Desafio único de uma cadeia de competências

 Desafio único de uma cadeia de competências

 A orizicultura brasileira é competente, mas precisa afinar o discurso e as ações e trabalhar em favor da sua consolidação como fornecedora do mercado global do grão, equalizar a carga tributária interna, lutar contra barreiras econômicas e medidas que aumentem os custos de produção, como a tabela de frete. A posição é de ELTON DOELER, 50 anos, que preside até 2019 a Associação Brasileira das Indústrias de Arroz (Abiarroz). Também é vice-presidente do Sindicato das Indústrias do Arroz do Rio Grande do Sul (Sindarroz-RS) e diretor-presidente do Grupo Felice, que atua na construção civil, agronegócios, alimentos e setor automobilístico, com empresas em 19 cidades gaúchas. Nesta entrevista ele fala sobre os desafios do setor industrial, da cadeia produtiva, defende a livre iniciativa, a liberdade econômica e novas alíquotas e isenção de impostos para o grão.

Planeta Arroz – A qualidade do arroz brasileiro é internacional. A que devemos isso?
Elton Doeler – Sem dúvida do aprimoramento de uma atividade centenária. Temos 120, 130 anos de tradição. A cultura está impregnada em quatro ou cinco gerações de produtores, talvez mais. Movimenta a economia da metade sul gaúcha e as indústrias, concentradas nesta região, têm um papel importante gerando empregos, renda e assegurando a qualidade com que este grão sai do campo.

Planeta Arroz – É um trabalho em cadeia…
Elton Doeler – Não há indústria sem o produtor e vice-versa. Tenho falado que temos uma cadeia produtiva de muita competência, mas com o desafio de unir as competências da pesquisa, do produtor, da indústria numa aproximação para valorizar nosso produto, nos tornarmos mais competitivos e ampliar nosso nível de comercialização.

Planeta Arroz – Há trabalho neste sentido com um projeto exportador.
Elton Doeler – Exato, o projeto Brazilian Rice, que há quase 10 anos promove as exportações de arroz desenvolvido pela Abiarroz e a Apex-Brasil. Por meio dele temos capacitado empresas a exportar e consolidado espaços importantes no exterior. É um trabalho de fôlego, com três renovações, muito esforço e que consegue alcançar seus objetivos.

Planeta Arroz – Mas precisa mais…
Elton Doeler – Os resultados superam a expectativa. Mas a realidade do mercado mundial de arroz não é de uma comercialização de grandes volumes. O arroz é pouco exportável, tem mercado muito restrito e qualquer avanço é importante e significativo. É um cereal com viés de segurança alimentar, que os paí-A orizicultura brasileira é competente, mas precisa afinar o discurso e as ações e trabalhar em favor da sua consolidação como fornecedora do mercado global do grão, equalizar a carga tributária interna, lutar contra barreiras econômicas e medidas que aumentem os custos de produção, como a tabela de frete. A posição é de ELTON DOELER, 50 anos, que preside até 2019 a Associação Brasileira das Indústrias de Arroz (Abiarroz). Também é vice-presidente do Sindicato das Indústrias do Arroz do Rio Grande do Sul (Sindarroz-RS) e diretor-presidente do Grupo Felice, que atua na construção civil, agronegócios, alimentos e setor automobilístico, com empresas em 19 cidades gaúchas. Nesta entrevista ele fala sobre os desafios do setor industrial, da cadeia produtiva, defende a livre iniciativa, a liberdade econômica e novas alíquotas e isenção de impostos para o grão.

Planeta Arroz – A qualidade do arroz brasileiro é internacional. A que devemos isso?
Elton Doeler – Sem dúvida do aprimoramento de uma atividade centenária. Temos 120, 130 anos de tradição. A cultura está impregnada em quatro ou cinco gerações de produtores, talvez mais. Movimenta a economia da metade sul gaúcha e as indústrias, concentradas nesta região, têm um papel importante gerando empregos, renda e assegurando a qualidade com que este grão sai do campo.

Planeta Arroz – É um trabalho em cadeia…
Elton Doeler – Não há indústria sem o produtor e vice-versa. Tenho falado que temos uma cadeia produtiva de muita competência, mas com o desafio de unir as competências da pesquisa, do produtor, da indústria numa aproximação para valorizar nosso produto, nos tornarmos mais competitivos e ampliar nosso nível de comercialização.

Planeta Arroz – Há trabalho neste sentido com um projeto exportador.
Elton Doeler – Exato, o projeto Brazilian Rice, que há quase 10 anos promove as exportações de arroz desenvolvido pela Abiarroz e a Apex-Brasil. Por meio dele temos capacitado empresas a exportar e consolidado espaços importantes no exterior. É um trabalho de fôlego, com três renovações, muito esforço e que consegue alcançar seus objetivos.

Planeta Arroz – Mas precisa mais…
Elton Doeler – Os resultados superam a expectativa. Mas a realidade do mercado mundial de arroz não é de uma comercialização de grandes volumes. O arroz é pouco exportável, tem mercado muito restrito e qualquer avanço é importante e significativo. É um cereal com viés de segurança alimentar, que os paí-ses que consomem procuram produzir, ter autossuficiência. Isso restringe o tamanho do comércio. O consumo de grãos curtos e aromáticos que não produzimos diminui ainda mais o mercado para o nosso tipo de grão longo e fino, no qual temos concorrentes fortes como o Mercosul e os Estados Unidos. Por isso, a promoção é fundamental para que os importadores conheçam nosso arroz, sua qualidade, se tornem nossos clientes e permaneçam como tal enquanto ampliamos a presença em novos mercados.

Planeta Arroz – Este objetivo vem sendo alcançado?
Elton Doeler – Sim. A qualidade tem sido um fator diferencial nas nossas vendas. E o objetivo do programa é atualizado com novas prospecções, países e regiões de interesse. Temos potencial e queremos transformá-lo em vendas e fidelizar estes clientes. A prioridade é para produtos industrializados, que geram renda, empregos, reduzem a ociosidade do parque industrial. Mas a exportação de matéria-prima tem sido uma alternativa importante e não nos opomos ao aproveitamento desta oportunidade.

Planeta Arroz – A exportação não faz parte da cultura secular?
Elton Doeler – Estamos desenvolvendo essa cultura. Exportar um milhão ou mais de toneladas ao ano nos coloca entre os 10 maiores fornecedores do mundo. Mas não é fácil. Aí o projeto ganha mais relevância. Exportar exige conhecimento da tributação, logística, acesso a crédito internacional, anuências, documentação, legislações distintas, liberação em aduana, demanda dos clientes e, principalmente, de seu produto e sua capacidade. Participamos de feiras e ações promocionais com a média de cinco a 10 empresas, às vezes mais. E missões empresariais, degustações no exterior, rodadas de negócios em que trazemos os compradores até aqui.

Planeta Arroz – A Apex é responsável por isso?
Elton Doeler – Sim, com as empresas. Uma empresa aprende com a outra, trocamos informações, realizamos eventos, cursos, meios de qualificar as informações e as ações. É um trabalho da entidade. Depende do governo também, pois é preciso evoluir em acordos bilaterais, suporte nas relações exteriores, abrir mercados que são protecionistas e fechados. Isso envolve consulados, adidos comerciais, a representação do governo brasileiro nas nações importadoras.

Planeta Arroz – E nestas áreas há também avanços?
Elton Doeler – Sim. Talvez em velocidade menor do que gostaríamos, mas os avanços são claros.

Planeta Arroz – Para isso há também a necessidade de reduzir custos.

Elton Doeler – Temos buscado isso. Não só com a modernização do parque industrial para tornar-se mais eficiente e reduzir custos operacionais. Entendemos que há taxas e cobranças que podem e devem ser reduzidas, bem como a burocracia. No momento travamos duas batalhas: uma contra a taxa de escaneamento de contêineres e outra contra o tabelamento do frete que afeta não só a exportação, mas eleva o conjunto de custos da cadeia produtiva. Temos lutado contra ambos junto às instâncias competentes. Faz parte do desafio: produzir qualidade e vender a preço competitivo.

Planeta Arroz – O tabelamento do frete afetou tanto assim?
Elton Doeler – Sim. E me preocupa que tivemos audiências públicas da cadeia produtiva e não vi manifestações neste sentido. Trata-se de uma medida que consideramos inconstitucional e uma afronta às leis de mercado, que desregula a relação de mercado e transfere renda da cadeia produtiva para o segmento do transporte por decreto. Isso agregou um custo indevido ao arroz e as pessoas não estão enxergando a dimensão do problema. Essa conta vai chegar ao consumidor e desequilibra a cadeia produtiva. Num primeiro momento afetou as indústrias, as tradings e a exportação. Mas com a nova safra incide sobre a produção e vai gerar um impacto de 15% a 20% na média dos fretes. Alguns percursos chegaram a aumentar em 50% e o exportador, para respeitar prazos, teve que bancar.

Planeta Arroz – Uma solução vem sendo protelada pela Justiça e o próprio governo.
Elton Doeler – É preciso uma solução já. O arrozeiro e a indústria precisam ter claro o entendimento de que a logística aumenta o preço ao consumidor e também o custo em cada elo da cadeia produtiva, exceto o transportador, que garantiu por decreto sua margem de lucro, enquanto os demais segmentos dependem das regras de mercado.

Planeta Arroz – Além disso, há uma excessiva carga tributária.
Elton Doeler – Eu vejo mais como um descompasso tributário. Digo isso porque há mais de 10 anos havia um escopo tributário com incidência de PIS/Cofins e ICMS, que na época girava em torno de 12%. Isso, atualmente, representaria mais de 20% de custo tributário sobre o arroz. Mas com apoio de toda a cadeia produtiva e a sensibilidade do Estado, há isenção total de PIS/Cofins e a carga efetiva do ICMS caiu para 7% para os estados desenvolvidos e 4% para o Nordeste e estados ditos não desenvolvidos. É um avanço inegável.

Planeta Arroz – Ainda assim, há uma guerra fiscal?
Elton Doeler – Exatamente, aí está o descompasso, nas 26 legislações tributárias estaduais que obrigam cada empresa a ter um setor especializado na parte tributária, num arcabouço de legislações que, em alguns casos, são impeditivas. Há estados em que o protecionismo exige malabarismos para que gaúchos e catarinenses consigam vender arroz. A indústria trabalha com margens muito apertadas e essas barreiras da guerra fiscal, que zeram alíquotas para uns e ampliam para outros, geram um custo que praticamente inviabiliza as transações comerciais com alguns estados. Exemplos são Minas Gerais, Goiás e, em alguns casos, São Paulo. A guerra fiscal não ajuda em nada para que o consumidor tenha um produto mais competitivo e seja justamente tributado.

Planeta Arroz – Mas há um caminho proposto pela Abiarroz?
Elton Doeler – Temos um entendimento muito claro. A gênese da Abiarroz é a liberdade econômica, a livre concorrência. Entendemos que o produto da cesta básica deve ser tributado equitativamente em 4% em todo o Brasil, o que é uma alíquota coerente para a alimentação da população, em especial a de baixa renda. Agora, há um projeto tramitando no Congresso Nacional que propõe alíquota zero para estes produtos, inclusive de ICMS. E isso, sim, seria um grande avanço. Mas acreditamos que é melhor um acordo que leve a 4% do que um projeto de alíquota zero com forte resistência. Esse será um tema para o futuro presidente, governadores e o Congresso Nacional discutirem dentro de uma reforma tributária e do próprio Pacto Federativo.

Planeta Arroz – Qual a visão da indústria sobre as importações do Mercosul?
Elton Doeler – Veja, seria incoerente propormos e defendermos a abertura de mercados e criticarmos as barreiras comerciais para que exportemos mais e nós mesmos levantarmos impeditivos à importação. Como disse, a base da criação da Abiarroz é a liberdade de mercado, a liberalidade econômica. Queremos que o México, os Estados Unidos, a Europa, a Nigéria levantem suas barreiras e nos propomos a ser mais competitivos, então precisamos aceitar a competição sem criar mecanismos artificiais de protecionismo. Somos coerentes com as posições que pregamos. Se tivermos capacidade de exportar bem, mercados para absorver nossas vendas, não temos que nos preocupar com importações.

Planeta Arroz – As importações não impactam nos preços internos?
Elton Doeler – É muito relativo. Veja o exemplo. O Brasil consome 12 milhões de toneladas de arroz segundo a Conab, um milhão por mês. O nosso maior fornecedor é o Paraguai, que nos vende perto de 500 a 550 mil toneladas por ano. Isso representa 15 dias de consumo do Brasil. Será que estes 15 dias impactam tanto? Parece-me que o maior impacto não é da importação, mas das questões internas.

Planeta Arroz – E daí, voltamos à questão tributária?
Elton Doeler – Sim, mas tudo passa também por outro viés. Um trabalho efetivo na redução dos custos. Além da parte tributária, precisamos nos tornar mais eficientes na aquisição de insumos e máquinas, na economia de energia ou redução de seus custos, na agilidade e eficiência dos processos. Temos problemas estruturais graves na cadeia produtiva, como é o caso do arrendamento, endividamento, por exemplo, da própria tabela do frete. São custos agregados à produção que muitas vezes a atividade não comporta. Agora, veja que no decorrer do ano comercial os preços da saca de arroz foram de R$ 33,00 no início da colheita até R$ 45,00 em setembro. Os problemas estruturais continuam todos aí, mas se parou de discuti-los e resolvê-los.

Planeta Arroz – Então há esperanças de dias melhores para a orizicultura?
Elton Doeler – Com a cadeia produtiva trabalhando unida, com a sensibilidade dos governos e muito profissionalismo, sempre há. Somos otimistas com o futuro da orizicultura brasileira.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter