Espécies selvagens serão utilizadas no melhoramento genético do arroz

As espécies silvestres serão incorporadas ao banco de germoplasma da Embrapa.

O arroz selvagem, encontrado nas várzeas e no cerrado de Roraima, pode contribuir para as pesquisas de melhoramento genético das variedades comerciais de arroz que vão para a mesa do brasileiro. A Embrapa desenvolve pesquisas nesse sentido e está realizando uma expedição para coleta de arroz silvestre e de variedades crioulas nas regiões de cerrado e várzea, visando a utilização em pesquisas. A expedição percorre as áreas rurais dos municípios de Roraima, incluindo a Estação Ecológica da Ilha de Maracá e o Parque Nacional do Viruá, encerrando no dia 9 de setembro.

A expedição vai coletar amostras das quatro espécies silvestres existentes no Brasil – Oryza glumaepatula, Oryza latifolia, Oryza alta e Oryza grandeglumes – para conservação dos recursos genéticos que, posteriormente, serão utilizados no melhoramento de arroz. Também serão coletadas variedades crioulas, cultivadas por agricultores familiares.

Tanto as crioulas quanto as silvestres possuem características desejáveis que, a partir da pesquisa, poderão ser incorporadas no melhoramento das variedades comerciais de arroz.

As espécies silvestres, popularmente conhecidas como arroz selvagem, arroz nativo ou arroz de pato, são aquelas que se desenvolvem naturalmente no meio ambiente e não passaram por um processo de domesticação. O pesquisador da Embrapa Roraima, Paulo Emílio Kaminski, explica que uma espécie silvestre pode apresentar grande distribuição geográfica, como a espécie Oryza glumaepatula, existente em todo o Brasil, ou ocorrer em uma área restrita de uma região, como a Oryza latifolia que possui uma distribuição restrita à região Norte do Brasil.

As variedades crioulas são resultantes de migrações, pois quando os agricultores migram geralmente levam sementes para reproduzir seus cultivos em outras regiões e isso pode gerar materiais com novas características quando cultivada em pequenos locais, em condições de solo e clima diferentes da área original.

O pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, Paulo Hideo Rangel, afirma que as variedades crioulas são importantes para a pesquisa, porque passaram por um processo de seleção e adaptação às condições locais. Esses materiais poderão ser cruzados para gerar resistência, por exemplo, à “brusone do arroz”, que é uma das principais doenças dessa cultura.

Quanto às espécies silvestres, Rangel informa que serão verificados se existem genes exóticos que expliquem como as plantas se desenvolvem em solos pobres. Segundo o pesquisador, essas espécies podem apresentar genes que permitem a tolerância a determinados nutrientes como o alto teor de alumínio e ferro de alguns solos. Se esses genes forem incorporados às variedades comerciais poderão trazer melhores resultados para a agricultura.

Os resultados desse trabalho, além de serem úteis para o programa de melhoramento de arroz da Embrapa, poderão servir para futuros programas de conservação dos recursos genéticos no estado de Roraima.

Rangel justifica que a expedição está sendo realizada em Roraima porque o estado tem biomas totalmente diferentes de outras regiões do Brasil e, por suas características de clima e solo, diferencia-se até mesmo de outras regiões de cerrado. Outras regiões com características interessantes para a pesquisa também serão alvo de coleta. Esse trabalho faz parte do projeto “Identificação, Coleta, Mapeamento e Conservação de Variedades Tradicionais e Espécies Silvestres de Arroz no Brasil”, que integra o projeto Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira – Probio, financiado pelo Ministério do Meio Ambiente.

Participam do projeto a Embrapa Roraima, Boa Vista (RR), e a Embrapa Arroz e Feijão, de Goiânia (GO), ambas unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Também participam a Secretaria de Agricultura e do Órgão Ambiental Naturatins, ambos do Estado de Tocantins. A expedição em Roraima conta com o apoio da unidade local do Ibama.

Conservação Genética – Diante do risco de desaparecerem do meio ambiente e pela sua importância na pesquisa de melhoramento, as espécies silvestres serão incorporadas ao banco de germoplasma da Embrapa, para conservação e caracterização de recursos genéticos. Pesquisas anteriores da Embrapa, nos últimos nove anos, já resultaram em 35 linhagens de arroz, desenvolvidas a partir de coletas nos estados de Ceará, Paraíba, Tocantins, Goiás e Roraima.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter