Duas realidades, dois mercados

 Duas realidades, dois mercados

Foto: Robispierre Giuliani)

(Por Cleiton Evandro dos Santos, AgroDados/Planeta Arroz) Os últimos dias são de apreensão e realidades distintas na cadeia produtiva do arroz. De um lado, os preços do grão da safra 2020/21 não têm referências porque há alta demanda e baixa oferta. De outro, o arroz “novo”, que está sendo colhido nesta temporada, começa a ter uma oferta mais significativa, mas não tem cotações referenciais porque a indústria está aguardando um cenário mais claro de volume e qualidade de produção.

Ou seja, em um padrão o rizicultor só vende se o preço lhe satisfizer muito – e não oferta grandes volumes porque espera que variedades com maior percentual de inteiros sigam cada vez mais valorizadas. A indústria, por sua vez, percebe uma queda na qualidade – por gessados e mais quebrados – nos primeiros cortes e aguarda uma retração nas cotações também em função do vencimento dos contratos de CPR´s e outras modalidades de financiamento, e a própria pressão da oferta de colheita.

São díspares, também, os cenários da colheita. Enquanto a Zona Sul e as Planícies Costeiras têm uma produtividade maior de arroz, soja e milho em terras baixas, graças a um volume e uma regularidade mais efetiva de chuvas, Fronteira-Oeste, Região Central e boa parte da Campanha estão colhendo menor volume de grão, registrando baixa produtividade, maior presença de grãos gessados e falhados e mais áreas abandonadas. Tudo isso, sob a pressão de uma elevação de até 36% nos custos de produção.

Mesmo nas áreas de menor produtividade média, em função da irregularidade das chuvas, há produtores que colherão bem – em volume e qualidade – e deverão consolidar melhores negociações e alcançar maiores preços. O inverso também ocorrerá. Em áreas de médias produtivas mais elevadas, haverá produtores com problemas pontuais causados pela estiagem. Assistentes técnicos públicos e privados, no entanto, acreditam que superados os cortes das variedades precoces e que pegaram calor excessivo na floração, as próximas colheitas – final de fevereiro e março – devem trazer grãos de mais alta qualidade.

A invasão da Ucrânia pela Rússia é vista como um potencial fator de alta dos preços do arroz no Brasil e no mercado internacional, que já vinham turbinados pela queda produtiva causada pela seca. O trigo e o milho, dois cultivos muito fortes nesta região, que é grande exportadora mundial destes grãos, dispararam de preços no mercado internacional e a soja acompanhou. Em 2008 e 2009, este foi o comportamento. Primeiro subiram os preços da soja e do milho a patamares recordes e, mais tarde, o trigo e o arroz. Observa-se mais a relação com o trigo, sucedâneo natural do arroz em boa parte dos mercados clientes do Brasil.

COTAÇÕES

A semana registrou parâmetro de negócios na faixa dos R$ 80,00, brutos, em algumas praças do RS para “arroz velho” com 58% de grãos inteiros acima. Grão “novo” segue sem parâmetros com a indústria recebendo a depósito, mas negociando raras cargas. Boa parte está fora do mercado. O Indicador de Preços do Arroz em Casca no RS, Cepea/Irga-RS, às vésperas do feriadão de Carnaval, apresentou pequeno recuo nesta sexta-feira (25/2), para R$ 73,92, mas segue trajetória firme e com expectativa de estabilidade por causa do feriadão. Isso porque os agentes estiveram pouco ativos aos negócios. Ainda assim, em fevereiro as cotações marcam evolução de 15,5%. Equivale a US$ 14,37.

Na quinta-feira, 24/2, o indicador alcançou pela primeira vez, em cerca de quatro meses, os R$ 74,05 para a saca de 50kg em casca. Equivalia, pelo câmbio do dia, a US$ 14,47. Neste patamar, os valores se aproximam muito dos preços de exportação norte-americanos – em torno de US$ 16,00 – com a vantagem de até US$ 70,00 por tonelada no frete para a origem dos EUA. A demanda existe, há sondagens, mas nos preços atuais os importadores adotaram cautela e preferem esperar um cenário mais consolidado no Mercosul. Até por isso, a Índia registrou um pequeno aumento da demanda esta semana.

A indústria segue com dificuldades de repassar tabelas para o varejo, que aguardando a entrada de mais produto da safra e informações sobre a qualidade do grão, está comprando “da mão pra boca”. Espera que a pressão de oferta ajuste os preços.
Os estados do Brasil Central seguem preocupados com a qualidade do arroz colhido no Paraguai e insistindo na aquisição de grão da safra velha, em especial na Fronteira Oeste.

Os preços aos consumidores, em razão deste comportamento, ainda não tiveram impacto que mereça registro.

GUERRA

A preocupação atual dos arrozeiros, que estava pautada apenas na chuva e no resultado da colheita, ganhou mais um tema. A guerra entre Rússia e Ucrânia poderá afetar a oferta de fertilizantes, que já é um fator preocupante, e ampliar os custos do frete. O petróleo e seus derivados também dispararam nas cotações internacionais, o que fatalmente trará impactos de alta aos produtos alimentares e ao transporte.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter