Estoques baixos mantêm preços do arroz firmes

 Estoques baixos mantêm preços do arroz firmes

(Por Patrícia Feiten, Correio do Povo) Após sinalizarem um recuo no início deste mês, os preços do arroz voltaram a subir e tendem a continuar firmes pelo menos até o avanço da colheita no país, acredita o analista Evandro Oliveira, da consultoria Safras & Mercado. Segundo o especialista, os estoques apertados do cereal são o fator que mais contribui para essa valorização, e a nova temporada comercial da commodity deve ter início em março frente a um volume em torno de 700 mil toneladas, o suficiente para garantir apenas um mês de operação das indústrias beneficiadoras.

Na quarta-feira (17), o indicador do arroz em casca CEPEA/IRGA-RS, divulgado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), fechou a R$ 128,88 a saca de 50 quilos, o que reflete um aumento de 0,75% ante o dia anterior e de 1,64% no mês. No dia 9 de janeiro, a cotação do produto havia atingido R$ 131,11 por saca, um recorde nominal na série do levantamento. “Algumas empresas, gradualmente retornando dos recessos (de fim de ano), tiveram uma postura mais compradora, isso mexeu com o mercado”, explica Oliveira.

O mercado também opera com viés de alta, influenciado pela estimativa de queda de até 5 milhões de toneladas na produção da China anunciada no último relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês). O país asiático é um dos maiores importadores mundiais do cereal. “Com isso, a produção global já recuou de aproximadamente 518 milhões de toneladas de arroz beneficiado para 513 milhões de toneladas. O mundo continua dando sinais de que precisa de mais arroz”, destaca o consultor.

O avanço das cotações, porém, poderá ser freado pelo comportamento do consumo. “Os preços estão atingindo o pico. Os compradores (indústrias e varejo) têm muita dificuldade de repasse desses ajustes da matéria-prima para o consumidor, já sabendo que as vendas estão caindo desde meados de outubro”, pondera Oliveira. Outro elemento que pesará na formação de preços, segundo o consultor, é a necessidade de venda dos estoques para o pagamento de despesas de custeio da lavoura no próximo mês. “O pessoal já aproveitou o bom momento. A tendência é de que os vendedores estejam mais presentes no mercado. Já começamos a ver uma estabilidade, então este momento é muita cautela tanto de vendedores quanto de compradores”, afirma Oliveira.

Embora ainda considere prematura uma avaliação do impacto do excesso de chuvas na produtividade esperada para a cultura no ciclo 2023/2024, Oliveira diz que o mercado trabalha com expectativa de queda. “O El Niño castigou as lavouras gaúchas, ainda não se sabe o tamanho dos estragos. Projeções apontam para uma safra nacional de 10,7 milhões de toneladas, mas começamos a acreditar que é um número muito otimista. A safra gaúcha, com sorte, pode chegar até 7,3 milhões de toneladas”, estima.

Para Oliveira, 2024 deverá ser um ano histórico para o mercado de arroz, trazendo perspectivas de reinvestimento nas lavouras por parte dos produtores. “No Litoral Norte gaúcho, o arroz de boa qualidade ainda é comercializado a R$ 142 por saca. O arroz segue mais caro que a soja”, observa. Nesse cenário, o analista projeta que os orizicultores iniciem a colheita do cereal com pelo menos 10% de margem positiva. “O custo total de produção do arroz está em torno de R$ 98 por saca, e o produtor tem grandes chances de começar a colher entre R$ 105 a R$ 110. Vai ser um ano muito importante, em que o produtor surge como formador de preço, e não tomador de preço”, avalia Oliveira.

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