Entidades buscam a criação de nova modalidade de parceria para negociar dívidas e crédito
Condições estão sendo construídas pela cadeia produtiva. Impasse sobre o endividamento e falta de crédito vai afetar a próxima safra.
As entidades representativas da cadeia produtiva do arroz estão buscando construir uma nova modalidade de parceria entre produtores e indústrias no sentido de viabilizar o financiamento da lavoura de arroz da próxima safra e, dentro do possível, equalizar as dívidas contraídas na atual temporada por perdas geradas por efeito climático. A medida é emergencial e tem o foco de reabilitar produtores com dificuldade de acesso ao crédito e/ou com inviabilidade parcial ou total de “pagar” a última safra.
O presidente da Câmara Setorial do Arroz, Daire Coutinho, que também é vice-presidente de Mercados, Armazenagem e Política Agrícola da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) explica que a ideia vem sendo construída há alguns meses em contatos entre as entidades com o objetivo de viabilizar a próxima safra e trazer um pouco mais de tranquilidade ao setor, diante das atuais dificuldades enfrentadas.
“Devemos ter sempre em mente que essa é uma operação complexa, que está sendo buscada em caráter emergencial, e que a melhor solução é ter o crédito oficial, e que todos os esforços devem continuar a ser feitos para que o produtor tenha possibilidade de voltar a essa modalidade”, acrescenta o dirigente.
Coutinho não confirma, mas produtores envolvidos no processo explicam que as entidades estão buscando uma linha de crédito especial, na qual as indústrias acessariam o valor para financiar produtores tendo a garantia de recebimento da produção, por exemplo, como num sistema integrado. A indústria garantiria o pagamento do crédito ao banco e os produtores dariam garantias de pagamento à indústria.
Com isso, muitos arrozeiros sem acesso ao crédito oficial ou que tiveram perdas na última colheita e estão devendo para fornecedores e indústrias teriam acesso a recursos para a próxima safra. Se as condições não seriam as mesmas do crédito oficial, ainda seriam melhores do que as condições de mercado, A medida viabilizaria a próxima safra, com possibilidade de pagamento de algum residual da safra passada, para quem teve perdas parciais. A ideia inicial seria manter o sistema até que parte substancial dos produtores conseguisse acessar, novamente, o crédito oficial.
Entidades e sistema financeiro estão em contato tentando construir o método de forma a dar segurança para as partes envolvidas: bancos, agricultores e indústrias.
TEMPO
Para o presidente da Câmara Setorial, Daire Coutinho, muito tempo foi perdido até agora em busca de uma solução para este impasse das perdas da lavoura arrozeira, até em função da demora nas decisões governamentais por causa da situação econômica e política do País. Tanto que as tratativas começaram com a ex-ministra Kátia Abreu, e continuam com o atual ministro Blairo Maggi. A troca de governo, processo de impeachment e os escândalos no Congresso Nacional travaram a atenção política para os problemas da agricultura e geraram uma resposta lenta à situação das quebras.
O assunto foi pauta da última reunião da Câmara Setorial e deve pautar o novo encontro, inicialmente previsto para a Expointer, mas ainda não confirmado. Daire Coutinho explica que farta documentação foi enviada pela Câmara Setorial, que é órgão consultivo do governo, formado pelos integrantes da cadeia produtiva, ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) em apoio às reivindicações dos produtores. “Da mesma forma estamos acompanhando as ações realizadas pelas entidades, com contato permanente com o Ministério e os bancos, em busca da agilização das medidas já anunciadas e a efetiva aplicação das normas”, avisa.
De qualquer maneira, Coutinho entende que é importante perceber que com todo este esforço setorial houve um aceno no sentido de ajudar aos produtores atingidos pelo El Niño, pelo MAPA, com o voto do Conselho Monetário Nacional (CMN), mediante grande esforço do setor produtivo. “As dificuldades estão na concretização dessas medidas pelo sistema financeiro e, mais uma vez, o apoio e a ação do MAPA é fundamental para que se atinja este objetivo. A Federarroz vem fazendo este esforço, com contatos diretos e se fazendo presente nas agências bancárias e associações e no Ministério para uma rápida solução dos impasses, e a Câmara Setorial tem acompanhado e apoiado estes movimentos”, explica.
Segundo ele, a busca de medidas de maior prazo é permanente. “Sabemos que a prorrogação em cinco ou seis anos atende apenas parte da necessidade, por isso não há negociações encerradas. As tratativas com o governo e o sistema financeiro são constantes”, assegura.
RISCOS
A próxima safra já está sendo comprometida pela demora em uma solução para as dívidas e renegociações dos agricultores com o sistema financeiro, a desconsideração das normas votadas pelo CMN pelos bancos de fábrica – cujos contatos foram retomados juntamente com a pressão via governo federal para adotarem o parcelamento e cessarem as execuções e inscrições em cadastros de inadimplência -, e diretamente com os fornecedores, por conta da quebra de 16% da lavoura, segundo o Irga. “O processo precisa ser agilizado. O que sentimos junto aos produtores é que as dificuldades são enormes. Alguns arrozeiros, até a safra passada, contavam com crédito oficial. Hoje, já têm dúvidas de acessá-lo”, reconhece.
Para Daire Coutinho, vice-presidente da Federarroz e presidente da Câmara Setorial Nacional do Arroz, se medidas concretas, viáveis e que proponham realmente uma solução não forem implementadas com brevidade, o reflexo na área plantada, ou na qualidade do plantio para a safra 2016/17, pode ser dado como certo.
SINUCA
A situação, segundo o dirigente, é ainda mais grave para aqueles produtores que não financiaram a safra passada pelo sistema financeiro, mas diretamente com a indústria e as empresas de insumos, e que perderam parte ou toda a lavoura de arroz e estão cheios de Células de Produtor Rural (CPRs) para quitar. “Essa é uma situação ainda mais difícil. Todas as tentativas de buscar crédito oficial para refinanciar essas dívidas foram frustrada, penso que o esforço nesse sentido não pode ser abandonado. Resta às entidades oferecerem ajuda aos produtores que requererem apoio nessas renegociações, expor esse cenário aos agentes políticos e financeiros e apoiar a busca de uma solução também nestas condições”, esclarece.
Hoje, estes agricultores estão num impasse ainda maior, pois não há nenhuma opção a não ser plantar a próxima safra, para quem for possível, e torcer para pagar duas safras com o que colher. E isso, sabemos, é improvável. Para Daire, apesar dos preços atualmente estarem acima do custo de produção, mais de 60% da safra foi vendida abaixo do custo. “Estamos na época da tomada de decisão da área a ser cultivada na próxima temporada ainda sem saber quem vai ter acesso ao crédito, como boa parte dos produtores acessarão os insumos, e, mesmo com preços alcançando um nível de remuneração, com boa parte dos agricultores sem o produto para transformar em lucro. É quase impossível que isso não traga reflexos à produção futura”, reconhece.
6 Comentários
Baita tiro no peh… Isso ja existe e vem ocorrendo de forma sistematica. Me perdoem mas se eu nao entendi mal querem que a industria avalize os produtores. Obvio que o arroz do banco tera que ser depositado na industria para que estas forneçam o devido recibo de deposito… De posse desse arroz pagaram quanto quiserem ano que vem… 30 pila… Mas vcs ainda nao viram esse final… Vao cair no conto do vigario de novo… Nao aprenderam nada nesses ultimos 20 anos??? Ou eh puro desespero??? Industria e banco nao perdem nunca… Os produtores quase sempre!!! Vamos dar nosso poder barganha… Avisei… Ano que vem se der bastante arroz… A colonada vai voltar a plantar fumo!!!
Pelo jeito a indústria está com medo de perder seus escravos (PRODUTORES). Enquanto tiver gente plantando financiado por indústria não haverá solução!
Sugiro que quem depende da indústria ,abandone a lavoura e vá trabalhar de peão ,pois vai ganhar alguma coisa,pois nessa modalidade só vai abrir mais a cova!
É isso aí amigo Caio, infelizmente nossas lideranças, as quais são bancadas por nós para defender a nossa causa estão concordando com esse absurdo, precisamos descobrir a mando de quem e para quem estas entidades estão trabalhando? Mais uma vez prova o porquê da falência da lavoura arrozeira. Se não houver um reconhecimento por parte do governo para uma nova securitização para socorrer os arrozeiros ano que vem não haverá arroz na prateleira e aí iremos ver a que preço ele vai estar disponível nos mercados exteriores, dinheiro quem está precisando é o produtor pois é ele quem produz e se dedica a lavoura!
Refletindo um pouco mais ,fiquei pensando. Se a quebra de safra foi somente de 16% imagino que nós produtores não estejamos tão descapitalizados para indústria ficar preocupada com a implantação da próxima safra!
Excelente negócio para indústria, pagamos a conta a 40,00 como no início da safra este ano e depois o arroz vai a 60 quando já não temos mais
O produtor já não paga a conta que esta em seu nome, imagina se estiver em nome da industria….. ESSE É O BRASIL !!!!