Em busca de recuperação
Balança comercial busca equilíbrio e recuperar preços ainda em 2025
No primeiro semestre de 2025, as importações brasileiras de arroz em equivalente casca recuaram, enquanto as exportações avançaram em relação ao mesmo período de 2024, mas a balança comercial ainda permanece deficitária. O volume adquirido superou o embarcado durante os seis primeiros meses, situação que se reverteu em junho.
De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Brasil exportou 613,17 mil toneladas de arroz em equivalente casca entre janeiro e junho de 2025, um aumento de 10,2% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Em valores, contudo, houve uma queda de 8,8%, totalizando US$ 200,5 milhões, refletindo a desvalorização dos preços médios por tonelada.
Os principais destinos do arroz brasileiro em junho de 2025 foram Nicarágua, responsável por 30 mil toneladas e 19,2% do total exportado. Em seguida, destacam-se Venezuela (15,4%), Costa Rica (11,8%), Países Baixos (7,4%) e Senegal (7,1%). Esses cinco países, juntos, representaram 60,8% dos embarques brasileiros no mês.
IMPORTAÇÕES
As importações totalizaram 694,5 mil toneladas no primeiro semestre, representando uma queda de 12,8% em relação ao mesmo período de 2024. Em junho de 2025, foram adquiridas 111,95 mil toneladas, com um desembolso de US$ 32,59 milhões, resultando em um preço médio de US$ 291,14 por tonelada — valor próximo ao das exportações, o que diminui o diferencial competitivo nas compras externas.
Com a forte recuperação das exportações em junho e a ligeira queda nas importações, a balança comercial voltou a apresentar superávit de 44 milhões de toneladas no mês. Esse cenário reforça que, apesar da queda dos preços internacionais, os exportadores brasileiros estão aproveitando a paridade externa, o que contribui para a redução dos estoques domésticos e pode ajudar a limitar a pressão baixista sobre as cotações internacionais no segundo semestre.
BENEFICIADO
A Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) celebra que o Brasil encerrou o primeiro semestre de 2025 com a exportação de 389,2 mil toneladas de arroz beneficiado (base casca), gerando uma receita de US$ 123,1 milhões. No entanto, o volume embarcado pela indústria entre janeiro e junho apresentou queda de 12,7% em relação ao mesmo período de 2024. Os principais destinos, em termos de volume, foram Senegal, Gâmbia e Peru.
“Esse resultado é, entre outros fatores, reflexo da retomada das exportações de arroz pela Índia, suspensas desde 2022. O retorno ao mercado, em outubro passado, impactou a competitividade brasileira. Com a safra, tivemos preços mais competitivos, o que traz otimismo para este segundo semestre”, disse Gustavo Trevisan, diretor de assuntos internacionais da Abiarroz.
Analisando junho, percebe-se um aumento nas exportações de arroz beneficiado. No mês, foram embarcadas 71,8 mil toneladas (base casca), gerando receita de US$ 20,4 milhões — um crescimento de 107% em relação ao mesmo período do ano anterior.
A receita cresceu 16%. Os embarques para Portugal, quarto principal destino no mês, aumentaram, totalizando 4,5 mil toneladas. Os maiores volumes foram destinados à Holanda, Senegal e Gâmbia. No primeiro semestre, o Brasil comprou 695 mil toneladas (base casca), com desembolso de US$ 212,5 milhões, representando quedas de 11,9% no volume e 38,9% no valor em relação ao primeiro semestre de 2024. Em junho, as importações somaram 112,3 mil toneladas (base casca), totalizando US$ 32,7 milhões — um aumento de 4% em volume frente ao mesmo mês do ano anterior.
DE OLHO EM JULHO
O line-up do Porto de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, marcou uma movimentação recorde para as exportações de arroz em casca e quebrados em 2025 ao longo do mês de julho, e houve também um bom volume de negócios do cereal beneficiado em contêineres. Pelas estimativas dos analistas, os embarques podem somar, pelo menos, 180 mil toneladas e inverter de déficit para superávit a balança comercial brasileira do grão. Para agosto, também é esperado um bom movimento. A dúvida é se, a partir de agosto, com o ingresso dos negócios da nova safra estadunidense e a confirmação das taxas de Donald Trump, em 50% sobre os impostos atualmente pagos — que atingiria o arroz beneficiado brasileiro —, os negócios internacionais persistirão neste ritmo. A recuperação gradativa dos preços no mercado interno também poderá afetar a competitividade do grão gaúcho junto às tradings.
A ameaça de Donald Trump
O presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, tentando intervir em processos judiciais do Brasil e obter vantagens para a exploração de commodities brasileiras, e sem apresentar argumentos econômicos minimamente fundamentados, resolveu anunciar, nas redes sociais, a imposição de taxa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto, entre eles, o arroz.
O fechamento desta edição aconteceu antes da data-limite, portanto, vamos abordar a conjuntura, não os resultados. Para a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), “a medida ameaça a sustentabilidade da cadeia produtiva, responsável pela geração de emprego e renda no Brasil, e exige negociação diplomática e firme por parte do governo brasileiro”, disse nota da entidade. Os EUA receberam, em 2024, um volume equivalente a 13% do valor exportado de arroz branco pelo país, e as tarifas podem gerar uma perda de até US$ 25 milhões ao Brasil. Nos Estados Unidos, é possível substituir o arroz brasileiro por outras origens, mas o Brasil depende desse destino para escoar um volume relevante da produção.
Questão básica
O anúncio de tarifas de 30% por Donald Trump sobre todos os produtos mexicanos e canadenses, em paralelo às ameaças ao Brasil, poderá favorecer o arroz brasileiro para exportação a esses dois importantes mercados. O México é o maior importador de arroz dos EUA, com cerca de 900 mil toneladas/ano. Já o Canadá é o quarto maior importador de arroz branco. A alternativa, nos dois casos, é o arroz do Mercado Comum do Sul (Mercosul). Os canadenses, por exemplo, iniciaram um boicote a produtos estadunidenses, o que preocupa fabricantes e o próprio Trump. Em 2023, o Brasil exportou quase 450 mil toneladas de arroz ao México, mas não manteve o espaço.

