Depressão Central do RGS paga o preço do pioneirismo

Segundo Alfredo Treichel, presidente da Abiap, a região paga o preço do pioneirismo de mais de 100 anos de cultivo do arroz irrigado na falta de qualidade do produto.

O industrial Alfredo Treichel, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Arroz Parboilizado, está inconformado com a divulgação, pela imprensa de todo o país, corretoras e trades, de que a Depressão Central do Rio Grande do Sul paga os menores preços médios pelo arroz. Segundo ele, há falhas de informação nestes dados. “Quem indica estas cotações precisa informar qual a empresa está pagando os valores informados, pois esta imagem é prejudicial aos demais engenhos”, frisa.

Segundo Treichel, há oferta de arroz de outras regiões, até de qualidade superior ao da Depressão Central, com preços bem mais baixos. Além disso, explica que parte da Depressão Central paga o preço do pioneirismo no cultivo de arroz, pois colhe um produto com problemas de qualidade. “Há muita quebra na qualidade do produto por baixo índice de grãos inteiros, exagerada presença de arroz vermelho e outros inços e grãos com danos gerais, como gessados e perfurados por pragas”, explica.

Alfredo Treichel lembra que a revista Planeta Arroz traz, em sua última edição, uma reportagem demonstrando o alto grau de infestações por pragas nas lavouras de Depressão Central que, por ser mais antiga, está mais suscetível a ter problemas.

Ele explica que é muito difícil tirar arroz branco, Tipo 1, na região sem fazer mix com produto importado, da Fronteira-Oeste, da Campanha ou da Zona Sul. “São terras mais novas, muitas delas ainda virgens, que produzem um arroz de maior percentual de inteiros, com ausência ou pouquíssima incidência de arroz vermelho e outros inços”, afirma.

Lembra que na Depressão Central há excessões e produto de alta qualidade, mas na média a falta de qualidade se sobressai. Segundo ele, o arroz de melhor qualidade do Rio Grande do Sul é produzido no Litoral Norte, as últimas terras ocupadas com orizicultura no Estado.

Esta falta de qualidade da Depressão Central, segundo Treichel, não é culpa do produtor. As terras estão inçadas pelo uso intensivo há mais de um século e pela dificuldade de agregar tecnologia e o controle de inços por tratarem-se, em quase 70%, de áreas arrendadas e com contratos anuais. “Mal o produtor
colheu, o proprietário quer colocar o gado, que só retira em setembro ou outubro quando é preciso plantar de novo”, frisa.

Todavia, esta falta de qualidade faz com que o arroz da Depressão Central se torne caro para a indústria, pois demanda um processo mais apurado e trabalhoso de seleção, bem como gera a necessidade de comprar produto em outras regiões pagando fretes mais altos. “Vem embutido no arroz produzido na região o custo de fazer um mix com produto de melhor qualidade para
alcançar a qualidade minima estipulada por lei”, esclareceu.

Segundo ele, esta é uma das razões de Cachoeira do Sul, por exemplo, ter 59 engenhos de arroz em 1981 e hoje, 23 anos depois, ter apenas três engenhos e a cooperativa. A solução para isso, segundo Alfredo Treichel, é melhorar a tecnologia usada no controle dos inços, usando as ferramentas disponibilizadas pela pesquisa e negociar os contratos de arrendamento de maneira que permita um manejo mais adequado da lavoura. O uso de cultivares melhores também é importante, frisa.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter