Diversificar para crescer
Explorar todo o potencial do arroz pode ser a solução para o segmento.
O produtor arrozeiro do Rio Grande do Sul não tem dormido tranquilo. E isso não é recente. Desde a década de 90, rizicultores sofrem com as quedas nos valores pagos pelo produto safra após safra. Basta uma realizar busca rápida no site google com as palavras “crise” e “arroz”, que logo aparecem várias menções às quedas de preços ao longo desses vinte anos. Nesse período, o rizicultor viu os custos dos insumos, transporte e armazenagem subirem, em contrapartida, seus ganhos minguaram. As causas são variadas e convergem para a o permanente estado de tensão. Em 2011, desde o início da colheita, os arrozeiros viram a queda nos preços reduzir o ganho a ponto de tornar inviável obter algum retorno financeiro a curto prazo, mesmo que seja apenas para custear a lavoura.
Medidas paliativas por parte do Governo Federal não tem surtido o efeito satisfatório e os problemas continuam. Porém, essa situação pode mudar.
Uma das alternativas para o setor é a diversificação. O arroz produzido no Brasil tem qualidade e produtividade suficiente para suprir a demanda nacional e do exterior, porém, o montante da produção é utilizado quase que exclusivamente na alimentação humana e animal. Logo, o valor agregado à cultura é pequeno, pois as potencialidades que o grão oferece são pouco exploradas ou até desconhecidas em alguns casos. Portanto, investir em alternativas para o produto e em divulgação pode ser uma das saídas para proporcionar a manutenção da lavoura de arroz no Brasil. Enquanto a solução não chega via Governo Federal, talvez seja hora de mudar a abordagem e procurar novos caminhos.
Durante o evento Expoarroz 2011, nos dias 10 a 13 de maio, na cidade de pelotas, Rio Grande do Sul, a importância da diversificação da cadeia produtiva do cereal foi um dos temas abordados em palestras ministradas por especialistas do setor. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é uma das entidades que ressaltaram a importância de buscar novas opções para o beneficiamento do arroz e propiciar ganhos ao produtor.
O Grupo Agrimec, de Santa Maria, Rio grande do Sul, desenvolve máquinas e implementos voltados à produção de arroz irrigado e conta com a experiência de 35 anos no setor. O trabalho realizado pela empresa abrange todos os aspectos da lavoura, desde o plantio ao pós-colheita, além de proporcionar ganhos em atividades ligadas à cultura, como a fenação da palha do arroz já colhido, por exemplo.
A Agência de Desenvolvimento de São Borja também faz parte da iniciativa, ao abrir parceria com empresa do exterior para explorar o uso da casca do arroz na produção de energia elétrica. Também merece destaque o uso de parte da safra para produção de etanol combustível derivado do arroz, produto de alta qualidade que poderia abastecer a indústria de bebidas e farmacêutica, no entanto, sem competir com o álcool extraído da cana-de-açúcar, o que daria um novo fôlego à cultura.
Entretanto, existem barreiras a ser transpostas. Existe pouco conhecimento por parte dos consumidores do potencial do arroz e derivados, além da aplicação em vários produtos industrializados. A implantação de usinas termelétricas e de etanol gera uma necessidade de investimento que apenas o setor privado não é capaz de suportar, visto que as baixas sucessivas dos preços descapitalizaram o segmento. O principal aspecto a se levar em conta é que o mercado não se regula e não se sustenta sozinho, tampouco se verá a solução para os problemas do setor cair do céu. Será preciso uma convergência de iniciativas que favoreçam a manutenção da lavoura brasileira de arroz. Uma delas poderá ser ampliar a gama de produtos derivados do cereal, o que pode agregar valor e abrir novas oportunidades para o setor. Governos Federal e Estadual, entidades ligadas ao segmento arrozeiro, empresas, investidores e os próprios produtores tem a oportunidade de organizar-se e criar mecanismos capazes de devolver ao arroz a condição de protagonista, além de proporcionar a subsistência de toda a cadeia produtiva do cereal.
Confira estudo econômico sobre a lavoura de arroz no Brasil nos anos 1990-2010:
http://www.economiaemdia.com.br/static_files/EconomiaEmDia/Arquivos/infset_arroz.pdf .