Duas vezes milho
Irga propõe duas safras de milho irrigado em áreas de arroz
Mal está sendo encerrada uma das mais difíceis safras da história recente da orizicultura e um novo ciclo já está começando. Com isso, é retomada também a busca de alternativas para um manejo que agregue melhores condições químicas, físicas e biológicas ao solo, renda e amplie o portfólio de produtos, além de permitir uma melhor gestão comercial e dos recursos. Assim, cresce a expectativa de evolução das lavouras de soja em terras baixas e de mais espaço para o milho. Na temporada 2023/24, com a expectativa de excesso de chuvas e de um El Niño intenso, o milho em rotação com arroz e soja não foi alternativa interessante. Em 2024/25, poderá ser.
Enio Coelho, engenheiro agrônomo responsável pela coordenadoria regional do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) na Região Central, explicou que se há 10 anos era impensável produzir milho em várzeas, hoje, não é só uma realidade, mas, também, é possível fazer duas safras em uma mesma temporada: uma de milho grão e outra de milho-silagem.
“A evolução tecnológica, seja de cultivares ou de manejo, atualmente, coloca esse grão como uma cultura viável em áreas favoráveis das terras baixas. Semeando em agosto, quando já há interferência do clima de primavera, é possível ao agricultor colher uma primeira safra de milho-grão e, em seguida, uma de silagem. Para a pequena propriedade, isso é muito relevante pelas diversas utilizações que o milho tem na atividade rural”, explicou Coelho. A prática também é recomendável por manter o solo coberto e em uso por mais tempo, rotacionar os sistemas de controle de pragas, doenças e invasoras e permitir que o solo recupere as suas melhores condições químicas e físicas.
“A exploração permanente de uma cultura, como é o caso histórico do arroz, cultivado há mais de 120 anos na região, acaba demandando um tipo específico de nutrientes preferencialmente. Ao alternar os cultivos e adotar uma cobertura de inverno, tipo aveia, trevo persa, entre outros, conseguimos melhorar as condições químicas e físicas do solo e, por consequência, a sua fertilidade”, observou Coelho.
O professor Paulo Régis da Silva, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), consultor do Irga e um dos profundos conhecedores do cultivo de milho em terras baixas, entende que o uso dessa cultura é plenamente viável, mas destacou que se trata de uma atividade de maior risco do que a soja, cujo cultivo o arrozeiro já domina de forma mais estável. “O milho é muito mais suscetível ao clima, demanda alta tecnologia para dar melhores resultados, precisa de irrigação e não é tão resiliente. Então, demanda mais atenção e conhecimento do agricultor”, enfatizou.
Para Paulo Régis, diante do grande desafio de abastecimento com rações da indústria de suínos, aves e leite do Rio Grande do Sul, a região arrozeira gaúcha é, atualmente, a mais indicada para um avanço da “milhocultura”. “Uma condição obrigatória para a expansão da área de milho no Rio Grande do Sul é o manejo da irrigação e a disponibilidade de água. E quem está em áreas mais adequadas e domina a tecnologia de irrigação, é exatamente o arrozeiro”, enfatizou. A confirmar-se uma condição de La Niña e de preços não tão atrativos no segundo semestre de 2024 para o arroz, a expectativa é de que o milho alcance perto de 30 mil hectares em propriedades arrozeiras na próxima temporada.