Do tamanho do mercado
Planeta Arroz – Há dois anos, a orizicultura do RS vive um bom momento. Sabemos que isso é decorrente de um grande esforço do setor e do governo do RS (incluindo o Irga) e suas ações junto ao governo federal. Que análise o senhor faz daquele momento difícil, quando assumiu a pasta, e quais os desafios imediatos?
Luiz Fernando Mainardi – Foi o primeiro grande desafio que enfrentamos. Uma superprodução e estoques em alta levaram os preços lá para baixo. A partir das excelentes relações que temos com o governo federal, o governador Tarso Genro levou o problema à presidenta Dilma, que, conhecedora da importância da lavoura orizícola, acionou todos os mecanismos possíveis para reverter o quadro. Foi mais de R$ 1,2 bilhão disponibilizado para comercializar 4 milhões de toneladas de arroz através de AGFs, PEPs e contratos de opções, volume recorde de recursos para a implementação de mecanismos de comercialização. O bom daquela crise é que nos permitiu, a partir de diálogo permanente com as representações da cadeia produtiva, obter a certeza da necessidade de se planejar a lavoura. Temos que plantar de acordo com a demanda para que possamos obter um preço justo, que proporcione renda ao produtor. E isso nos levou, através do Irga, a buscar alternativas que possibilitassem a diversificação das áreas do arroz.
Planeta Arroz – E que análise o senhor faz do atual momento da orizicultura gaúcha?
Luiz Fernando Mainardi – Acredito que vive um bom momento. Os preços estão num bom patamar devido aos baixos estoques no mercado interno, influenciado por uma produção com volumes adequados na safra que acabamos de colher. Ao que soma a alternativa de ter a soja como estratégia na comercialização. Tivemos dois anos seguidos de superávit na balança comercial. Neste ano, devido aos bons preços praticados no Brasil, a entrada de arroz do Mercosul deverá ser maior, mas, mesmo assim, com a valorização do dólar e o aumento da competitividade pela qualidade do cereal, exportaremos volumes que manterão nossos preços em níveis que proporcionarão uma boa renda para o produtor.
Planeta Arroz – Como o senhor avalia este processo de diversificação da lavoura arrozeira, com a soja e o milho na várzea?
Luiz Fernando Mainardi – Este movimento, que é estimulado por nós, é muito importante. Particularmente, defendo que não devemos ter orizicultores, sojicultores, pecuaristas. O homem do campo deve ser um produtor rural completo. Um empreendedor aberto às possibilidades na produção de alimentos. A diversificação é fundamental para manter a estabilidade do negócio. Se uma atividade for mal, outra vai bem, e isso impede perdas totais. Além disso, a rotação traz benefícios para o solo. É uma excelente oportunidade de gerar mais renda.
Planeta Arroz – O Irga tem papel preponderante em relação às pesquisas com estas culturas, bem como o desenvolvimento de cultivares. Qual a sua avaliação do trabalho do instituto?
Luiz Fernando Mainardi – O Irga é um exemplo. O trabalho desenvolvido por seus pesquisadores e técnicos, em sintonia com os produtores, explica as razões dos grandes avanços desta cadeia produtiva. Sensível às mudanças dos tempos, a equipe liderada pelo Claudio Pereira foi atrás de alternativas. E uma delas é a microcamalhoneira, máquina que permite o plantio da soja e do milho nas áreas do arroz, o que proporciona a rotação de culturas e a diversificação de renda. Além, é claro, de ajudar o Estado a cobrir o défici tque tem na produção de grãos para alimentar as cadeias dos suínos, das aves e da própria bacia leiteira. Este movimento sincronizado eleva a economia rio-grandense, faz o PIB agropecuário crescer e alcança ao Estado recursos, via maior arrecadação de tributos sem elevação de impostos, para que possa atender as necessidades de áreas estratégicas como a saúde, a educação e a segurança.
Planeta Arroz – Dentre os projetos desenvolvidos pela Seapa, há o Mais Água, Mais Renda. Em sua opinião, o setor vive uma quarta revolução agrícola?
Luiz Fernando Mainardi – Fiz esta afirmação em artigo que escrevi, partindo do princípio de que a primeira grande mudança ocorreu em meados do Século 19, com a Revolução Industrial, que trouxe para o campo a mecanização, a genética, os fertilizantes e os defensivos. A chamada Revolução Verde provocou aumentos expressivos de produtividade, impactando a produção de alimentos no mundo. O plantio direto, nos anos 90, pode ser caracterizado como a segunda revolução, assim como o histórico crescimento do crédito para o setor rural nos últimos 10 anos é a terceira revolução. Desta forma, a irrigação, que estabiliza a produção e promove ganhos de produtividade, é o quarto movimento que, estou convencido, vai provocar grandes transformações no perfil produtivo da agropecuária gaúcha.
Planeta Arroz – A proposta de estabelecer cotas de exportação do arroz entre os países do Mercosul foi rejeitada pelo Uruguai. Que análise o senhor faz dessa decisão e que alternativas o governo brasileiro?
Luiz Fernando Mainardi – Bom, tínhamos que encaminhar as propostas debatidas e sugeridas pelos produtores. É este o setor que mais tem tido dificuldades com a entrada livre de arroz. Esta entrada, sem possibilidades de planejamento, tem, historicamente, deprimido os preços e trazido dificuldades para a sustentabilidade da lavoura. Temos que qualificar a nossa produção através de uma gestão que minimize os custos de produção. Trabalhar com rotação de culturas, a integração lavoura/pecuária e preparar a indústria para a exportação como estamos fazendo junto com a ApexBrasil, Abiarroz e o Irga. Isso é um caminho sem volta. Além disso, temos que continuar com o trabalho de buscar o aumento do consumo de arroz e seus derivados no mercado interno.
Planeta Arroz – Tivemos recentemente a aprovação da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE) que unificou as alíquotas de ICMS. A Secretaria da Fazenda teve papel fundamental nesse processo. Como avalia esse processo de diálogo com a classe produtora, a atuação do governo e o que ainda pode ser aprimorado?
Luiz Fernando Mainardi – A Secretaria da Agricultura e a Secretaria da Fazenda chamaram os representantes da indústria e dos produtores para encontrar, de maneira conjunta, soluções para as dificuldades encontradas na venda do nosso arroz para outras regiões do Brasil. Após as medidas do governo do estado, o nosso arroz ficou mais competitivo no Norte e Nordeste do Brasil e as diferenças encontradas no Sudeste foram minimizadas. Além disso, com a valorização do dólar, ficou mais difícil a entrada de arroz do Mercosul. Para resolver estas questões de forma definitiva tem que haver a reforma tributária. O governo gaúcho defende as alterações no Confaz e articula com a presidenta Dilma a defesa de política tributária mais justa aos estados produtores.
Planeta Arroz – Que gargalos o setor produtivo rio-grandense precisa superar para ser competitivo?
Luiz Fernando Mainardi – Neste ano, o Porto de Rio Grande dobrou a sua capacidade no recebimento da soja e, apesar da grande produção, os problemas foram pontuais. Desde o início do nosso governo, os armazéns da Cesa foram orientados a dar prioridade aos embarques de arroz. As alternativas de escoamento de arroz através da cabotagem têm sido excelentes para os embarques ao Nordeste, baixando o custo do frete em comparação ao transporte rodoviário. Ainda, com a lei da modernização dos portos, proposta pela presidenta Dilma, a duplicação da BR 116 até o porto e a implantação da sinalização para navegação fluvial noturna estaremos no caminho para superar os gargalos logísticos.
Planeta Arroz – Um dos gargalos identificados é a armazenagem. Como a Seapa trabalha esta questão?
Luiz Fernando Mainardi – A Cesa tem suas limitações. Já não cumpre o papel que exercia no período em que foi criada. Apesar de termos conseguido, nos últimos dois anos, obter superávits operacionais, o passivo é grande. Trabalhamos com o Ministério da Agricultura, via Conab, a possibilidade de federalizarmos a companhia. Ao mesmo tempo em que, no governo do estado, construímos um Plano Estadual de Armazenagem. A estocagem é uma questão que preocupa, pois sabemos do papel estratégico que cumpre no fortalecimento da atividade agrícola.