“Este é um momento histórico para a recuperação do Irga”
Rodrigo Warlet Machado, 49 anos, produtor rural, assumiu a presidência do Irga com a missão de capitanear a transição para um novo modelo administrativo e econômico e revitalizar a instituição que tenta escapar da sua mais grave crise. Filho do ex-secretário da Agricultura e Pecuária do Estado, João Carlos Machado, e ex-assessor da secretária Silvana Covatti, Rodrigo revela por quais motivos assumiu o instituto, elenca seus desafios e diz que instituto pretende deixar ao fim da gestão de sua diretoria.
Planeta Arroz – Como o senhor se tornou presidente?
Rodrigo Machado – “Após muitos anos trabalhando na agricultura e na prestação de serviços à agricultura em função da minha relação com a política, tornei-me assessor na Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural. A secretária Silvana Covatti viu em mim qualidades que julgou necessárias, fez o convite e, depois de pensar bastante e conversar com pessoas do setor e me aconselhar, resolvi aceitar”.
Planeta Arroz – O vê como um grande desafio?
Rodrigo Machado – “É um desafio e uma responsabilidade, mas também uma honra ser lembrado num momento difícil, mas com perspectivas muito boas de superarmos obstáculos. Isso contou pra eu aceitar. A história do arroz irrigado e do Irga se confundem pela grandeza da instituição e os serviços prestados à sociedade, à lavoura por nossas pesquisa e extensão”.
Planeta Arroz – Por qual motivo há uma boa perspectiva?
Rodrigo Machado – “Bem, os problemas são de conhecimento público e, em especial, da lavoura e dos servidores, que sentem o impacto direto. Mas, neste momento, o Irga tornou-se a menina dos olhos do governo. Todo mundo quer recuperar o Irga: produtores, servidores, conselheiros, diretoria, secretários de governo e o próprio governador. A sociedade reconhece a importância do instituto. O governador assumiu compromisso e já prevê no orçamento do Estado, encaminhado à Assembleia Legislativa, o repasse integral da CDO. Agora vamos tratar de recuperar o tempo perdido”.
Planeta Arroz – Em um mandato de cerca de um ano, dá para recuperar?
Rodrigo Machado – “Sabemos disso, os diretores, eu, os servidores, os secretários, os conselheiros. Por isso, o nosso papel é fundamental no ajuste dos processos, atacando pontos vitais para o bom funcionamento do instituto e entregar a autarquia que a comunidade arrozeira espera receber”.
Planeta Arroz – Quais são os principais desafios?
Rodrigo Machado – “É importante frisar que o Irga nunca parou. Apesar das dificuldades, servidores, diretores, conselheiros e a comunidade arrozeira trabalharam muito atendendo às demandas da lavoura e num diagnóstico no qual foram apontados 25 pontos prioritários para resolver. Trabalhamos em sintonia com áreas estratégicas do governo para encontrar soluções e cada ponto está sendo trabalhado. Neste momento, a diretoria atua um pouco como bombeiro para apagar incêndios e também como engenheiro para construir o processo de recuperação”.
Planeta Arroz – Quais problemas históricos são prioridade?
Rodrigo Machado – “A Barragem do Capané e a Granja Vargas. Temos sugestões debatidas com o conselho e os envolvidos e esperamos que esses processos andem. Nossa prioridade está sendo ouvir produtores, conselheiros e servidores lá em suas bases, com franqueza, reunindo sugestões e críticas. Isso soma para que possamos melhorar a governança, agilizar processos internos, torná-los mais eficientes e eficazes. Para isso se transformar em pesquisa de campo e retornar à lavoura pela extensão, que, afinal de contas, é o papel do instituto. A questão salarial dos servidores, sem reajuste desde 2014, é outro ponto a ser resolvido. Há uma distorção com evidente prejuízo à sociedade. Queremos uma solução definitiva no primeiro trimestre de 2022”.
Planeta Arroz – Quando haverá o reajuste?
Rodrigo Machado – “A legislação impede realinhamento salarial até 31 de dezembro. Mas, isso não quer dizer que a proposta tenha que esperar até lá. Estaremos prontos para que o Executivo envie à Assembleia Legislativa para que a proposta seja avaliada no início do ano e tenha uma solução quanto ao realinhamento, progressões e gratificações por produtividade. E também concurso público para suprir 85 vagas. Esperamos até o dia 30 de março ter um novo cenário neste aspecto. Temos um respaldo fantástico.
Planeta Arroz – Os problemas não se resumem à restrição orçamentária?
Rodrigo Machado – Não. Sem dúvida é um grande problema, mas com o passar do tempo houve um engessamento dos processos e muita coisa, como Granja Vargas, Capané, convênios, foram sendo empurrados, sem solução. Não é uma crítica ao passado, são fatos de conhecimento público e da cadeia produtiva. Essa falta de resolução tornou-se uma bola de neve de problemas que afeta o funcionamento do instituto e à própria lavoura. A integralidade do repasse da CDO vai ajudar muito, mas não é a solução de tudo. Temos que mexer na estrutura dos processos, desburocratizar, modernizar as rotinas para que as coisas andem num ritmo condizente com a demanda da sociedade.
Planeta Arroz – Então, não é só a questão funcional que está em jogo?
Rodrigo Machado – Não, é praticamente tudo. É a estrutura que precisa ser aperfeiçoada. Por isso é importante termos o apoio da Secretaria da Agricultura, da Procuradoria Geral do Estado e da Casa Civil, pois é preciso uma boa gestão política das demandas também. Internamente estamos analisando o organograma interno para aumentar e intensificar o fluxo administrativo, inclusive com o apoio do secretário Cláudio Gastal do Planejamento Governança e Gestão. A Escola de Desenvolvimento de Projetos da SPGG está realizando cursos e workshops com nosso quadro, em especial os chefes de divisões e setores, para modernizar e agilizar as rotinas. Também elaboramos um plano de metas por diretoria para consolidar os pilares das ações do instituto, mais ou menos no sentido do que foi o Programa Arroz/RS.
Planeta Arroz – De que forma a crise do Irga foi sentida na lavoura?
Rodrigo Machado – Em termos de tecnologia nossa lavoura está a frente de boa parte do mundo, mas é indiscutível que há um preço a pagar se não recuperarmos o tempo perdido. Contratos estão sendo atualizados, como o viveiro de brusone, o Cepea e os royalties da BASF. Mas, há outros em debate como a geração de inverno, o FLAR, entre outros. Destravar contratos depende de avaliação aprofundada quanto às amarras legais, revisões técnicas, avaliação de resultados, dimensão da contrapartida e da própria demanda dos setores do Irga.
Planeta Arroz – Então, virão investimentos?
Rodrigo Machado – O Irga está investindo, ainda que dentro das limitações. Realizou o aditivo do projeto da Barragem do Capané, a obra do dreno que custou R$ 3,9 milhões, adquiriu 10 trilhadeiras, 10 camionetas e 10 carros populares, entre outros equipamentos para atender à demanda da Estação e do interior em investimento de R$ 3 milhões. Também está em andamento o processo de cabeamento da rede lógica da Estação Experimental por fibra ótica que vai custar mais de R$ 300 mil. Parte recursos da CDO, parte de royalties.
Planeta Arroz – Então o Irga tem solução?
Rodrigo Machado – Sim, mas solução que precisa ser amparada por muitas mãos, baseada na convergência, na serenidade, na ação e em eliminar focos de desgaste e harmonizar as relações internas e externas. Temos uma oportunidade histórica, pelo próprio contexto que se criou. A lavoura quer uma solução, os conselheiros, a diretoria, o governo, a sociedade e os servidores, então, nem se fala. Há muito tempo não se reuniam condições tão propícias e favoráveis ao instituto e não podemos perder esse momento. Daí a importância de ter cada passo planejado, estruturado e consciente.
Planeta Arroz – Que Irga o senhor espera deixar ao sucessor?
Rodrigo Machado – Organizado em seus processos, sua governança, com boa parte dos problemas históricos resolvidos ou em processo de solução, mais justo em relação aos servidores, melhor estruturado e capaz de financiar projetos importantes para que pesquisa, extensão e a sua área comercial entreguem à sociedade aquilo que ela espera do instituto.