Dentro e fora da porteira
O arrozeiro quer vender o arroz por um valor superior ao que paga para produzir.
A cadeia produtiva de arroz do Brasil deveria estar comemorando o recorde produtivo de 13,4 milhões de toneladas da safra 2010/11 e a autossuficiência do suprimento nacional. Pela segunda vez em mais de 30 anos, o país colhe mais do que consome, com sobra de quase 600 mil toneladas do grão, sem contar 2,2 milhões de estoque. Mas, ao invés de comemorar a abundância de alimentos, os produtores enfrentam uma crise de comercialização com graves consequências, como o crescente endividamento.
É verdadeiro afirmar que a maioria dos produtores está fazendo a sua parte “do lado de dentro da porteira”. A alegação de que o custo médio de produção no Rio Grande do Sul na safra passada foi de R$ 29,13 não é parâmetro. Um produtor com este custo, para os padrões da lavoura gaúcha, é ineficiente, mas honrar a legislação que determina o preço mínimo de R$ 25,80 é uma obrigação do governo federal, principalmente no momento em que os preços caíram até R$ 10,00 por saca, em cinco meses, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina e perto disso em outros estados, pois os mecanismos de comercialização não surtiram os resultados esperados.
Mas, além de reduzir seus custos de produção, sob pena de inviabilizar seus negócios, o Brasil precisa que o governo adote medidas emergenciais mais eficientes, além de ações que estruturem a cadeia produtiva de maneira a encontrar destino para todo esse produto e condições de competir no mercado doméstico e no cenário internacional, principalmente com o Mercosul e seus excedentes. Essa equação só vai fechar somando esforços dos dois lados da porteira.
É dever dos governos federal e estaduais reduzir a pesada carga tributária sobre a produção, investir em infraestrutura e logística e dar à produção nacional as condições necessárias para manter o Brasil autossuficiente e fornecedor de arroz ao mundo. O produtor não quer ser herói, ele só quer vender seu produto por um valor superior ao que paga para produzir. Seria ótimo que os governantes entendessem isso.