Em SC arroz pode ser opção ao milho na alimentação de suínos
Em busca de alternativas para fugir do alto preço do milho, produtores de suínos de Santa Catarina estudam usar o arroz na composição da ração.
O grão, segundo os produtores, chegou a ser usado em 2002, quando o milho também estava em alta. A principal vantagem é o preço. Ao contrário do milho, que alcança valores extremamente elevados nesta entressafra pela forte demanda mundial pelo grão, o arroz está com o preço baixo, ainda que também seja entressafra no Sul. O cenário diferente também se dá, segundo os rizicultores, em função de estoques de arroz de anos anteriores e de importação de Argentina e Uruguai.
– O suinocultor está em busca de uma alternativa para o milho. Se conseguirmos unir os interesses, juntaríamos a fome com a vontade de comer -, afirma Wolmir de Souza, destacando que o suinocultor poderia encontrar uma opção mais barata para a ração e o rizicultor, um novo mercado.
De acordo com os rizicultores, este é o quarto ano de preços baixos para o arroz. Em Santa Catarina, a saca de 50 quilos é comercializada a R$ 21,00 hoje. Na mesma época do ano passado, era comercializada a R$ 26,00. A alternativa dos rizicultores tem sido vender ao governo, que paga preço mínimo de R$ 22,00. Mas esse valor, segundo os agricultores, não compensa os custos de produção da saca, que chegariam hoje a R$ 24,00.
Do outro lado, estão os suinocultores preocupados com o abastecimento do milho. Hoje eles se abastecem em parte com produto dos estoques do governo, que custa R$ 25,75 a saca de 60 quilos, valor considerado muito alto, e esperam ansiosos pela próxima SAFRA, que ainda é uma incógnita. No mercado em geral, os produtores têm de pagar R$ 34,00 pela saca de milho, e segundo eles, quem tem o produto para vender está segurando à espera de novas altas.
– As empresas estão estudando alternativas ao milho porque dificilmente ele voltará aos patamares que tínhamos no passado (R$ 14 ou R$ 15 a saca), mesmo com a chegada da nova SAFRA. Com a demanda dos americanos pelo grão como fonte de combustível, o milho encontrou um novo mercado -, diz Ricardo Gouvêa, diretor do Sindicarnes-SC.
Ele, contudo, diz que os estudos das agroindústrias envolvem diversos tipos de grãos e ainda não está certo que o melhor substituto para o milho seja o arroz.
O milho é o principal grão da ração dos suínos, e segundo os produtores, responde por 70% dos custos de produção do animal. O arroz, de acordo com o vice-presidente da Federação Agrícola de Santa Catarina, Enori Barbieri, já vem sendo usado por alguns produtores em parte da ração, misturado ao milho.
– Talvez o arroz não seja alternativa para a alimentação do leitão, mas para as fêmeas na maternidade -, diz Souza, falando do maior valor nutricional do milho na alimentação.
Para o produtor de suínos de São José do Cedro, Edílson Spironello, o arroz é visto como alternativa. No entanto, ele diz que ainda precisa ser bem avaliado financeiramente. Ele comenta que de uma saca de 50 quilos, ao tirar a casca, sobram cerca de 30 quilos de arroz e então duas sacas de arroz acabam fazendo o trabalho de uma saca de milho, uma conta que poderia sair mais cara, se não houver uma boa negociação de preços com os rizicultores.
Para Alberto Ranacoski, rizicultor e presidente da Câmara de Vereadores de Nova Veneza, no sul catarinense, a venda aos produtores de suínos pode ser interessante, até porque a crise do produtor de arroz não é temporária, e pode piorar.
– Em geral, nesta época do ano, o preço tinha reação. Dessa vez não teve. Com a colheita em fevereiro (SC colhe entre fevereiro e março), a redução de preço pode ser ainda maior e aí pode ser uma quebradeira geral no setor -, diz.
No entanto, ele pondera que não adianta vender arroz a R$ 21,00 e diz que para o rizicultor hoje ter algum lucro com a produção, a saca deveria estar em R$ 28,00.
O preço do milho é o principal freio para a rentabilidade da suinocultura, segmento que registra alta nas cotações atualmente em várias regiões. Em Santa Catarina, o quilo do suíno vivo para o produtor integrado à agroindústria sofreu um segundo reajuste em menos de 15 dias, e alcançou R$ 2,20 (sem a bonificação pela carcaça) na última segunda-feira, o valor mais alto desde abril de 2005.
O produtor independente já consegue ganhar R$ 3,00 pelo quilo nas vendas para São Paulo, onde encontra a maior demanda. O valor é o mais alto desde março de 2005. Pesam favoravelmente ao preço o período de festas de fim de ano e a perspectiva de maiores exportações em 2008, com a volta das vendas para a Rússia.
Desde que conseguiu o status de área livre de aftosa sem vacinação pela OIE, organização
mundial de saúde animal, SC vem recebendo missões de diversos países interessados na importação de carnes. Na semana passada, chegou ao Estado uma missão técnica da China, que segundo a Cidasc, vai avaliar a produção de bovino. Há uma semana, seis japoneses fizeram uma visita técnica para possível importação de carne suína e bovina.