Em busca do equilíbrio
Capacidade de exportar será determinante para recuperar os preços
O mercado brasileiro do arroz está impactado pela alta produção alcançada na safra 2024/25 no Brasil e nos demais países parceiros do Mercado Comum do Sul (Mercosul), mas também sofre a pressão das cotações globais em função das ótimas safras e recomposição de estoques após a pandemia de covid-19 e seus reflexos com a onda da inflação global. O diagnóstico é de Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul (Farsul).
“Além da boa produção esperada, nesta safra, tivemos um clima ainda mais favorável que o previsto e o reflexo positivo das tecnologias, o que resultou em produtividade acima da expectativa. Portanto, ainda que cientes de se tratar de uma safra grande, ela ficou ainda maior”, acrescentou.
Para Antônio, a percepção é ainda mais evidente porque, em geral, o Rio Grande do Sul e o Brasil, e o próprio Mercosul, vinham de duas safras menores. “Tanto que importamos mais do que exportamos no ano passado”, comentou. O cenário atual, portanto, é de uma disponibilidade maior e de produto de boa qualidade, com os quatro países do Cone Sul comemorando os estoques que foram repostos, mas com a demanda de exportar mais do que exportaram nos últimos tempos.
E isso joga um peso ainda maior sobre o Brasil, afinal, os demais países exportam a maior parte do que colhem para o mercado brasileiro.
Essa conjuntura altera o cenário que se viveu nos últimos tempos no mercado brasileiro – e mundial – do arroz, de preços altos e disponibilidade baixa.
“Se aquelas margens não refletiam a realidade do mercado, operar abaixo do custo, como é o caso, também não é normal”, observou o economista. “Uma das máximas do capitalismo é que o preço baixo de hoje faz o preço alto de amanhã. E o preço alto de amanhã fará o preço menor depois de amanhã”, citou. Isso ocorre porque as margens mais elevadas atraem a produção, e isso faz com que aumente a oferta e as cotações se ajustem para baixo.
EQUILÍBRIO
Antônio da Luz entende que o futuro das cotações de arroz no Brasil depende, entre outros fatores, da capacidade do país em retirar o grão do seu mercado interno. “Dependerá das nossas exportações. Precisamos tirar uns dois milhões de toneladas do Brasil e torcer para que o Mercosul também tenha bom desempenho com remessas para terceiros países, o que não está fácil diante dos preços praticados na Ásia, que estão muito baixos, e uma projeção de cotações também competitivas nos Estados Unidos”, reconheceu.
A arrancada das exportações brasileiras não foi boa, e a janela de negócios se estende apenas até setembro, quando entra a nova safra norte-americana, que deverá manter cotações bastante competitivas, segundo o United States Department of Agriculture (Usda). O mesmo vale para os preços futuros da CBOT/Chicago, hoje sinalizando entre US$ 12 e US$ 13 por cwt (45,36 kg) na safra. Valores menores no próprio Mercosul mantêm o Brasil deficitário na balança comercial. A oscilação cambial não ajuda, pois atrapalha os negócios o fato de as tratativas acontecerem num dia com o dólar a R$ 5,90 e, outro dia, na casa dos R$ 5,60.
Para Antônio da Luz, a conjuntura demonstra que há necessidade de reduzir a lavoura. “Não por tendência, mas necessidade”, explicou. Ele entende que o discurso de que, se o Brasil reduzir, os outros países vizinhos crescem, não se aplica. “O grande produtor e o grande mercado somos nós. Não podemos fazer nada com a área dos outros, mas podemos fazer com a nossa. Se nós diminuímos, eles nos seguem. A dor dos preços baixos é a mesma”, afirmou.