realizada há 10 dias e com ressalva de que o clima conduzia a um avanço no percentual. Outra ressalva é que as lavouras com bom abastecimento de água estão muito bem, algumas até com perspectiva de superar recordes em produtividade do ano passado.

A estiagem – e muito alardes fictícios de quebras de até 60% na colheita em grupos de whatsapp de produtores) também explica a razão da indústria ter avançado na busca de grãos com maior percentual de inteiros em janeiro. Apesar da semana passada ter chovido em diversas regiões, novamente foram chuvas muito irregulares que numa diferença de poucos quilômetros variaram de zero a 100 milímetros. Isso faz prever severas dificuldades para algumas áreas no final de ciclo da cultura se não houver recomposição imediata dos mananciais. Muita gente vai optar, por necessidade, para a técnica de colher no seco nesta temporada, por absoluta falta de água. E a previsão é de que o fenômeno La Niña persista até o final do ano, ainda que reduza sua intensidade. Portanto, dificilmente teremos mananciais recuperados para a próxima temporada. Mas, este é um
assunto para mais adiante.

Além da quebra direta, nas áreas abandonadas, há uma quebra percentual pelo efeito das altas temperaturas sobre áreas em floração e enchimento de grãos e, maior ocorrência de grãos quebrados ou quebradiços. Isso derruba a qualidade da safra e valoriza o maior percentual de inteiros. O forte aumento dos custos, estimado entre 26% e 36%, dependendo da fonte, e algumas dificuldades na germinação em algumas regiões, também têm apresentado uma lavoura mais “suja”, ou seja, com muitos inços, nesta temporada. Sem água, o manejo das plantas daninhas ficou ainda mais difícil, seja pela dificuldade de manter a lâmina, seja pela falta de umidade para ação dos herbicidas e das aplicações aéreas.

MERCOSUL

Do Mercosul as notícias também são de quebras mais expressivas. O Paraguai colhe muito bem o arroz plantado em fins de agosto e início de setembro, e mesmo com a volta das chuvas na última semana prevê dificuldades nos 50% restantes da lavoura. A falta de chuvas gerou conflitos ambientais de zonas produtoras com comunidades urbanas na bacia do rio Tebicuary, um dos grandes mananciais. A estimativa de produção caiu pelo menos 15% da previsão inicial.

Assim, de até 1,1 milhão de toneladas que chegaram a ser projetados para a colheita paraguaia, o volume não deverá superar 930 mil toneladas. E o quadro se agrava, podendo elevar as perdas. Na Argentina a quebra já soma 10 mil hectares abandonados (de 200 mil há semeados) e mais de 100 mil toneladas, segundo estimativas da Associação Correntina de Plantadores de Arroz (ACPA) e Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. O governo argentino chegou a estimar uma colheita de 1,45 milhão de tonelada, mas agora já prevê um volume inferior a 1,3 milhão, números que seguem em queda, Os argentinos consomem 710 mil toneladas do grão por ano, contando uso de sementes. A expectativa é de exportar 450 mil t no ano que vem.

O Uruguai, que elevou sua área para 164 mil hectares, das 145 mil semeadas na temporada passada, não teve tantos problemas, mas na sexta-feira dirigentes arrozeiros do país reconheceram que 3,5 mil hectares podem ser perdidos ou fortemente comprometidos pela estiagem. Desta maneira, a média de produtividade poderá ficar abaixo dos 9 mil quilos por hectare pretendidos e a produção baixar dos 1,31 milhão de toneladas esperados.

EXTERNO

No mercado externo a previsão é de que o Uruguai, que tinha estoques zerados em janeiro de 2021, entre o ano comercial, em março, com até 7% de sobras. Isso representa cerca de 85 mil toneladas, quase o dobro do que era previsto inicialmente, e com perdas de 50 a 60 mil toneladas, pelo menos. No Paraguai, a grande dificuldade é a baixa do Rio Paraná, seu canal de escoamento para o mar. Isso deixa como opção os embarques terrestres e torna o Brasil seu principal alvo. Em 2021 o Paraguai vendeu 700 mil t de arroz ao Brasil, a maior parte branco. Os Estados Unidos seguem demonstrando valores mais fortalecidos no mercado futuro e em movimento lateral para o seu mercado físico.

Na Bolsa de Chicago as cotações oscilaram mais para alguns contratos e chegaram a superar US$ 14,98 por cwt (45,36). A equivalência com uma saca de 50 quilos seria de US$ 16,51 o que transformado em reais chegaria a R$ 88,67. São valores da sexta-feira, dia 29. A queda de 10% da área e 16% na produção, mais um alto volume de grãos com baixo rendimento industrial, afetaram a oferta dos EUA. Ao que parece, o Brasil vive uma espécie de Efeito Orloff com relação à safra norte-americana. Lá o problema foi o frio e os furacões fora de época – e a redução de área por causa da opção por soja e milho. O cenário nos EUA, potencializa a capacidade do Brasil exportar neste primeiro semestre por preço e por qualidade. O câmbio tem gerado algum temor, no Brasil, uma vez que o dólar caiu de R$ 5,65 para até R$ 5,37 nas últimas semanas.

Mas, há forte expectativa do anúncio, nos próximos dias, de um acordo comercial com o México para negociação de 150 mil toneladas de arroz em casca sem taxas e sem as exigências sanitárias de  fumigação com produtos proibidos no Brasil. Para alguns corretores, é um tema que será resolvido ainda na primeira quinzena de fevereiro.

BRANCO

O custo do transporte segue interferindo muito na comercialização do beneficiado e, para piorar, nosso principal cliente, que é o Peru, estabeleceu uma taxa extra sobre os preços de importação que compensa qualquer redução nas cotações internacionais. É uma espécie de gatilho para equilibrar o valor do produto importado com a produção peruana, estabelecida por pressão dos arrozeiros andinos. A base de cálculo é a cotação do grão uruguaio.

Atualmente, apenas quatro empresas gaúchas – que se uniram na operação – estão conseguindo enviar cargas fracionadas de arroz branco ao Peru em porão de navio (breakbulk) por causa dos volumes envolvidos. Muitas empresas que operavam com contêineres, não conseguem viabilizar a operação por causa da alta de até 700% dos preços deste tipo de transporte. O transporte marítimo, de modo geral, teve altas de 250% a 550% na maioria das rotas. Na semana passada, mais uma vez quatro empresas gaúchas conseguiram embarcar arroz branco para o Peru, mas em volumes ainda abaixo do que era exportado há pouco mais de um ano.

Para o produtor, convenhamos, é muito melhor entrar lançado na próxima colheita acima dos R$ 70,00 do que na margem de R$ 60,00 como ocorreu na primeira quinzena de janeiro.

3 Comentários

  • 20% por abandono e 20% por falhas… Arroz com rendimento entre 30 e 50… Essa é a realidade da fronteira-oeste… Não choveu mais que 15 mm… A Depressão Central e a Campanhã também estão torrando! Zona Sul, Planície Costeira Externa e Interna irão se salvar e colher bem!!! Querem o número real das perdas peguem o que a depressão central, a campanha e a fronteira-oeste colheram no último ano e multipliquem por 40% no minimo! Não acreditam??? Façam uma visita…

  • Essas regiões acima citadas colheram juntas segundo dados oficiais quase 5.000.000 toneladas * 40%. = 1.979.000 toneladas a menos que 2020/21… A tragédia é imensamente maior do que vocês pensam ou estimam!

  • Sr. Flavio, o “Deus” do arroz e das previsões de terras arrasadas, sem fundamento, chamem a Nasa para analisar o cérebro desse cidadão.

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