Dólar abaixo dos R$ 5,00 deixa mercado do arroz em stand by
(Por Cleiton Evandro dos Santos / Revista Planeta Arroz / AgroDados™) O recuo do dólar na semana que passou, e que permanece na faixa próxima de R$ 4,90 nesta segunda-feira deixou o mercado do arroz em stand by. As tradings se retiraram do mercado para reavaliar as oportunidades, uma vez que nestes patamares os preços internos se tornam não competitivos para o comércio internacional. Apesar da demanda, o Brasil não está conseguindo fazer frente para outros fornecedores do Mercosul e até mesmo aos Estados Unidos. A reação do Real está baseada em fatores como a previsão de inflação menor que o esperado no Brasil, a aprovação do Arcabouço Fiscal pelo mercado financeiro, a projeção de juros menores no médio prazo e o cenário externo.
O movimento cambial criou uma condição típica no mercado orizícola. Sem preços competitivos, as tradings saíram do mercado e a comercialização estagnou com a indústria recuando e buscando oportunidades de importação. Hoje, arroz beneficiado, colocado em São Paulo chega do Paraguai por até 10 reais abaixo da cotação da saca no Rio Grande do Sul. Não há como competir. Vendo a indústria suspender as compras, alguns produtores passaram a ofertar um pouco mais, mas já longe dos patamares que vinham sendo alcançados nos últimos dias. A questão agora é encontrar o equilíbrio entre câmbio, oferta x demanda e entre os preços internacionais e domésticos. Com o arrozeiro brasileiro pedindo R$ 95,00 por saca, o que supera 19 dólares e nos EUA os valores na faixa de 17 dólares e com fretes muito menores, não há como concorrer.
Ou o câmbio volta aos patamares acima de R$ 5,20 por dólar, ou a pressão sobre os preços do arroz brasileiro crescerá. Esse movimento travou a alta que vinha acelerando em plena colheita por causa da estimativa de uma safra menor. O que deixa ainda mais evidente que o mercado doméstico não dá suporte, sozinho, para a elevação das cotações. Outra ponta que busca equilíbrio, é o agricultor em busca de cobrir os custos de uma safra cara, na qual os fertilizantes só baixaram de preços depois de terem sido adquiridos.
Não é só isso: a estiagem trouxe baixa produtividade para a soja, que também perdeu preço no cenário internacional. Assim, mesmo capitalizado, o agricultor fez uma safra cara e poderá ter que alterar a estratégia de vender soja e segurar arroz para o segundo semestre.
Se os preços internos subiram e o dólar caiu, as cotações ficaram “descasadas”. Essa condição retira a competitividade do arroz brasileiro para exportação e, apesar das sondagens, novos embarques ficam em suspenso. Mesmo com o exportador travando o dólar, os valores não compensam. Tanto que navios que seriam carregados no Brasil para as Américas do Norte e Central, foram negociados diretamente pelos Estados Unidos e o Uruguai. Deixamos de exportar 60 mil toneladas, ao menos, a serem embarcadas em maio. E temos registrado um início de ano (março/fevereiro) com balança comercial negativa.
As reações são sintomáticas de um cenário típico. Apesar da colheita menor e toda a conjuntura que vinha dando suporte à reação dos preços, e da demanda internacional, o mercado vinha pouco ofertado com a saca cotada entre US$ 16,50 e US$ 19,50. Valores históricos e que deveriam dar suporte às vendas. Mas, contando com os R$ 100,00 muita gente segurou o arroz.
É a nova máxima da orizicultura gaúcha. Todo mundo sabe que é preciso exportar, mas ninguém quer ser o primeiro por acreditar que pode obter melhores resultados.
Ainda que consiga colocar apenas 750 mil toneladas de arroz no Brasil, ou seja, 7,3% do consumo nacional, a concentração de oferta paraguaia nestes valores é muito competitiva e baliza preços, enquanto o Sul do Brasil é penalizado com uma espécie de TEC – custo tributário – para comercializar o grão com os mesmos estados.
Assim, com indústrias e tradings sem comprar no Brasil, o comércio não roda o volume tradicional. O câmbio está impactado por muitas suposições e poucas certezas, o que poderá criar um novo cenário em curto e médio prazos. Fato é que 2023 não será igual a 2022. Nem a economia se comporta da mesma maneira, nem o clima, pois há expectativa de safra maior no hemisfério norte, a começar pelos Estados Unidos, que deverá retomar parte dos clientes, como é o caso do México.
Vale lembrar que sob pressão da expectativa de safra maior, os preços futuros nos EUA estão em queda. Hoje, o quintal é cotado na CBOT na faixa de US$ 16,00 a US$ 16,70. Ou seja, em 2023, pelo cenário, o Brasil não repetirá venda de 600 mil toneladas de arroz em casca para o México.
As máximas do mercado, portanto, estão revalidadas. Se o dólar perde valor, as exportações param, a indústria importa para se manter competitiva, o varejo segue pressionando os preços para baixo e o produtor oferta. Solução? Dólar nos patamares de R$ 5,20, que viabilizem a exportação e permita recuperar preços em patamares competitivos nos mercados interno e externo. Enquanto isso, o mercado marca passo. E cada um dos elos da cadeia produtiva apenas observa a espera de um cenário de maior clareza.